domingo, 17 de abril de 2011

Leigos: "gigante adormecido" da Igreja

Entrevista com o professor Luis Navarro ROMA, quinta-feira, 14 de abril de 2011 (ZENIT.org) - O futuro da Igreja depende de um despertar de seu "gigante adormecido", os leigos, segundo constatou um congresso organizado entre 7 e 8 de abril, em Roma, pela Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, com o título "O fiel leigo: realidade e perspectiva". Neste contexto, ZENIT entrevistou o decano desta faculdade e presidente do comitê organizador do encontro, professor Luis Navarro. Por que um congresso sobre os leigos? Professor Luis Navarro: Como em muitos lugares, torna-se evidente o impulso do Concílio Vaticano II sobre o papel dos leigos como fiéis envolvidos na realidade secular, chamados à santidade e partícipes da missão da Igreja em primeira pessoa, para revitalizar um mundo que está em um beco sem saída. Novamente se atualiza a expressão de um padre sinodal sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, que definia o conjunto dos leigos como um "gigante adormecido". Trata-se, sem ir mais longe, de mais de 95% do povo de Deus, inúmeras pessoas batizadas que vivem diferentes graus de pertença e de adesão, de participação e corresponsabilidade na vida da Igreja. São, hoje, mais de 100 milhões, 17% da população mundial. É um número impressionante e, apesar disso, é evidente que há um longo caminho a percorrer para levar a cumprimento a vocação dos cristãos em meio aos seus concidadãos ao redor do mundo. É possível, portanto, fiar-se dos leigos? Podemos, inclusive, confiar neles para que levem adiante a missão da Igreja? Professor Luis Navarro: A pergunta é complicada, porque pressupõe que alguém (não leigo) pede responsabilidades a outros; alguém que é o "verdadeiro responsável", que confia aos leigos uma determinada tarefa. Esta não é a perspectiva do Concílio. Nas mudanças na teologia dos leigos, que foram discutidas no nosso congresso, certamente foi difícil superar esquemas desse tipo, com o resultado de que se suavizou o sentido da missão dos leigos. O Concílio Vaticano II não fez uma escolha política ou sociológica, e sim afirmou uma percepção teológica do que é o leigo e a que está chamado: um batizado que segue Cristo a partir da sua vocação humana, cheia de responsabilidades e desafios seculares que constituem o lugar onde se imita o Senhor e onde se convida os outros a segui-lo. Como se pode conciliar esta responsabilidade pessoal com a variedade de novas realidades ou movimentos e grupos que se dirigem aos leigos? Um leigo que não pertence a estas realidades pode levar à plenitude o seu "ser "leigo"? Professor Luis Navarro: O interesse do nosso congresso também se concentrou em ouvir os representantes de algumas destas realidades, porque o seu carisma de origem faz referência à condição batismal como tal. A riqueza que essas realidades trouxeram à Igreja deve ser retomada em sua raiz, isto é, o fato puro e simples de que ser batizado traz uma grande alegria e também uma grande responsabilidade. Além disso, eu acrescentaria, do ponto de vista jurídico, que estas realidades também trouxeram expressões de criatividade em um nível organizacional, que devem ser estudadas, porque têm transformado alguns padrões que pareciam imutáveis. Do leigo se fala em todos os lugares e, por vezes, de forma repetitiva. Será que o discurso eclesial está um pouco desgastado e que talvez seja preciso refletir diretamente sobre as necessidades da sociedade no mundo? Professor Luis Navarro: Sua pergunta atinge o alvo se estiver fazendo referência ao fato de que o leigo tem, como interesse primário, e precisamente pela força da sua vocação, que deve ao mesmo tempo encontrar e transmitir Cristo na vida diária e nas aspirações de um mundo mais justo. Seria errado supor que isso pode ser assumido à margem da Revelação cristã e, portanto, da sua expressão no magistério, especialmente na área social: o grande desafio é que os leigos o façam em primeira pessoa, a partir da própria responsabilidade entre os homens, cidadãos como eles. Portanto, estamos confiantes de que do congresso surgirá a ideia de que, para "configurar" o mundo de acordo com a verdade cristã, o leigo deve, antes de tudo, "formar" a própria consciência, para agir em plena liberdade e com plena iniciativa. O núcleo é a ação livre dos fiéis leigos. Um leigo bem formado e consciente dos seus próprios deveres na sociedade é "luz para o mundo".

sexta-feira, 8 de abril de 2011

200 milhões de cristãos são perseguidos no mundo

Apresentado o Relatório sobre a Liberdade Religiosa da AIS MADRI, quarta-feira, 24 de novembro de 2010.


O Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2010, que a organização católica Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) apresenta bianualmente, revela que o número de cristãos perseguidos é de 200 milhões. Outros 150 milhões são descriminados por sua religião. O relatório indica que na Europa os católicos não são perseguidos, mas sofrem bullying. A versão espanhola do relatório da organização católica foi apresentada ontem em Madri. Desde o relatório anterior a situação não melhorou, de acordo com AIS, organização que ajuda cristãos em todo o mundo em projetos de apoio às igrejas locais como bolsas para sacerdotes, construção de igrejas, tradução de livros, etc. A organização indica que a crescente tendência à perseguição e discriminação por motivos religiosos deve-se tanto à radicalização do mundo islâmico quanto à chamada "cristianofobia" e à facilidade com que se ridiculariza a Igreja em alguns países desenvolvidos. Na apresentação do relatório, Javier Menéndez Ros, diretor da AIS na Espanha, e o missionário salesiano no Paquistão Miguel Ángel Ruiz, citaram o que Bento XVI disse na véspera da beatificação do cardeal John Newman: "No tempo de hoje, o preço a pagar pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado ou esquartejado, mas sim frequentemente significa ser excluído, ridicularizado, objeto de piada". A fé cristã é a mais difundida e também a mais perseguida. Como explicou Javier Menéndez, o número total é similar ao do relatório de dois anos atrás, ainda que os pesquisadores que participaram este ano do trabalho asseguram que a situação piorou para os cristãos. O relatório analisa 194 países, com problemas em cerca de noventa, entre eles vários dos países mais populosos do mundo: China, Índia, Indonésia, Rússia e Paquistão. A piora da situação, segundo salienta Menéndez, deve-se especialmente a uma maior radicalização no âmbito muçulmano, com maior fanatismo, intolerâncias e abusos a praticantes de outras religiões. Os países onde se produzem as maiores violações à liberdade religiosa são Arábia Saudita, Bangladesh, Egito, Índia, China, Uzbequistão, Eritreia, Nigéria, Vietnã, Iêmen e Coreia do Norte. Menéndez salientou que "onde não existe liberdade religiosa não existe a liberdade democrática", e sublinhou "a obrigação de qualquer ser humano de respeitar o direito ao culto, a evangelizar e a viver de acordo com sua fé". No Egito, vige uma lei de liberdade religiosa, mas os cristãos sofrem discriminações e ataques, permitidos, segundo AIS, pelo governo de Hosni Mubarak. O missionário salesiano Miguel Ángel Ruiz descreveu a situação no Paquistão. Ele explica que o terrorismo islâmico não afeta somente os cristãos, mas "todos que não pensam como os fundamentalistas". "Se o terrorismo se centrasse somente nos cristãos, estaríamos muito pior agora", afirmou. Padre Ruiz considera que a perseguição só não é mais acirrada porque os meios de comunicação dão muita atenção aos ataques. Em sua opinião, tanto Estados Unidos como Europa têm falhado muito: "Se a Europa, e especialmente a Espanha, não desperta, continuamos mal", disse.