domingo, 30 de maio de 2010

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA - LUMEN GENTIUM

CAPÍTULO I

O MISTÉRIO DA IGREJA

Objecto da Constituição: a Igreja como sacramento

1. A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15). Mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do nosso tempo tornam ainda mais urgentes este dever da Igreja, para que deste modo os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo.

A vontade salvífica do Pai

2. O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor «que é a imagem de Deus invisível, primogénito de toda a criação» (Col. 1,15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os «discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Rom. 8,29). E, aos que crêem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiràvelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança(1), foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito» (2), se reunirão em Igreja universal junto do Pai.

Missão e obra do Filho: fundação da Igreja

3. Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que n'Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos predestinou para sermos seus filhos de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele todas as coisas (cfr. Ef. 1, 4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim» (Jo. 12,32 gr.). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1 Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cfr. 1 Cor. 10,17). Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos.

O Espírito santificador e vivificador da Igreja

4. Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na terra (cfr. Jo. 17,4), foi enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e deste modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito (cfr. Ef. 2,18). Ele é o Espírito de vida, ou a fonte de água que jorra para a vida eterna (cfr. Jo. 4,14; 7, 38-39); por quem o Pai vivifica os homens mortos pelo pecado, até que ressuscite em Cristo os seus corpos mortais (cfr. Rom. 8, 10-11). O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adopção de filhos (cfr. Gál. 4,6; Rom. 8, 15-16. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cfr. Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o seu Esposo (3). Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem» (cfr. Apoc. 22,17)!
Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo (4).

O Reino de Deus

5. O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras: «cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo» (Mc. 1,15; cfr. Mt. 4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo. A palavra do Senhor compara-se à semente lançada ao campo (Mc. 4,14): aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno rebanho de Cristo (Luc. 12,32), já receberam o Reino; depois, por força própria, a semente germina e cresce até ao tempo da messe (cfr. Mc. 4, 26-29). Também os milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o Reino: «Se lanço fora os demónios com o poder de Deus, é que chegou a vós o Reino de Deus» (Luc. 11,20; cfr. Mt. 12,28). Mas este Reino manifesta-se sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem, que veio «para servir e dar a sua vida em redenção por muitos» (Mt. 10,45).
E quando Jesus, tendo sofrido pelos homens a morte da cruz, ressuscitou, apareceu como Senhor e Cristo e sacerdote eterno (cfr. Act. 2,36; Hebr. 5,6; 7, 17-21) e derramou sobre os discípulos o Espírito prometido pelo Pai (cfr. Act. 2,33). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória.

As figuras da Igreja

6. Assim como, no Antigo Testamento, a revelação do Reino é muitas vezes apresentada em imagens, também agora a natureza íntima da Igreja nos é dada a conhecer por diversas imagens tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e matrimónio, imagens que já se esboçam nos livros dos Profetas.
Assim a Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo (Jo. 10, 1-10). E também o rebanho do qual o próprio Deus predisse que seria o pastor (cfr. Is. 40,11; Ez. 34,11 ss.), e cujas ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são contudo guiadas e alimentadas sem cessar pelo próprio Cristo, bom pastor e príncipe dos pastores (cfr. Jo. 10,11; 1 Ped. 5,4), o qual deu a vida pelas suas ovelhas (cfr. Jo. 10, 11-15).
A Igreja é a agricultura ou o campo de Deus (1 Cor. 3,9). Nesse campo cresce a oliveira antiga de que os patriarcas foram a raiz santa e na qual se realizou e realizará a reconciliação de judeus e gentios (Rom. 11, 13-26). Ela foi plantada pelo celeste agricultor como uma vinha eleita (Mt. 21, 33-43 par.; Is. 5,1 ss.). A verdadeira videira é Cristo que dá vida e fecundidade aos sarmentos, isto é, a nós que pela Igreja permanecemos n'Ele, sem o qual nada podemos fazer (Jo. 15, 1-5).
A Igreja é também muitas vezes chamada construção de Deus (1 Cor. 3,9). O próprio Senhor se comparou à pedra que os construtores rejeitaram e se tornou pedra angular (Mt. 21,42 par.; Act. 4,11; 1 Ped. 2,7; Salm. 117,22). Sobre esse fundamento é a Igreja construída pelos Apóstolos (cfr. 1 Cor. 3,11), e d'Ele recebe firmeza e coesão. Esta construção recebe vários nomes: casa de Deus (1 Tim. 3,15), na qual habita a Sua «família»; habitação de Deus no Espírito (cfr. Ef. 2, 19-22); tabernáculo de Deus com os homens (Apoc. 21,3); e sobretudo «templo» santo, o qual, representado pelos santuários de pedra e louvado pelos Santos Padres, é com razão comparado, na Liturgia, à cidade santa, a nova Jerusalém (5). Nela, com efeito, somos edificados cá na terra como pedras vivas (cfr. 1 Ped. 2,5). Esta cidade, S. João contemplou-a «descendo do céu, de Deus, na renovação do mundo, como esposa adornada para ir ao encontro do esposo» (Apoc. 21,1 ss.).
A Igreja, chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe» (Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é também descrita como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2. 9; 22,17), a qual Cristo gamou e por quem Se entregou, para a santificar» (Ef. 5, 25-26), uniu a Si por um indissolúvel vínculo, e sem cessar «alimenta e conserva» (Ef. 5,29), a qual, purificada, quis unida a Si e submissa no amor e fidelidade (cfr. Ef. 5,24), cumulando-a, por fim, eternamente, de bens celestes; para que entendamos o amor de Deus e de Cristo por nós, o qual ultrapassa toda a compreensão (cfr. Ef. 3,19). Enquanto, na terra, a Igreja peregrina longe do Senhor (cfr. 2 Cor. 5,6), tem-se por exilada, buscando e saboreando as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e onde a vida da Igreja está escondida com Cristo em Deus, até que apareça com seu esposo na glória (Cfr. Col. 3, 1-4).

A Igreja, Corpo místico de Cristo

7. O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2 Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo.
É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde nos que crêem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos, a Cristo padecente e glorioso(6). Com efeito, pelo Baptismo somos assimilados a Cristo; «todos nós fomos baptizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo» (1 Cor. 12,13). Por este rito sagrado é representada e realizada a união com a morte e ressurreição de Cristo: ; «fomos sepultados, pois, com Ele, por meio do Baptismo, na morte»; se, porém, ; «nos tornámos com Ele um mesmo ser orgânico por morte semelhante à Sua, por semelhante ressurreição o seremos também (Rom. 6, 4-5). Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós. ; «Porque há um só pão, nós, que somos muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão» (1 Cor. 10,17). E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo (cfr. 1 Cor. 12,27), sendo individualmente membros uns dos outros» (Rom. 12,5).
E assim como todos os membros do corpo humano, apesar de serem muitos, formam no entanto um só corpo, assim também os fiéis em Cristo (cfr. 1 Cor. 12,12). Também na edificação do Corpo de Cristo existe diversidade de membros e de funções. É um mesmo Espírito que distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da Igreja (cfr. 1 Cor. 12, 1-11). Entre estes dons, sobressai a graça dos Apóstolos, a cuja autoridade o mesmo Espírito submeteu também os carismáticos (cfr 1 Cor. 14). O mesmo Espírito, unificando o corpo por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis. Daí que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum membro recebe honras, todos se, alegram (cfr. 1 Cor. 12,26).
A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas todas as coisas. Ele existe antes de todas as coisas e todas n'Ele subsistem. Ele é a cabeça do corpo que a Igreja é. É o princípio, o primogénito de entre os mortos, de modo que em todas as coisas tenha o primado (cfr. Col. 1, 15-18). Pela grandeza do Seu poder domina em todas as coisas celestes e terrestres e, devido à Sua supereminente perfeição e acção, enche todo o corpo das riquezas da Sua glória (cfr. Ef. 1, 18-23) (7).
Todos os membros se devem conformar com Ele, até que Cristo se forme neles (cfr. Gál. 4,19). Por isso, somos assumidos nos mistérios da Sua vida, configurados com Ele, com Ele mortos e ressuscitados, até que reinemos com Ele (cfr. Fil. 3,21; 2 Tim. 2,11; Ef. 2,6; Col. 2,12; etc.). Ainda peregrinos na terra, seguindo as Suas pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos nos seus sofrimentos como o corpo à cabeça, sofrendo com Ele, para com Ele sermos glorificados (cfr. Rom. 8,17).
É por Ele que «o corpo inteiro, alimentado e coeso em suas junturas e ligamentos, se desenvolve com o crescimento dado por Deus» (Col. 2,19). Ele mesmo distribui continuamente, no Seu corpo que é a Igreja, os dons dos diversos ministérios, com os quais, graças ao Seu poder, nos prestamos mutuamente serviços em ordem à salvação, de maneira que, professando a verdade na caridade, cresçamos em tudo para Aquele que é a nossa cabeça (cfr. Ef. 4, 11-16 gr.).
E para que sem cessar nos renovemos n'Ele (cfr. Ef. 4,23), deu-nos do Seu Espírito, o qual, sendo um e o mesmo na cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro, a ponto de os Santos Padres compararem a Sua acção à que o princípio vital, ou alma, desempenha no corpo humano(8).
Cristo ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como o próprio corpo (cfr. Ef. 5, 25-28); e a Igreja, por sua vez, é sujeita à sua cabeça (ib. 23-24). «Porque n'Ele habita corporalmente toda a plenitude da natureza divina» (Col. 2,9), enche a Igreja, que é o Seu corpo e plenitude, com os dons divinos (cfr. Ef. 1, 22-23), para que ela se dilate e alcance a plenitude de Deus (cfr. Ef. 3,19).

A Igreja, sociedade visível e espiritual

8. Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça (9). Porém, a sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino (10). Apresenta por esta razão uma grande analogia com ó mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza assumida serve ao Verbo divino de instrumento vivo de salvação, a Ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para o crescimento do corpo (cfr. Ef. 4,16) (11).
Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica (12); depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cfr. Mt. 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da verdade» (I Tim. 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como sociedade, é na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele (13), que se encontra, embora, fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica.
Mas, assim como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho para comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo Jesus «que era de condição divina... despojou-se de si próprio tomando a condição de escravo (Fil. 2, 6-7) e por nós, «sendo rico, fez-se pobre» (2 Cor. 8,9): assim também a Igreja, embora necessite dos meios humanos para o prosseguimento da sua missão, não foi constituída para alcançar a glória terrestre, mas para divulgar a humildade e abnegação, também com o seu exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai « a evangelizar os pobres... a sarar os contritos de coração» (Luc. 4,18), «a procurar e salvar o que perecera» (Luc. 19,10). De igual modo, a Igreja abraça com amor todos os afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades, e intenta servir neles a Cristo. Enquanto Cristo «santo, inocente, imaculado» (Hebr. 7,26), não conheceu o pecado (cfr. 2 Cor. 5,21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (Hebr. 2,17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação.
A Igreja «prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus» (14), anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cfr. Cor. 11,26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz
Continua.......

sábado, 29 de maio de 2010

A Santíssima Trindade – Parte I

Conta-se que Santo Agostinho andava em uma praia meditando sobre o mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas...

Enquanto caminhava, observou um menino que portava uma pequena tigela com água. A criança ia até o mar, trazia a água e derramava dentro de um pequeno buraco que havia feito.
Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia.
O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: -"estou querendo colocar a água do mar neste buraco".
Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: -"mas você não percebe que é impossível?".
Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: "ora, é mais fácil a água do mar caber nesse pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!". E continuou: "Quem fita o sol, deslumbra-se e quem persistisse em fitá-lo, cegaria. Assim sucede com os mistérios da religião: quem pretende compreendê-los deslumbra-se e quem se obstinasse em os perscrutar perderia totalmente a fé" (Sto. Agost).

Só poderíamos compreender perfeitamente a Santíssima Trindade se nós fossemos 'deus'.
Podemos, contudo, por meio da razão iluminada pela fé, chegar a um conhecimento muito útil dos mistérios, considerando certas analogias da natureza. Citemos algumas: o raio branco de luz, sendo apenas um, pode ser decomposto em vermelho, amarelo e azul; a ametista brilha de três cores diferentes, segundo o lado em que se observa: é purpúrea, violeta e rósea, sem ser mais do que uma pedra. O fogo queima, ilumina e aquece, sendo apenas fogo, etc.
Bem, a Santíssima Trindade é superior à capacidade humana de entendimento, mas não contraria a razão. Dizer que existe "um Deus em três pessoas" é superior à capacidade de compreensão humana, mas não é o mesmo que dizer que é "um Deus em três deuses", que seria contrariar a razão humana.
Ou seja, o mistério é conhecido, mas não é compreendido em sua totalidade.
Sabendo disso, a Igreja aconselha muita cautela na busca de conhecer certos mistérios superiores à nossa compreensão, conforme ensina o Catecismo Romano, transcrevendo a Bíblia: "Quem quer sondar a majestade, será oprimido pelo peso de sua glória" (Prov. 25, 27).

O Conhecimento através da Revelação

Portanto, a Santíssima Trindade só é conhecida através da Revelação, através das palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que era Deus e Homem verdadeiro.
Disse Nosso Senhor: "Ensinai todas as gentes, e batizai-as em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28, 19). Na sua última prece, o Salvador pede que seus discípulos sejam um como seu Pai e Ele não são mais que um (S. Jo., 17, 21). Também afirma: "Meu Pai e eu somos um" (Jo., 10, 30), deixando clara a unidade de natureza entre o Pai e o Filho.
Em diversas passagens, os apóstolos reconhecem Nosso Senhor como "Filho de Deus", que prometeu enviar o "Espírito Santo" sobre eles, que ressuscitou dos mortos ao terceiro dia pelo seu próprio poder, etc.
Na promessa de enviar o Espírito Santo, Nosso Senhor, antes de se elevar ao Céu, anunciou aos Apóstolos que o Pai lhes enviará o Espírito Santo, que os ensinaria e os fortaleceria na fé: "Rogarei a meu Pai e Ele vos mandará outro consolador" (Jo 14, 16, 26), "o espírito da verdade" que "vos ensinará tudo" (Jo, 14, 26). Ora, como não há ninguém senão Deus (a verdade), capaz de ensinar tudo, resulta dessas palavras que tal consolador é Deus, como o Pai e o o Filho que hão de mandá-lo. S. Pedro repreende Ananias que procurou iludir o Espírito Santo, e acusa-o de ter assim mentido a "Deus", não aos homens (Act. 4, 5, 11) Na mesma passagem sobre o Espírito Santo, fica claro que as pessoas são distintas: O Pai que envia, o Filho que roga ao Pai, o Espírito Santo que será enviado.
Em II Cor, 13, 13 está escrito: "Estejam com todos vós a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo"!.
No "batismo" de Nosso Senhor, ao sair da água, os céus se abriram e o "Espírito, como uma pomba", desceu sobre Nosso Senhor e uma voz "veio dos Céus: "Tu és o meu filho amado, em ti me comprazo".
Em São Mateus, lemos: "Só o Pai conhece o Filho e o Filho conhece o Pai"(Mt 11, 27; Lc. 10, 22). Em S. João, está que o Espírito Santo "procede do Pai", que é "enviado pelo Filho" (Jo 15, 26; 16, 7).
Respondendo a Felipe, que lhe havia pedido para ver o Pai: "Filipe, quem me viu, viu também o Pai. Como é que dizes: Mostra-nos o Pai? Então não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim" (Jo, 14, 9 e 10).
O mesmo que Jesus Cristo explica da sua união com o Pai, afirma-o igualmente do Espírito Santo. "Quando tiver vindo o Consolador que eu vos mandarei de junto de meu Pai, o Espírito de verdade que procede do Pai, Ele dará testemunho de mim" (Jo, 15, 26). Ora, o que procede de Deus tem, forçosamente, natureza idêntica à de Deus.
Dessa forma, fica clara a distinção de três pessoas em um só Deus, ou seja, três pessoas de mesma natureza, poder e glória.

Já no Antigo Testamento a Trindade estava implícita. Citemos algumas passagens: Os sacerdotes judeus deviam, ao abençoar o povo, invocar três vezes o nome de Deus (Num. 6, 23). Isaías diz-nos (6, 3) que os Serafins cantam nos céus: Santo, santo, santo é o Deus dos exércitos. Notemos sobretudo o estranho plural empregado por Deus na criação do homem: "façamos o homem à nossa imagem e semelhança"(Gen. 1, 26). No momento da confusão de Babel: "Vinde, diz o Senhor, confundamos a sua linguagem" (Gen. 11, 7). Por que esse plural? Já, depois da culpa de Adão, o mesmo livro sagrado representa Deus dizendo ironicamente: "Portanto eis Adão que se tornou com um de nós, vamos agora impedir-lhe que levante a mão à árvore da vida"(Gen. 3, 22). E David escrevia no Salmo CIX: "Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-te à minha direita".

Encontram-se, no Antigo Testamento, duas expressões para designar a divindade: uma é "Jehováh", outra é "Eloim". Pelo parecer de todos os hebraizantes, a primeira se aplica ao mesmo ser de Deus, à sua suprema essência: está sempre no singular. A segunda exprime a idéia da presença de Deus e do seu poder: vem sempre no plural e significa "os deuses"; mas, o que não deixa de surpreender é que esta palavra sempre no plural, rege sempre no singular o verbo que a segue. Assim o primeiro versículo da Bíblia traduzir-se-ia literalmente: "No princípio, "os deuses" fez o céu e a terra". Os sábios não duvidam em ver, nesta palavra "Eloim" e no modo de se usar dela, uma expressão que deixa entender a existência de várias pessoas em Deus.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Satanismo, Possessão, Infestação – Parte III

O espiritismo: verdadeira heresia

Em face dessa tão radical negação de toda a doutrina cristã, o Episcopado Brasileiro, reunido no VI Congresso Eucarístico Nacional (1953), presentes os Senhores Cardeais, Arcebispos, Bispos e Prelados e o Representante da Nunciatura Apostólica, Mons. João Ferrofino, determinou que: “Os espíritas devem ser tratados como verdadeiros hereges”.

O que vem a ser, pois, o herege?
É aquele que, após o batismo, nega com pertinácia qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou duvida pertinazmente a respeito dela, uma vez que o Direito Canônico assim define a heresia: “Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do batismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dela” (cân. 751).

É essencial ao herege, pois, negar com pertinácia. Não seria herege quem negasse uma verdade sem obstinação, sem saber que se trata de verdade de Fé. Portanto não são hereges, nem podem ser tratados como tais, todos aqueles que, por ignorância e iludidos pela falaz propaganda espírita, aderiram ao espiritismo. Mas se, avisados, persistirem no espiritismo, tornam-se pertinazes, e, portanto, hereges, devendo conseqüentemente ser tratados como tais.
Em seu livro acima mencionado, D. Frei Boaventura Kloppenburg conclui que “é sem dúvida severo e inexorável o modo de tratar os espíritas. Mas é uma medida necessária e justa. .... O modo como continuam a evocar os mortos equivale a uma insurreição aberta contra Deus e a Igreja”.

Por isso, “os espíritas excluíram-se a si mesmos da Igreja”.

Condenações do reencarnacionismo há muitos séculos “Reencarnação é o termo usado para indicar a passagem da alma de um a outro corpo humano. Há um significado mais restrito da metempsicose, que indica a transmigração da alma humana através de vários corpos dos homens, dos animais, das plantas etc”.
“No século IV, Orígenes tentou apresentar esta doutrina como sendo católica, inspirando-se em Platão, levantando-se contra ele uma forte polêmica. Ela foi condenada pelo Concílio de Constantinopla no ano de 543 (Papa Virgílio). O absurdo da reencarnação foi posto a nu em declarações inequívocas do Magistério Eclesiástico, segundo o qual, após a morte, cada indivíduo é julgado e recebe um destino eterno irrevogável(cfr. II Concílio de Lyon, ano 1274; Constituição Apostólica Benedictus Deus, de Bento XII, 29-1-1336; Decretum pro graecis, do Concílio de Florença, 4-6-1439)”.
“Um decreto do Santo Ofício, de 4 de agosto de 1856, declara ilícita, herética e escandalosa a prática de evocar as almas dos mortos, receber respostas etc.; a declaração da S. Penitenciária (1º de fev./1882), declara ilícito assistir, ainda que passivamente, às consultas e jogos espíritas. Leão XIII proibiu a leitura e a posse dos livros nos quais se ensina ou se recomenda o sortilégio, a adivinhação, a magia, a evocação dos espíritos e semelhantes superstições”.

Faltam exorcistas autênticos

O Pe. Gabriele Amorth, exorcista oficial da Diocese de Roma, esclarece em seu ensaio Um exorcista conta-nos: “O demônio faz tudo para não ser descoberto, mostra-se muito lacônico e procura todos os meios para desencorajar o paciente e o exorcista”.
E acrescenta: “Os exorcistas na Itália são pouquíssimos, e os que estão preparados, ainda são menos. A situação noutros países é ainda pior, por isso têm-me procurado para a bênção pessoas vindas da França, Áustria, Alemanha, Suíça, Espanha e Inglaterra, onde -- a se acreditar no que me dizem -- não conseguiram encontrar um exorcista. Incúria dos bispos e dos sacerdotes?”.
“Hoje em dia a Pastoral, neste setor e no mundo católico, está completamente descurada. Não era assim no passado. Cada Catedral devia ter um exorcista, do mesmo modo que tem um confessor, e deviam ser tanto mais numerosos os exorcistas, quanto maiores fossem as necessidades: nas paróquias mais importantes, nos santuários”.

“Minha experiência direta leva-me a afirmar que novos fatores estão na origem do aumento considerável das vítimas do Maligno. Em primeiro lugar, analisemos a situação do mundo consumista do Ocidente em que o sentido materialista e hedonista da vida fez com que muita gente perdesse a fé. Penso que sobretudo na Itália uma grande parte da culpa cabe ao comunismo e ao socialismo que, com as doutrinas marxistas, dominaram nestes últimos anos a cultura, a educação e o mundo do espetáculo”.
“A magia e o espiritismo são incentivados por vários canais de televisão. Acrescentem-se ainda os jornais e os espetáculos de horror, em que ao sexo e à violência se aliam mesmo um sentido de perfídia satânica e a difusão de certas músicas de massa que invadem o público até à obsessão. Faço aqui muito particularmente referência ao rock satânico ....".

“Os Exorcismos são esconjuros ou mandados imperativos que o ministro autorizado pela Igreja faz em nome de Deus contra o demônio, para que abandone as pessoas por ele possuídas ou cesse de infestar pessoas ou coisas, ainda que inanimadas”.

Visão de Leão XIII: crescente atuação diabólica no mundo. E ainda o mesmo autor diz:

“Muitos de nós recordamos que, antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, os celebrantes e os fiéis, no fim de cada missa, ajoelhavam-se para rezar uma oração a Nossa Senhora e outra a São Miguel Arcanjo:
‘São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, sede nosso auxílio contra a malícia e ciladas do demônio. Ordene-lhe Deus, instantemente o pedimos, e Vós, Príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no Inferno a Satanás e os outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perder as almas.’
“Como é que nasceu esta oração? Transcrevo o artigo escrito pelo Pe. Domenico Pechenino na revista Ephemerides Liturgicae, 1955, pp. 58-59: Não me lembro exatamente do ano. Uma manhã, o grande Pontífice Leão XIII tinha celebrado a S. Missa e estava a assistir a uma outra de ação de graças, como de costume. De repente, viu-se ele virar energicamente a cabeça, depois de fixar qualquer coisa intensamente, sobre a cabeça do celebrante. Finalmente, voltando a si, bate ligeira, mas energicamente com a mão, levanta-se. Dirige-se ao seu escritório particular. Daí a uma meia hora, manda chamar o Secretário da Congregação dos Ritos, e estendendo-lhe uma folha de papel, manda fazê-la imprimir e enviar a todos os Ordinários do mundo. Que assunto continha? A oração que rezávamos no fim da missa com o povo”.

Apesar dos embustes do sincretismo religioso, a doutrina católica não mudou

Ora -- poderia objetar algum leitor --, há eclesiásticos que abrem os braços e dialogam amigavelmente com macumbeiros e espíritas.
Infelizmente é bem verdade que, sobretudo nos últimos 30 ou 40 anos, muitas declarações e atitudes de membros do clero parecem em contradição com a doutrina acima exposta.
Uma conferência anual de padres e Bispos negros realizada em Salvador, em julho do ano passado, incluiu uma visita aos dois principais terreiros de candomblé. Chocado com isto, o Pe. Pierre Mathon anunciou que celebraria uma missa de repúdio às práticas religiosas que descreveu como demoníacas, e acusou o clero em questão de desviar-se da única Fé verdadeira. “O diálogo é bom, mas fechar os olhos aos padres católicos que recebem as bênçãos de sacerdotes do cadomblé é simplesmente inaceitável”, afirmou o Pe. Mathon durante sermão em Salvador. E acrescentou: “Esses padres são a própria Igreja e estão dando um mau exemplo”. ....
É o que confirma o próprio Arcebispo Primaz de Salvador, D. Geraldo Majella, que atribui as manifestações de sincretismo religioso presentes na Bahia à “.... falta de conhecimento mais profundo da Religião e da Fé católica. Conseqüentemente, acreditam que qualquer coisa vale, que tudo está bem, que você pode misturar a Fé da Igreja com um outro credo, como se fosse algum tipo de mescla”, comentou em declarações reproduzidas por Larry Rohter no “The New York Times”.

Convém insistir, portanto, que o sincretismo -- fusão de várias formas e opiniões religiosas-- apresenta-se como um “fenômeno universal em relação aos problemas religiosos mais graves, especialmente no que se refere ao judaísmo e ao cristianismo”. Mistura os Santos da Religião Católica com personagens, míticos ou não, de outras religiões, sejam elas o espiritismo, o candomblé, a macumba, ou qualquer outro culto pagão. Trata-se de um artifício de que pode servir-se o diabo para enganar os incautos, especialmente as pessoas que vivem na ignorância religiosa.

Além do sincretismo, é inquietante a difusão considerável que a superstição, a magia e o ocultismo vêm alcançando em nossos dias, como veremos a seguir.
Tão universal é o fenômeno, que recente notícia da agência Zenit menciona o espantoso avanço do esoterismo e da magia no país em que se encontra o próprio centro da Igreja Católica e da Cristandade:

“No mínimo inquietantes: assim são os dados oferecidos no Congresso sobre Superstição, Magia e Satanismo na Úmbria, organizado pelo Instituto Teológico de Assis. Os números falam por si mesmos: mais de 12 milhões de italianos recorrem a um mago pelo menos uma vez por ano, mais mulheres do que homens, 40% com estudos secundários, 30% com estudos universitários superiores. A Agencia ANSA cita Mons. Ennio Antonelli, secretário-geral da Conferência Episcopal italiana: ‘com a taxa de 8 por mil do imposto sobre a renda que se destina às igrejas e religiões, a Igreja Católica recebe 500 milhões de dólares, por ano, enquanto a quantia faturada pelo mundo do ocultismo chega a 750 milhões de dólares’.
A nós, católicos leigos, cumpre, nas tristes circunstâncias atuais, redobrar os esforços para esclarecer o próximo sobre a expansão das várias formas de cultos satânicos que vão corroendo o catolicismo no Brasil. Peçamos a Nossa Senhora Aparecida e a São Miguel Arcanjo que nos dêem toda proteção e ajuda nessa luta contra o Império de Satanás.

Obsessão: tentações mais intensas e prolongadas

“A obsessão é em substância uma série de tentações mais violentas e duradouras que as tentações ordinárias. É externa quando atua sobre os sentidos externos, por meio de aparições; internas, quando provoca impressões íntimas. É raro que seja puramente externa, visto o demônio não atuar sobre os sentidos senão para perturbar mais facilmente a alma. Há, contudo, Santos que, pelo fato de serem obsedados exteriormente por toda a qualidade de fantasmas, conservam na alma uma paz inalterável”.
Ad Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, Livraria Apostolado da Imprensa, 4ª edição, 1948, Porto, p.858.
A Medalha de São Bento

Propagada em todo o mundo há mais de trezentos anos pelos monges beneditinos, e aprovada pelo Papa Bento XIV em 1742, a Medalha de São Bento tornou-se célebre por sua extraordinária eficácia no combate aos demônios e suas manifestações; protege contra malefícios de toda espécie, doenças contagiosas, picadas de serpentes e outros animais venenosos; protege também os animais domésticos e veículos. Aprovada e louvada pelos Papas, a Medalha de São Bento possui a força exorcística da Santa Cruz do Redentor - o sinal de nossa salvação.
Dom Próspero Guéranger O.S.B., A Medalha de São Bento, Artpress, 1999, São Paulo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Satanismo, Possessão, Infestação – Parte II

O Império de Satanás possui os seus cidadãos

Entre os homens, ao Império de Satanás pertence aquele que o deseje: é suficiente um pecado mortal para adquirir cidadania nesse Império; e para nele permanecer, basta a falta de contrição, que se torna muito fácil pela preguiça ou má vontade em encarar de frente o próprio pecado, reconhecê-lo e humildemente acusá-lo no tribunal da Confissão.
A cidadania infernal concede o “direito” de satisfazer todos os apetites da concupiscência, e de praticar todos os pecados mortais correspondentes, enquanto houver saúde e dinheiro. Em troca, os deveres impostos por esse Império cumprem-se geralmente depois da morte, e consistem em suportar o insuportável fogo eterno... Por outro lado, basta o verdadeiro arrependimento dos pecados e o sacramento da Confissão para livrar-se da tirania desse Império.
Quanto à principal tática do demônio para atuar internamente na Igreja, desde que Ela foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, é a disseminação das heresias.

O conhecido historiador francês do início do século XX, Pe. Emmanuel Barbier, comenta a esse respeito: “O flagelo da heresia decorre de duas fontes. As primeiras conquistas da Igreja haviam sido feitas sobre o elemento judeu e sobre o elemento pagão. Aqueles que aceitaram o Evangelho, nele não reconheceram toda a divina salvação, que é preciso receber simplesmente, sem acréscimo e sem atenuação. Muitos misturaram à doutrina cristã outros ensinamentos e deram assim nascimento às heresias. Estes ensinamentos estranhos estavam incrustados quer no judaísmo, quer no paganismo”.

“O número dos tolos é infinito”: o gosto de ser enganado

Diz antigo provérbio que o mundo quer ser enganado, e por isso, em todas as idades houve embusteiros que trataram de satisfazer esse desejo das massas. E o demônio pode utilizar-se desses embusteiros para afastar as pessoas da verdadeira Fé.
A essa má inclinação, as Sagradas Escrituras acrescentam que “os perversos dificultosamente se corrigem e o número dos tolos é infinito” (Ecl 1, 15).
Quando o embuste se vela sob formas religiosas ou misteriosas e atua por meio de agentes de mistificação com poderes desconhecidos ou preternaturais, então ele pode arraigar-se de tal modo no coração, que a luz claríssima da verdade dificilmente consegue arrancá-lo da imaginação popular.

Exemplo frisante de estultice popular o leitor encontrará nos episódios vividos pelo Profeta Daniel (Dn 14, 1-42). Depois dele desmascarar o falso deus Baal dos babilônios, estes o quiseram matar!...

É ótima defesa contra o demônio usar sobre si a Medalha Milagrosa, o Escapulário do Carmo, o Agnus Dei, a Medalha de São Bento, a água benta etc. De nada adiantarão, porém, se a pessoa não se empenhar na observância dos Mandamentos.
O Pe. Gabriele Amorth -- de quem falaremos adiante -- assim se refere ao uso da Medalha Milagrosa: “Constatei em várias ocasiões a eficácia das medalhas que as pessoas usam com fé. Bastaria falar da Medalha Milagrosa difundida em milhões de exemplares no mundo depois da aparição da Virgem a Santa Catarina Labouré (Paris, 1830); se falássemos das graças prodigiosas recebidas através dessa simples medalhinha, nunca mais acabaríamos”.

Cultos afro-asiáticos de conotação satanista na atualidade

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira observava que “o homem gosta de meias verdades, mas tem horror à verdade total”. E Donoso Cortez, renomado escritor, filósofo e sociólogo espanhol, diz que “o espírito humano tem fome de absurdo e de pecado” (cfr. Obras Completas: Ensaio sobre o Catolicismo, B.A.C., Madrid, 1946, Tomo 2, p. 377).
É por isso que a grande maioria dos homens prefere o caminho fácil das meias verdades, desembocando em religiões falsas. O demônio os atrai como pode, explorando suas más tendências e seus vícios. Assim, a uns conseguirá arrastar diretamente para o satanismo radical dos sacrifícios cruentos. A outros, atrairá para as formas mais veladas de falsa religiosidade que parecem benignas, às vezes sob a capa de filantropia ou de bem espiritual, como certas práticas hinduístas.
Exemplo típico, entre muitos, de satanismo cruento, é o caso de uma vendedora do Rio de Janeiro que declarou ter matado a própria filha de três anos em um ritual de magia negra. Ela foi presa com o concubino e a mãe de santo, que também teriam participado do crime, no litoral fluminense (cfr. “O Estado de São Paulo”, 15-1-99).

A difusão de cultos afro-asiáticos de conotação satanista é hoje uma realidade. No Uruguai, por exemplo, a umbanda é a prática religiosa que mais cresce, a tal ponto que a festa de Iemanjá é a mais popular do país, atraindo para as praias centenas de milhares de praticantes desse culto de origem africana (cfr. “Folha de S. Paulo”, 27-11-99).
Mesmo aqueles que procuram esses cultos por razões folclóricas ou turísticas, arcam com o risco de ser envolvidos por eles e sofrerem as conseqüências.

Espiritismo umbandista

D. Frei Boaventura Kloppenburg O.F.M., Bispo de Novo Hamburgo (RS), explica: “Não podemos indicar uma data exata para a aparição, entre nós, daquilo que hoje se chama espiritismo de Umbanda. Movimentos populares, de origem nitidamente africana, com fachadas cristãs, mas fortemente paganizadas e diretamente influenciadas pelas práticas espíritas, aos poucos se aglutinaram e continuam a coordenar-se ainda hoje, para formar a umbanda (palavra africana que significa feitiçaria). O Batuque do Sul, a Macumba do Rio, o Candomblé da Bahia, o Xangô de Pernambuco, o Catimbó do Nordeste, o Nagô ou as Casas de Minas do Maranhão, a Pajelança da Amazônia: eis a matéria remota desse novo tipo de Espiritismo. Os Kardecistas não toleram que se qualifique a Umbanda como espírita. Mas os próprios umbandistas continuam a proclamar empenhadamente que também eles são verdadeiros espíritas. A Federação Espírita Brasileira, numa solene declaração, publicada no órgão oficial Reformador, de julho de 1953, página 149, acabou concedendo aos umbandistas o ‘privilégio’ de se chamarem espíritas”.

Evocar os mortos: proibição formal da Igreja

Em sua obra Sobre a heresia espírita, o mesmo autor acrescenta: “A prática generalizada pelo espiritismo de evocar os mortos não é recente. O espiritismo atual é a continuação da magia e da necromancia de tempos idos. Já no Antigo Testamento existem testemunhos das consultas aos mortos praticadas pelos hebreus”.
E prossegue: “Mas o fim visado foi sempre o mesmo: evocar os mortos, para deles saber alguma coisa. O espiritismo moderno, portanto, é a magia ou a necromancia da Antigüidade. Ora, consta de textos insofismavelmente claros do Antigo Testamento que Deus proibiu, sob as mais severas penas, semelhantes práticas de necromancia e magia”.
Eis abaixo alguns textos da Sagrada Escritura, que condenam severamente a necromancia e a magia:

· Êxodo 22, 18: “Não deixarás viver os feiticeiros”.

· Levítico 20, 27: “O homem ou a mulher em que houver espírito pitônico ou de adivinho, sejam punidos de morte. Apedrejá-los-ão, o seu sangue cairá sobre eles”.

· Lev. 19, 31: “Não vos dirijais aos magos, nem interrogueis os adivinhos, para que vos não contamineis por meio deles. Eu sou o Senhor vosso Deus”.

· I Reis 28, 5-25: Estes versículos narram a história do rei Saul, que foi consultar uma pitonisa. A conseqüência do episódio inteiro é exposta no I Livro dos Paralipômenos 10, 3: “Morreu, pois, Saul, por causa das suas iniqüidades, porque tinha desobedecido ao mandamento que o Senhor lhe tinha imposto e não tinha observado; e além disso tinha consultado a pitonisa e não tinha posto a sua esperança no Senhor; por isso Ele o matou, e transferiu o seu reino para David, filho de Isaí”.

· IV Reis 17, 17: “E consagraram seus filhos e suas filhas por meio do fogo, e entregaram-se a adivinhações e agouros, e abandonaram-se a fazer o mal diante do Senhor, provocando a sua ira”.

· Isaías 8, 19-20: “E quando vos disserem: Consultai os pitões e os adivinhos, que murmuram em segredo nos seus encantamentos: Acaso não consultará o povo ao seu Deus, há de ir falar com os mortos acerca dos vivos? Antes à Lei e ao Testamento que se deve recorrer. Porém, se eles não falarem na conformidade desta palavra, não raiará para eles a luz da manhã”.
Em vista do acima exposto, decorre a proibição divina de evocar os mortos e consultar médiuns, macumbeiros, gurus, cartomantes. Tal proibição é clara, repetida, enérgica e severíssima.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Satanismo, Possessão, Infestação – Parte I

“Uma jovem professora de Avignon (França), que dava sinais de possessão demoníaca, foi conduzida, por ordem do Bispo, ao Cura d’Ars. Ia acompanhada de um vigário e da Superiora das Franciscanas de Orange. Chegaram a Ars em 27 de dezembro de 1857. No dia seguinte, fizeram-na entrar na sacristia, no momento em que o santo Cura revestia-se para celebrar a Missa. Em seguida a possessa se pôs a gritar, procurando fugir:

“- Tem gente demais aqui! – exclamava.
“- Tem gente demais, – acrescentou o Cura – pois bem, saiam todos!
“E, a um sinal de sua mão, ficou só, frente a frente com Satanás. No início, apenas ouviu-se dentro da igreja um ruído confuso e violento. Logo o tom se elevou ainda mais. O vigário de Avignon, vigilante junto à porta, pôde captar o seguinte diálogo:
“- Queres sair a todo custo? -- dizia o Padre Vianney.
“- Sim!
“- E por quê?
“- Porque estou com um homem que não quero!
“- Não me queres então? -- perguntou o Cura com tom irônico.
“- Não! - gritou o espírito infernal. E este não! foi proferido em tom estridente e furioso.
“Quase em seguida, a porta tornou a abrir-se. Todos puderam ver a jovem professora chorando de alegria .... E voltando-se para o Padre Vianney, disse-lhe:
“- Tenho medo que ele volte!
“- Não, minha filha -- respondeu-lhe o santo homem --, ou não tão breve.
“A jovem pôde retomar suas funções de educadora na cidade de Orange. E ele não retornou”.
Eis aí um, dentre tantos fatos históricos que comprovam experimentalmente a existência do demônio e sua ação característica na alma e no corpo de uma possessa, descrito por Mons. Cristiani, conhecido autor francês, em sua obra Presença de Satan no mundo moderno.

O renomado teólogo francês Ad Tanquerey, em sua conhecida obra Compêndio de Teologia Ascética e Mística assim descreve a ação do demônio sobre os homens: “Cioso de imitar a ação divina na alma dos Santos, esforça-se o demônio por exercer também o seu império ou antes a sua tirania sobre os homens. Às vezes assedia, por assim dizer, a alma por fora, suscitando-lhe horríveis tentações; outras vezes instala-se no corpo e move-o a seu talante, como se fosse senhor dele, a fim de lançar a perturbação na alma. No primeiro caso temos a obsessão, no segundo a possessão”.

Assim, enquanto mediante a obsessão o demônio atua externamente suscitando no homem tentações, grandes ou pequenas, mas sempre perigosas, pela possessão ele instala-se no corpo deste para perturbar a alma.
Eis a explicação, apresentada por Mons. Cristiani em sua referida obra, sobre a natureza e a causa da possessão:

“Não existe talvez fato mais extraordinário que o da possessão diabólica. Que tal fato existe é o que demonstram muitíssimas experiências. Sem dúvida, houve possessos desde muito tempo antes da vinda de Jesus Cristo à Terra. Houve possessos em torno dEle, como o Evangelho no-lo mostra. Na Igreja primitiva, foram inúmeros os casos, e a instituição da ordem dos exorcistas, entre os membros do clero, é uma boa prova disso. ....
“A teologia católica, baseada sobre os fatos de possessão demoníaca, tomou posição tão decidida a respeito deste problema, que chegou a elaborar uma teoria completa sobre o assunto. Assim, o Ritual Romano, livro oficial do cerimonial eclesiástico, explica os sinais pelos quais se conhece a autêntica possessão e dá os remédios necessários para combatê-la: os exorcismos”.
O mesmo autor afirma, no que concerne à possessão e suas causas, que não podemos escolher guia mais seguro e mais preciso que a obra de Mons. Saudreau, L’état mystique... et les faits extraordinaires de la vie spirituel (Paris, Amat, 2ª ed., 1921).

Natureza de um fenômeno estranho: a possessão

“Segundo Mons. Saudreau, a possessão nunca chega até a animação. Isto quer dizer que o demônio não substitui a alma do possesso, não dá vida ao corpo, mas, sem que saibamos como, apodera-se desse corpo, faz sua morada nele, quer seja no cérebro, quer nas entranhas, porém, em todo caso, no sistema nervoso. Não tira à alma, portanto, seu domínio normal sobre o corpo e sobre os membros; imprime às faces do rosto uma expressão desconhecida e que corresponde à ação do demônio.
“O demônio não está sempre presente no possesso. Entra nele quando quer. Provoca nele ataques. Um possesso poderá até ser liberado momentaneamente pelos exorcismos, e depois torna-se novamente presa do demônio. Em seu estado normal, o possesso é como todo mundo...
“Por outro lado, os demônios não atuam todos da mesma maneira, porque estão longe de ser totalmente iguais. Acreditava-se, não sem razão, que todos os deuses do paganismo eram demônios”. “Omnes dii gentium, daemonia”, diz a Escritura(Salmos 95, 5).

Múltiplas causas da possessão: o sortilégio ou bruxaria

“O bom senso popular colocaria na primeira fila das causas da possessão as faltas cometidas pelo possesso. Não é assim em absoluto. As causas de possessão são, na verdade, muito variáveis. ....
“Se os demônios fizessem livremente seus estragos entre os homens, a humanidade estaria transtornada, não seríamos mais donos de nossos destinos, a obra de Deus entre nós estaria desviada de seu objetivo. O fato é, em si, inconcebível e, por mais poderosos que sejam os demônios, a verdade é que ‘esses cães estão acorrentados’....
“Os demônios não atuam entre nós senão na medida em que obtêm -- como está escrito no Livro de Jó -- a permissão de Deus, soberano Senhor. O caso do mesmo Jó, submetido às infestações de Satanás, é uma boa prova de que não são as faltas da vítima que explicam suas penas.
“Por vezes, pode haver culpa do possesso, como reconhece Mons. Saudreau: ‘Uma pessoa ficou possessa em conseqüência de uma oração a Mercúrio, feita por ela, a conselho de uma velha curandeira’.
“Em muitos casos pareceria que a origem da possessão teria sido um malefício. É o que o público denomina mais correntemente uma bruxaria. Mons. Saudreau é categórico neste ponto: ‘uma das causas mais freqüentes das vexações diabólicas é o malefício’. E esclarece: ‘os malefícios são os sacramentos do demônio’”.
“Pareceria que o demônio, depois de ter estabelecido seu ritual próprio para o lançamento de sortilégios, se vê obrigado a atuar quando o bruxo observa as formas que ele prescreveu.... Porém os malefícios não têm todos a mesma eficácia.
“No século XVII, em processo célebre, descobriu-se que os malefícios tinham por base assassinatos de crianças, pecados contra a natureza e missas sacrílegas”.
“A possessão pode ser e é seguramente, às vezes, uma prova permitida por Deus, como no caso do santo homem Jó ou no do Cura d’Ars; sem que tenha havido falta por parte do infestado ou do possesso e sem que haja ocorrido malefício.
“Em suma, os casos de possessão são casos extremos de um fato imenso que se estende por todo o universo espiritual: a luta do bem contra o mal, da Cidade de Deus contra a Cidade de Satanás”.

Como combater a possessão

O autor francês refere-se a seguir ao exorcismo como o meio de combater a possessão:
Como dissemos, o remédio que Deus quis para a possessão é o que chamamos exorcismo, que significa conjuro. Porém, existem regras muito precisas para praticar o exorcismo.
“Se a pessoa manifesta em si a presença de uma inteligência diferente da sua, existe possessão e não enfermidade. O Ritual Romano traz precisões sobre este ponto essencial. E acrescenta: ‘Os demônios suscitam todos os obstáculos que podem impedir que o paciente seja submetido a exorcismos’”.

O cânon 1172 do Código de Direito Canônico contém disposições concernentes aos exorcismos.
O demônio no Antigo e no Novo Testamento
O demônio é mencionado freqüentemente no Antigo Testamento, por exemplo, no Livro de Isaías: “Como caíste do céu, ó astro brilhante, que, ao nascer do dia, brilhavas?” (Is 14, 12).
O Apocalipse -- o último livro do Novo Testamento, escrito pelo Apóstolo São João Evangelista -- assim descreve a queda de Lúcifer e dos anjos rebeldes:
“E houve no Céu uma grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o dragão com os seus anjos pelejavam contra ele; porém, estes não prevaleceram; e o seu lugar não se achou mais no Céu. E foi precipitado aquele grande dragão, aquela antiga serpente, que se chama o Demônio e Satanás, que seduz todo o mundo; e foi precipitado na terra, e foram precipitados com ele os seus anjos” (Apoc. 12, 7-9).
Incapazes de amor, os demônios encontram-se ligados pelo ódio mútuo e ódio a todas as coisas. Por isso, tramaram também a perdição do gênero humano.
“Satanás, invisível agente pessoal, inimigo do homem, que o conduz à perdição, afastando-o de Deus”.

Adão e Eva cederam à tentação diabólica

“Sereis como deuses conhecendo o bem e o mal”(Gn 3, 5). Esta foi a frase que a astuta serpente disse a Eva. E, assim, Adão e Eva se deixaram seduzir.
A propósito, observa o renomado escritor e polemista francês Mons. Henri Delassus: “Desde a criação do gênero humano, o homem se extraviou. Em vez de crer na palavra de Deus, e de obedecer à sua ordem, Adão escutou a voz sedutora que lhe dizia para colocar o seu fim em si mesmo, na satisfação de sua sensualidade, nas ambições do seu orgulho”.
Diz piedosa tradição que Adão e Eva fizeram penitência numa caverna do monte Calvário, que tem esse nome porque ali foi descoberta a caveira do primeiro homem (cfr. Lc 23, 33). Realmente, debaixo do Calvário e ocupando o mesmo espaço do Gólgota, hoje encontra-se a capela de Adão, na qual estiveram também, até 1808, os sepulcros de Godofredo de Bouillon, que conquistou a Cidade Santa, e de seu irmão Balduíno, primeiro rei católico de Jerusalém.
“Por sua vida penitente, Adão e Eva são considerados santos e sua festa celebra-se a 19 de dezembro. Dois de seus filhos, Caim e Abel, constituem o primeiro exemplo de divisão do gênero humano: Abel é o exemplo dos fiéis que caminham para o Bem, e Caim, dos que caminham para o Mal”.

Os demônios conspiram contra o homem porque não podem tolerar que ele tenha sido redimido pelo Verbo Divino que se encarnou no seio puríssimo de Maria, unindo-se à natureza humana.
O pecado original foi uma vitória de Satanás sobre o homem. Mas a Redenção foi a vitória de Jesus Cristo sobre Satanás. Assim, Deus não consentiu que o demônio arrastasse todos os homens para o seu reino.

Pode-se falar num Império de Satanás?

Não se pode pôr em dúvida, entretanto, que Satanás tenha o seu Império, considerando-se o termo latino imperium no seu significado político-jurídico: “Imperium é o vocábulo empregado, em amplo sentido, para significar o supremo poder, ou a suprema autoridade, conferida a certas instituições ou a certas pessoas. Indica, assim, o próprio poder conferido ao imperador, em virtude do qual exerce sua autoridade soberana em todo território onde se situam ou limitam os domínios imperiais, em relação a todas as coisas ou a todas as pessoas”.
Ora, Satanás manda nos diabos e nos homens que a ele se entregam pelo pecado. Ensina Nosso Senhor que “todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8, 34). E o Império de Satanás possui seu território, seu âmbito de competência e sua área de jurisdição. Tem sua metrópole e suas colônias. A metrópole é o Inferno, mas, pelo menos em potência, seu área de expansão colonial abarca toda a Terra habitável.

Em geral, fora do Inferno, à primeira vista não parece que Satanás exerça verdadeiro império sobre um território, mas apenas sobre pessoas. No entanto, se atentarmos bem ao que acontece, verificaremos que, embora de forma temporária e não permanente, há nações que se comportam, durante longos períodos de tempo, como verdadeiras colônias do Império infernal, tal é a dominação que ele exerce sobre o povo no seu conjunto. Em outros lugares, não possui Satanás debaixo de suas ordens senão minorias nacionais dispersas, mais numerosas ou menos; mas há nações em que as maiorias e os governos vivem como que subjugados por ele.
Exemplo frisante disso foi a extinta e desditosa U.R.S.S. A respeito do regime que nela imperava, Mons. André Sheptyskyj, Arcebispo de Lvov e líder da Igreja Católica na Ucrânia durante as perseguições de Lênin e Stalin, escreveu à Santa Sé uma carta, na qual figura uma frase bastante significativa: “Este regime só pode se explicar como um caso de possessão diabólica coletiva”. E pediu ao Papa Pio XI que sugerisse a todos os sacerdotes e religiosos do mundo que “exorcizassem a Rússia soviética”. O Prelado ucraniano faleceu em 1944, estando atualmente em andamento seu processo de beatificação.
A questão levantada pelo Arcebispo ucraniano não se colocaria hoje, talvez até com mais razão, em alguns lugares do mundo, uma vez que o processo revolucionário multissecular de destruição da civilização cristã não fez senão acentuar-se intensamente desde então? Assim, não estaríamos assistindo, em escala crescente, a um fenômeno de possessão coletiva, ao menos em largas esferas do mundo atual?

Questão ainda mais delicada: pode o demônio insinuar-se dentro da própria Igreja de Jesus Cristo, em certos períodos de grande provação e pecado? Para responder com segurança a tal pergunta seria preciso que teólogos – autênticos teólogos de ortodoxia ilibada – o estudassem com cuidado e se pronunciassem a respeito. Mas a pergunta não pode deixar de ser levantada tendo em vista o memorável pronunciamento de Paulo VI sobre as calamidades na fase pós-conciliar da Igreja, feito em 29 de junho de 1972, na Alocução "Resistite fortes in fide", que citamos aqui na versão da Poliglotta Vaticano:

O Pontífice, "referindo-se à situação da Igreja de hoje, afirmou ter a sensação de que `por alguma fissura tenha entrado a fumaça de Satanás no templo de Deus'. Há a dúvida, a incerteza, o complexo dos problemas, a inquietação, a insatisfação, a confrontação. Não se confia mais na Igreja; confia-se no primeiro profeta profano que nos venha falar, por meio de algum jornal ou movimento social, a fim de correr atrás dele e perguntar-lhe se tem a fórmula da verdadeira vida. E não nos damos conta de que já a possuímos e somos mestres dela. Entrou a dúvida em nossas consciências, e entrou por janelas que deviam estar abertas à luz. .... Também na Igreja reina este estado de incerteza. Acreditava-se que, depois do Concílio, viria um dia ensolarado para a História da Igreja. Veio, pelo contrário, um dia cheio de nuvens, de tempestade, de escuridão, de indagação, de incerteza. Pregamos o ecumenismo, e nos afastamos sempre mais uns dos outros. Procuramos cavar abismos em vez de enchê-los. Como sucedeu isto? O Papa confia aos presentes um pensamento seu: o de que tenha havido a intervenção de um poder adverso. Seu nome é o diabo, este misterioso ser ao qual também alude São Pedro em sua Epístola".

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Batismo

Quanto ao Batismo ministrado por São João Batista, ao qual também se submeteu Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda não era o Sacramento do Batismo, tal como o conhecemos hoje, e que foi instituído pelo mesmo Nosso Senhor algum tempo depois de ter sido batizado por São João.
O Batismo de João era um rito penitencial, preparatório e prefigurativo do verdadeiro Batismo. O próprio Batista é explícito quanto a esse ponto: "Eu vos batizo com água, em sinal de penitência, mas Aquele que virá depois de mim .... vos batizará no Espírito Santo e em fogo" (São Mateus 3,11; São Marcos 1,8; São Lucas 3,16).

E os Apóstolos, depois de Pentecostes, batizavam todos os convertidos, sem perguntar se já haviam recebido o Batismo de João (Atos 2,38), o que não fariam se fosse o mesmo Batismo.
Seja como for, embora se possa deduzir que o Batismo de João tivesse sido por imersão, este fato não torna obrigatório que fosse realizado sempre dessa maneira o Batismo instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo.
Tampouco está afirmado no Novo Testamento que os Apóstolos e os discípulos batizavam sempre por imersão.
Pelo que, se alguém quiser encontrar esse dado na Bíblia (como pretendem tê-lo feito os protestantes), de fato, em vão o procurará.

Já é mais difícil admitir que as três mil pessoas batizadas pelos Apóstolos no dia de Pentecostes (Atos 2,41), o tenham sido todas por imersão, parecendo mais plausível a administração do Sacramento mediante aspersão.
É ainda menos provável, dadas as circunstâncias de tempo e lugar, ter sido por imersão o Batismo noturno conferido por São Paulo, na prisão, ao carcereiro da cidade de Filipos e a toda sua família (Atos 16,33), podendo supor-se que tenha sido, com maior probabilidade, por infusão. O próprio Batismo de São Paulo por Ananias, na casa de um certo Judas (Atos 9,18; 22,16), é difícil imaginar que tenha sido por imersão.
Pelos testemunhos da Tradição (que os protestantes não aceitam, e com isso ficam muitas vezes sem saída), sabe-se que os três modos -- por infusão, imersão ou aspersão -- eram empregados na Igreja primitiva, de acordo com as circunstâncias.

Vejamos o que a tal respeito diz a Didaqué, também conhecida como Doutrina do Senhor através dos doze Apóstolos aos gentios ou, simplesmente, Doutrina dos Apóstolos. É um escrito que data de fins do século 1º de nossa era; portanto, bem próximo aos livros do Novo Testamento. Trata-se do mais antigo manual de religião ou catecismo da comunidade cristã primeva de que se tem conhecimento.
Ali se ensina a respeito do modo de batizar: "Quanto ao batismo, procedam assim: depois de ditas todas essas coisas [isto é, de instruídos os catecúmenos na doutrina cristã], batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Se não se tem água corrente, batize em qualquer outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente. Na falta de uma e outra, derrame três vezes água sobre a cabeça [do neófito], em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". (Didaqué, VII -- Tradução, introdução e notas: Pe. Ivo Storniolo-Euclides Martins Balancin, Ed. Paulus, São Paulo, 1989, p. 19).

Como se vê, já no século 1º -- ou seja, quando ainda viviam muitos dos discípulos dos Apóstolos -- praticava-se o Batismo também por infusão, isto é, derramando água sobre a cabeça do neófito.
É certo que o rito da imersão era comum na Antiguidade, conforme se pode constatar pelos documentos da época e pelos próprios batistérios, construídos precisamente para tal fim. Porém não era exclusivo, sendo praticados também os outros ritos.
Aos poucos, na Igreja latina, o Batismo por infusão foi-se generalizando, por razões diversas, entre as quais a decência, pois a prática da imersão estava sujeita a abusos, sobretudo em relação às mulheres. Outra razão era a dignidade do próprio Sacramento, pois nem sempre era possível praticar a imersão sem os inconvenientes do prosaísmo inerente a ela (basta ver o caso de certas seitas protestantes que batizam em rios, lagoas ou mesmo piscinas).

No Oriente, entre os católicos, o Batismo por imersão continuou a prevalecer até nossos dias.
Quanto à aspersão, embora em teoria seja válido o Batismo assim conferido, e conste que tenha sido empregada, nunca chegou a ser uma prática generalizada na Igreja. Isto pelo risco de que a água lançada com as mãos, com o hissopo ou com ramos não atinja o corpo das pessoas e escorra por ele, mas apenas lhes molhe as roupas, o que tornaria inválido o Sacramento.
Pois, como explicamos em número anterior desta revista, o rito do Batismo consiste numa ablução externa do corpo com água, sob a invocação expressa das pessoas da Santíssima Trindade. A palavra ablução significa o ato de lavar. Assim, o Batismo, simbolicamente, lava a pessoa, limpa-a, purifica-a.
Portanto, o essencial é que a água realmente toque o corpo da pessoa e escorra por ele, como acontece quando alguém é lavado. E isto se obtém por qualquer dos três modos praticados: infusão, imersão ou aspersão, embora esta tenha os inconvenientes acima apontados.

Em outras palavras, o Batismo por infusão já era conhecido e praticado desde os primeiros séculos, sendo feito desse modo, conforme as necessidades das circunstâncias, o que sucedia com bastante freqüência. Pois como se podia imergir inteiramente na água um pobre homem doente, quiçá prestes a morrer? De que maneira um mártir, mantido em uma estreita prisão, teria podido achar água suficiente para imergir seus guardas, ou seu carcereiro, que se convertiam ao ver seus milagres ou ao contemplar sua capacidade de sofrer e valor?...
Em conclusão: a Bíblia geralmente não descreve o modo como batizavam os Apóstolos e os discípulos. E também não diz que o modo era sempre o mesmo. Podem fazer-se apenas conjecturas a partir do texto sagrado; porém, não é válido qualquer coisa com toda a certeza, a respeito do assunto. Pelo testemunho da Tradição, sabe-se que na Igreja primitiva, conforme o ensinamento dos Apóstolos, usavam-se as três formas acima referidas (infusão, imersão e aspersão).

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Existe o inferno?

1. Confirmações do terrível dogma do Inferno

a) Existe o inferno? - Provas pedidas ao Bom Senso. - Pe. Lacroix - Editora S. C. J- Taubaté
Eis o primeiro opúsculo original que apareceu entre nós sobre o palpitante problema do Inferno (1' edição em 1929 e 2a em 1937), com 231 págs., de formato médio (15 x 11 cm). Trata do assunto profunda e sumariamente em doze capítulos, dando em confirmação ao dogma do Inferno quatro provas filosóficas, tiradas do bom senso, e respondendo satisfatoriamente a doze perguntas ou objeções.

Como cada dogma da Igreja tem suas razões filosóficas, tiradas do bom senso humano, e como correm mundo, de boca a boca, os mesmos sofismas contra a existência do Inferno, cuidou o autor em salientar, sobretudo, as razões opostas do bom senso comum e examinar, em seguida, o valor das provas aduzidas. Por fim, expõe, no cap. IX a universalidade da crença no Inferno e, no cap. X, a respectiva doutrina do Cristianismo.
Em abono da crença geral no Inferno entre os Judeus, cita o autor os seguintes tópicos da Bíblia: Moisés (Deut. 32, 22), Jó (c. 10), Judite (16. 21), Isaías (33, 14 e 34, 24), Jerenúas (23, 40), Daniel (12, 2) e São João Batista (Mat. 3, 12), e conclui: “Eis aí testemunhos de grande valor, alguns dos quais de veneranda Antigüidade. Muitos séculos, pois, antes da história grega e latina, já existia a crença no Inferno, sendo que os Livros sagrados falam nele muitíssimas vezes como numa verdade reconhecida por todos, ao menos por todos os crentes".

Estendia-se a crença no Inferno (Tártaro) e no Purgatório a todos os povos pagãos do mundo antigo. Quanto mais progrediram na cultura, tanto mais documentos deixaram dessas crenças, desde os Assírios, Caldeus e Egípcios até os Gregos e Romanos. Muitos poetas e escritores falaram dessa crença geral entre eles, senão da própria universalidade dessa crença entre todos os povos do mundo. O autor cita os seguintes: Homero, Orfeu, Hesíodo, Lino, Horácio, Ovídio, Virgílio, Sêneca etc.; Sócrates, Platão, Aristóteles, Cícero, Lucrécio, Celso. Eis, como exemplo, um trecho impressionante de Lucrécio (De natura rerum, lib. I, III): “Já não se tem mais sossego, é impossível dormir tranqüilo: por quê? porque se tem que recear, depois desta vida, penas eternas, pelo medo das quais nenhum mortal pode ser feliz .......” 0 ímpio Voltaire confessa (Ad- dit. à l‘Híst. Génér.): "A opinião da existência tanto de um Purgatório quanto de um Inferno é da mais remota Antigüidade". - Surgindo subterfúgios em contrário cumpre não esquecer as palavras de Joubert (Pensées et Essais et Maximes, t. 1, p. 318): "Desde que um raciocínio ataca o instinto e a prática universal, pode ser dificil refutá-lo, mas certissimamente é enganador e falso" (p. 194).

No Novo Testamento salienta-se a crença na existência do Inferno como uma das verdades fundamentais da religião de Cristo. Nosso Senhor não assinalou essa verdade só duas ou três vezes e superficialmente, porém quinze vezes, e isso do modo mais explícito e impressionante, como em Marcos (9, 42), Lucas (16, 19), e Mateus (25, 41). Também os Apóstolos se referiram repetidas vezes ao castigo do fogo eterno, como São Judas (c. 7), São Paulo (II Tess. 1, 9) e São João (Apoc. 14, 11; 20, 10). No sentido óbvio de todos esses textos existe, insofismavelmente, o fogo eterno do Inferno.

b) Cristo e os demônios - Dr. P. Armando Polz (171 págs. de formato francês), Editora S. C. J., Taubaté

O assunto demônios é correlativo ao do Inferno. Se existem espíritos condenados por Deus ao castigo eterno do Inferno, e se esses procuram arrastar consigo, na perdição eterna, o maior número possível de homens, claro é que deve existir, para todos os réprobos, como que uma imensa cadeia infernal, tal como a aponta a fé cristã, um braseiro de tormentos eternos horríveis.
Na introdução, o autor dá uma orientação geral acerca do assunto, expondo a crença pagã, judaica e cristã sobre os demônios.
Quem deve perfeitamente conhecer os demônios não é senão o próprio Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo. De inúmeros textos da Sagrada Escritura tira e concretiza o autor a palavra de Cristo sobre os demônios. Na 1o parte assinala nove características dos demônios; na 2o parte prova o triunfo de Cristo sobre eles todos. Da absoluta superioridade de Cristo sobre o demônio tira o autor a última conclusão da incontestável divindade de Cristo.
Se, pois, existem os demônios, tais quais o próprio Cristo os pintou, como inimigos de Deus e dos homens, deve existir o Inferno, ao qual todos eles estão condenados para sempre, juntamente com os homens seduzidos por eles e revoltados contra Deus.

2. No caminho do Inferno estão os ímpios e os pecadores impenitentes

Os ímpios vêm a ser chamados também os sem-Deus. Nada querem saber de Deus, nem de Cristo e de sua Religião. Chegam mesmo a odiá-los e persegui-los. Formam o imenso exército de satanás neste Mundo. A ele pertencem, como chefes invisíveis, a maçonaria e as similares sociedades secretas. A ele pertencem todos os niilistas, anarquistas, bolchevistas e comunistas militantes do Mundo. A ele pertencem todos os sem-Deus, que o negam teórica ou praticamente e vivem sem Ele. Inúmeros estão nessa condição. A conseqüência é fatal: como nada querem saber de Deus durante a vida e perseguem a religião o mais que podem, sua sorte eterna não pode ser senão a dos sem-Deus, a serem relegados ao Inferno e atormentados pelos demônios por toda a eternidade.

No caminho do Inferno estão igualmente todos os pecadores impenitentes. São Paulo preveniu (I Cor. 6): "Não vos enganeis: nem os ímpios, nem os idólatras, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os ébrios possuirão o reino do Céu”. Além dos pecados de ação, há os de omissão, deixando-se de cumprir graves obrigações de estado ou de profissão, do estado matrimonial, sacerdotal ou religioso, da profissão exercida ou do cargo assumido. Ninguém pode dispensar-se do seu cumprimento. Dai resulta na vida de cada um, a possibilidade de cometer numerosos pecados mortais, por pensamentos, palavras e obras, pecados de orgulho, de injustiça e de luxúria.
Se o pecado grave em si merece o castigo do Inferno, só atira ao mesmo, caso não seja retratado, arrependido e reparado, como acontece na impenitência final do homem que morre em seu pecado ou impenitente. Errar e pecar é humano, mas obstinar-se no erro e perseverar no pecado, é diabólico. Se no momento de pecar o homem se deixa facilmente fascinar pelo deleite pecaminoso, logo depois de cometido o pecado, os olhos se lhe abrem e volta-lhe o bom senso; ele sente-se então naturalmente envergonhado e levado ao arrependimento. Se pelo contrário ele se obstinar no pecado, tanto mais culpado ele se torna. A obstinação no mal é um pecado contra o Espírito Santo. O adiamento da conversão leva muitíssimas vezes ao sumo castigo da impenitência final e conseguintemente ao Inferno.
N. B. - Como dedução lógica do que vem exposto cumpre finalmente notar que, além dos declarados inimigos de Deus, cairão fatalmente no Inferno todos os que desse nada querem ouvir, ler e saber, e que com Ele não se importam e vivem como se Ele não existisse.

3. Alternativa fatal

Deus colocou o homem num mundo de maravilhas que o encantam, com a ordem de dominar as criaturas, de usá-las sem abusar delas, de dar a Ele o que Lhe deve, de adorá-Lo, glorificá-Lo sobre tudo, e de amar o próximo como a si próprio. Deu-lhe suficiente inteligência, para discernir o bem do mal, e suficiente força para evitar o mal e praticar o bem. Pela oração oferece-lhe quantas graças ele precisar, para cumprir o seu destino.
Enquanto o homem vive na Terra, acha-se atirado entre dois extremos, entre a definitiva posse de Deus no Céu e a sua definitiva perda no Inferno. Cumpre-lhe escolher entre o Sumo Bem e o Sumo Mal. Por sua vida revela-se pró ou contra Deus, amigo de Deus ou revoltado contra Ele. Se o homem preferir os bens perecíveis deste Mundo às recompensas espirituais do outro, perderá todos eles, os deste e os do outro Mundo. No fim da vida ficará relegado ao extremo oposto a Deus, entregue aos demônios e abandonado aos mais horríveis tormentos do Inferno.
Cada dia da sua vida encontra-se o homem de novo nesta terrível alternativa, quanto a sua sorte definitiva eterna. A essa alternativa ninguém pode fugir. Para todos é a fatalidade final. Ao morrer, cada um receberá a recompensa do que tiver preferido em sua vida terrestre cada dia mais seguramente: ficará com Deus no Céu eternamente, ou ficará relegado ao Inferno, para o lugar da reprovação eterna e de tormentos sem fim. Ninguém escapará a esse dilema, a essa alternativa fatal. Ninguém fugirá das mãos de Deus. Diante de Deus, não há fuga possível, senão para Ele.

4. Temor e amor de Deus

Antes de tudo insistiu Nosso Senhor para com seus ouvintes na indispensável necessidade do santo temor a Deus. Basta lembrar o texto de São Mateus (10, 28): "Não temais aos que podem trucidar o corpo, mas não podem matar a alma. Muito antes temei Aque- le que pode atirar corpo e alma ao Inferno". - O papel que na vida espiritual cabe ao temor a Deus é básico: "É a última barreira contra a qual vem esbarrar a violência da tentação. Se ela ficar firme, o homem se salva do naufrágio do pecado. Se ela não resistir, toma-se ele vítima da própria perversidade" (p. 62 da obra citada). Em realidade: "O temor de Deus é o início da sabedoria”(Prov. 1, 7).

O temor e o amor a Deus não se excluem, mas superpõem-se e completam-se mutuamente. Entre ambos há mais o motivo de interesse. Temor, interesse e amor, lícitos ou ilícitos, são os três únicos motivos que põem e mantêm o Mundo inteiro em movimento. Se o amor a Deus não é suficiente para levar o homem a cumprir a lei de Deus, restam os dois primeiros motivos, o do próprio interesse e o do temor a Deus. Esse é o último recurso de Deus para obrigar o homem a andar direito e cumprir os seus deveres. Deus aceita o serviço e o arrependimento humanos inspirados pelo temor reverencial ou filial, como também os inspirados pelo medo ao castigo, pelo que o pecador se afasta realmente do pecado, porque ofende e irrita a Deus. Fora da confissão, só vale a contrição perfeita de amor a Deus para se obter perdão. Resulta daí o imenso beneficio e a imensa vantagem que a Confissão oferece aos Católicos.
Foi por amor ao homem que Deus criou o Mundo com todas as suas belezas. Foi por amor que Deus destinou o homem a viver um dia juntamente com Ele no Céu, em companhia de todos os Anjos e Santos. No entanto, o homem devia querer e merecer essa felicidade, e tomar-se digno da companhia divina por uma adequada vida e fidelidade a Deus. Esta é a razão do estado transitório do homem e da provação a que ele está submetido neste Mundo até a sua morte. O próprio Inferno, Deus o criou por amor aos homens, para obrigar-nos e quase forçar-nos a amá-Lo devidamente. Mas quem se recusar a se render ao amor de Deus e obstinar-se por maldade em servir aos ídolos da Terra, perderá fatalmente o Céu com a eterna felicidade, e cairá no Inferno de tormentos eternos. Enquanto, porém, o homem continuar a viver neste Mundo, Deus procura, sem cessar, atraí-lo para Si e convertê-lo, oferecendo-lhe graça e perdão. De braços abertos acolherá a qualquer momento o filho pródigo contrito, com suma bondade e misericórdia.

5. Ilimitada confiança na infinita bondade e misericórdia de Deus

(Revelações tiradas de Convite a uma Vida de Amor, de Sóror Josefa Menendez, 2a. ed., 1948, das págs. 94 a 133).
Ensinar-te-ei os meus segredos de amor, e tu serás exemplo vivo da minha Misericórdia, porque, se tenho tanto amor e predileção por ti que não és mais que miséria e nada, que não farei Eu por muitas outras almas mais generosas do que tu?
Farei conhecer que a minha obra repousa sobre o nada e a miséria, e que esse é o primeiro anel da cadeia de amor que desde toda a eternidade preparo às almas.
Farei conhecer até que ponto o meu Coração as ama e lhes perdoa. Vejo o íntimo das almas. .... O ato de humildade que fazem reconhecendo sua fraqueza. .... Pouco se Me dá a fraqueza delas. .... Supro o que lhes falta.

Farei conhecer como é que o meu Coração se serve dessa fraqueza para dar a vida a muitas almas que a perderam. Farei conhecer que a medida do meu Amor e da minha Misericórdia para com as almas caídas não tem limites. ....
Se tu és um abismo de miséria, Eu sou um abismo de Bondade e Misericórdia. O meu Coração é teu refúgio. Vem procurar nele tudo aquilo de que precisas, ainda mesmo que se trate de coisa que Eu te peça.
Não julgues que deixarei de amar-te por causa das tuas misérias, não: meu Coração ama-te e não te abandonará jamais. Bem sabes que é propriedade do fogo abrasar e destruir: assim é próprio do meu Coração perdoar, purificar e amar.
Não te disse muitas vezes que o meu único desejo é que as almas Me dêem as suas misérias? Se não ousas aproxímar-te de Mim, aproximar-Me-ei Eu de ti.
Quanto mais fraquezas encontrares em ti, tanto mais Amor encontrarás em Mim. Pouco Me importam as tuas misérias, o que Eu quero é ser o Dono de tua miséria.
A tua pequenez dá lugar à minha grandeza. .... A tua miséria e mesmo os teus pecados dão lugar à minha Misericórdia. .... A tua confiança atrai o meu Amor e a minha Bondade.
Não vos peço senão aquilo que tendes. Dai-Me o vosso coração vazio e Eu o encherei; dai-Mo despido de tudo e Eu o revestirei; dai-Me as vossas misérias e Eu as consumirei. O que não vedes, Eu vo-lo mostrarei ... Pelo que não tendes, responderei Eu.
Há muitas almas que crêem em Mim, mas poucas que acreditam no meu Amor; e, entre as que acreditam no meu Amor, são pouquíssimas as que contam com a minha Misericórdia. ....
Se peço amor em correspondência ao que Me consome, não é o único retomo que desejo das almas: desejo que creiam na minha Misericórdia, esperem tudo da minha Bondade, e não duvidem nunca do meu perdão.
Sou Deus, mas Deus de Amor! Sou Pai, mas Pai que ama com ternura e não com severidade. O meu Coração é infinitamente santo, mas também é infinitamente sábio e, como conhece a miséria e a fragilidade humanas, inclina-se para os pobres pecadores com Misericórdia infinita.
Amo as almas depois que cometeram o seu primeiro pecado se vêm pedir-Me humildemente perdão. .... Amo-as ainda, quando choram o seu segundo pecado e, se isso se repete, não digo um bilhão de vezes, porém milhões de bilhões de vezes, amo-as e perdôo-lhes sempre e lavo no meu Sangue o último, como o primeiro pecado!

Não Me canso das almas e o meu Coração espera sempre que venham refugiar-se nEle, por mais miseráveis que sejam! Não tem um pai mais cuidado com o filho que é doente, do que com os que têm boa saúde? Para com esse filho, não são maiores as suas delicadezas e a sua solicitude? Assim também o meu Coração derrama sobre os pecadores, com mais liberalidade do que sobre os justos, a sua compaixão e a sua ternura.
Quantas almas encontrarão a vida nas minhas palavras! Quantas cobrarão ânimo ao ver o fruto dos seus esforços: um pequeno ato de generosidade, de paciência, de pobreza, pode vir a ser um tesouro e ganhar para o meu Coração um grande número de almas. .... Eu não atendo à ação: atendo à intenção. O menor ato, feito por amor, pode adquirir tanto mérito e dar-Me tanta consolação! O meu Coração dá valor divino às menores ações. O que quero é amar. Não procuro senão amor. .... Não peço senão amor.

O fogo eterno do Inferno será a merecida paga pelo Amor de Deus desprezado, calcado aos pés.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Conhecendo um pouco mais sobre a Bíblia

"Eis que vem o tempo, diz o Senhor, em que eu enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra do Senhor" ( Am 8,11 ).
“Não se ama, aquilo que não se conhece”. É necessário, pois, estarmos a aprender, cada vez mais, sobre Deus e seus ensinamentos, contidos na Bíblia. É Ele mesmo que nos pede: “buscai diligentemente no Livro do Senhor, e lede; nada do que vos anuncio deixará de acontecer ...” ( Is 34,16 ).

Na introdução geral à Bíblia Sagrada, editada pelas Edições Paulinas, 37 ed., nos explica que “O Novo Testamento inteiro foi escrito em grego (...); quanto ao Antigo Testamento, temos três idiomas originais. A maior parte foi escrita e chegou até nós em língua hebraica. Alguns capítulos dos livros de Esdras e de Daniel, e um versículo Jeremias, estão em aramaico, que foi o idioma falado na Palestina, depois do exílio babilônico ( séc. VI aC ). Dois livros, o segundo de Macabeus e a Sabedoria foram escritos originalmente em grego. Dos livros de Judite, Tobias e Baruc, Eclesiástico e parte também de Daniel e Ester, perdeu-se, como no caso do Evangelho de Mateus, o texto original, hebraico ou aramaico, sendo substituído pela versão grega” ( pág. 8 ). Pe. Flávio Cavalca de Castro nos explica que um terço do original hebraico do Livro do Eclesiástico foi descoberto em 1896 ( Para ler a Bíblia, p. 32 ).

A primeira grande tradução da Bíblia foi feita por São Jerônimo, do grego para o latim, por solicitação do Papa Dâmaso, em 382. Essa tradução chamou-se de “Vulgata Latina”. Foi terminada por volta do ano 405, chegando a ser de uso universal. Atualmente, a Bíblia é traduzida em quase todas as línguas do mundo. É considerado o livro mais conhecido, mais lido e estudado. Por sinal, as cópias mais antigas da Bíblia se encontram na Biblioteca Vaticana, código Vaticano B-03, e no Museu Britânico, código Sinaítico S-01.

Além das traduções na sua própria língua nacional, para facilitar mais ainda a sua leitura e para consultá-la, cada livro foi dividido em capítulo. E cada capítulo em versículos. A divisão em capítulos foi feita pelo cardeal Estevão Langton, em 1228, e a divisão em versículos, para o Antigo Testamento, foi feita pelo Frei Sante Pagnini ( 1528 ) e, para o Novo Testamento, por Roberto Estevão ( 1550 ). Entende-se, entretanto, que essas divisões são apenas de valor prático, não científico. A Bíblia toda contém 73 livros, 1.333 capítulos e 35.700 versículos.

A Bíblia Católica contém todos os livros inspirados por Deus; traz sempre no rodapé de cada página notas explicativas, para facilitar ao leitor a compreensão da Palavra de Deus; e apresenta sempre nas suas primeiras páginas o “Imprimatur”, isto é, o “imprima-se” de um bispo, como garantia absoluta de que se trata de uma tradução autêntica da Palavra de Deus. Os bispos a aprovam na qualidade de sucessores dos Apóstolos ( Cf. Mt 28,18-20 ).

Esclarece-nos Pe. Vicente Wrosz: “Cronologicamente, Jesus: 1) Escolheu, autorizou e enviou os Apóstolos, sob a presidência de Pedro, a evangelizar todos os povos, estabelecendo assim o Magistério da Igreja; 2) Este ensinamento, oral e pelas cartas, foi transmitido pelos Apóstolos, - como Tradição Apostólica, - aos bispos e presbíteros por eles escolhidos e consagrados ( Cf. Mc 1,5 e 1Pd 5,1-2 ); 3) Somente depois de mais de 2 séculos, o Papa reunido com os Bispos em Concílio, com sua autoridade infalível, declarou uma parte destes escritos da Tradição, como Cânon de Livros Sagrados, ou Sagrada Escritura, ou Bíblia: reservando-se o direito e a obrigação de vigiar sobre sua autêntica interpretação, de acordo com a Tradição Apostólica” ( Respostas da Bíblia, 48 ed., p.31 ).

A Bíblia não é um livro comum. É para nós: Consolo ( 1Mc 12,9 ); alimento e sustento para a nossa vida (Lc 4,4); luz a nos guiar (Sl 118,105); firmeza na esperança e fonte de coragem e força ( Rm 15,4 ); bem-aventurança ( Ap 1,3 ); vida ( Pr 7,1s ); socorro ( Sl 118,175 ); uma arma e uma armadura contra o mal (Ef 6,17); paz ( Sl 118,165 ); conhecimento que nos ensina e nos forma na justiça ( 2Tm 3,16-17 ) etc.
Devemos, pois, ter cinco atitudes perante as Sagradas Escrituras: 1) Ouvi-la (Jo 8,47a); 2) Acreditar nela (Jo 5,38); 3) Meditá-la (Sl 1,2); 4) Comunicá-la (2Tm 4,2a); e, 5) Praticá-la (Tg 1,22.25).

Ela “foi escrita a fim de que vós creiais que Jesus é o Cristo, Filho de Deus; e para que, crendo, tenhais a vida eterna em virtude do seu Nome” ( Jo 20,31 ), por isso não podemos jamais tê-la como conhecimento inútil e desnecessário, como nos adverte Moisés: “Maldito o que não conserva as palavras desta Lei, e as não põe em prática” ( Dt 27,26 ). Devemos, porém, “atentar antes de tudo a isto: que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular” ( 2Pd 1,20 ) e “nas quais há coisas difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes (na fé) adulteram (como também as outras Escrituras) para sua própria perdição” ( 2Pd 3,16 ).

Sabemos que a Palavra de Deus não pode desaparecer ( Cf. Lc 21,33 e 1Pd 1,25 ) e nem ser desprezada ou anulada ( Cf. Jo 10,35c ), tendo sido comunicada por homens santos e inspirados ( Cf. 2Pd 1,21 ) e que devemos sempre dar graças a Deus, por tê-la em nossa vida ( Cf. 1Ts 2,13 ).
Alguém poderia perguntar: Nossa única referência de fé é a Bíblia ? A resposta do Cristão é simplesmente NÃO. A Bíblia por si só não basta, pois ela é um livro mudo, apesar de ser sagrado. É o que confirma Pe. Júlio Maria: “Todo livro precisa de uma interpretação, feita por uma autoridade competente, senão é letra morta, e a letra morta só pode dar a morte ( Cf. 2Cor 3,6 ), enquanto o espírito da interpretação autêntica dá vida” ( Luz nas Trevas, p. 12 ).

Questiona-se bastante: Toda e qualquer pessoa é capaz de interpretar a Bíblia de maneira correta e aprovada ? É claro que não, porque ela não é de interpretação particular ( Cf. 2Pd 1,20 ). A própria Escritura menciona a dificuldade de algumas de suas passagens e da interpretação do livro como um todo ( Cf. 2Pd 3,16 e Hb 5,11-12 ). Na passagem bíblica de Lc 14,1-5 os fariseus não aceitam que Jesus cure uma pessoa no Sábado, interpretando erroneamente o Livro do Exôdo ( Cf. Ex 20,8-11 ). Mesmo assim, muitos ainda contra argumentam dizendo que o Espírito Santo toma a si a tarefa de explicar a Bíblia a cada pessoa. Então, se este é o caso, por que não a explicou ao ministro etíope, por exemplo ? ( Cf. At 8,30-35 ). Como explicar também tantas seitas e doutrinas, as mais diferentes e absurdas possíveis, onde seus líderes afirmam que interpretam a Bíblia segundo o Espírito Santo ?

Devemos ler a Bíblia lógica ou ilogicamente ? São Paulo responde: “Rogo-vos, pois, irmãos, que ofereçais os vossos corpos como uma hóstia viva, santa, agradável a Deus, o culto racional que lhe deveis” ( Rm 12,1 ). A religião e a devoção, enquanto nos aproximam de Deus, também devem ser baseados na lógica e na sabedoria. O próprio Cristo repreende os dois discípulos de Emáus por sua falta de entendimento (Cf. Lc 24,25-27).
É importante esclarecer que os livros do Novo Testamento foram completados mais ou menos no ano 90 da Era Cristã. Jesus Cristo não escreveu nada. Portanto, os primeiros cristãos viveram a fé em torno de 60 anos sem os livros do Novo Testamento. Levaram mais 300 anos (por volta de 367) para terem todo o Novo Testamento ( com seus 27 livros ) reconhecidos por todos. Já o Antigo Testamento, começou a ser escrito no tempo de Moisés, que viveu em torno do ano 1250 aC.
A Bíblia inclui tudo ? A resposta é não ! Eis uma prova que vem da própria Bíblia: existem livros que foram escritos pelos apóstolos e que não foram incluídos na Bíblia, como a primeira epístola de São Paulo aos Coríntios, anterior à nossa ( Cf. 1Cor 5,9ss ) e a carta de São Paulo aos Laodicenses, mencionada em Cl 4,16. Mesmo os Livros Sagrados que temos em mãos não incluem tudo sobre Jesus e seus prodígios (Cf. Jo 20,30 ). E da mesma maneira, os escritores inspirados não nos deram conta de tudo aquilo que Jesus falou ou disse ( Cf. Jo 16,12 e Jo 21,25 ). Além disso, devemos recorrer a Tradição Oral, como afirma São Paulo: “O que ouviste de mim na presença muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis capazes de ensinar a outros“ ( 2Tm 2,1-2 ) e “permanecei, pois, constantes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes, ou por nossas palavras, ou por nossa carta” (2Ts 2,14). Confira ainda: 2Tm 1,13 e 2Ts 3,6.
Enfim, vale a pena citar alguns pensamentos sobre a Bíblia para reflexão: “A Bíblia não existe para ser criticada, mas para que nos critique” ( Sören Kierkegaard ); “É impossível governar perfeitamente o mundo, sem Deus e sem a Bíblia” ( George Washington ); “Quem não conhece as Escrituras, não conhece Cristo” (São Jerônimo); “Lendo a Escritura nós ouvimos a Deus; pela oração nós lhe falamos” ( Santo Ambrósio ).

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Santo Sudário pode sustentar teoria da Ressurreição, diz cientista


As últimas descobertas sobre o Santo Sudário realizados pelos cientistas da Agência Nacional para as Novas Tecnologias, a Energia e o Desenvolvimento da Itália (ENEA) "não contradizem a teoria da Ressurreição" de Jesus Cristo, conforme declarou o diretor da equipe que realizou a investigação, o professor Paolo Di Lazzaro.Em uma entrevista à agência Europa Press, Di Lazzaro explicou as conclusões do estudo, que duraram quatro anos e cujo objetivo era descobrir o modo em que foi realizada a enigmática imagem do Santo Sudário de Turim (ao norte da Itália), o linho que, segundo a tradição, cobriu o corpo morto de Jesus Cristo depois da crucificação.Este manto se converteu em um dos objetos mais estudados do mundo. A principal interrogação que este expõe à ciência é sobre o modo em que foi realizada a imagem, cujas características químicas e físicas são virtualmente impossíveis de replicar, tanto ontem como hoje."Pelo momento, não foi possível reproduzi-la com nenhuma técnica conhecida", já que "embora macroscopicamente pode que não se notem as diferenças, estas resultam evidentes quando se observa a malha em nível microscópico", detalhou Di Lazzaro.A particularidade da imagem original reside na "profundidade da coloração", que foi impressa "de modo muito superficial, unicamente nos estratos mais externos da malha". Depois de observá-la bem, sua equipe percebeu que "a imagem do Santo Sudário se parecia com as que realizam algumas indústrias têxteis através do laser", por isso decidiram investigar o fato.Depois de anos de experiências, a equipe conseguiu, pela primeira vez, "colorir uma malha de linho com a mesma sutil espessura com que foi colorida o Santo Sudário" através de "impulsos de luz ultravioleta extremamente breves mas muito intensos emitidos com um laser especial".Mas contudo, os investigadores só conseguiram reproduzir uma parte pequena do Santo Sudário, já que "para colori-la inteira seriam necessários 14 mil lasers, algo que no momento é impossível", admitiu.Não obstante, isto não tira valor à descoberta, com a que, pelo menos, "foi possível indicar o mecanismo físico que poderia ter estado na origem da imagem". Do mesmo modo, ao ser perguntado a respeito, Di Lazzaro considerou que tal mecanismo "não contradiz a teoria religiosa do milagre ou da ressurreição", já que esta poderia ter sido a causa da descarga de energia que originou a imagem, embora "este é um âmbito do que não podemos nos ocupar como cientistas", precisou.Nos últimos dias, Di Lazzaro organizou um seminário em Frascati (centro da Itália) no qual 48 peritos de todo o mundo se reuniram para falar das imagens chamadas acheiropoietos, quer dizer, que "não foram feitas com as mãos".O seminário, que terminou esta quinta-feira, contou com a participação de cientistas especializados procedentes de 16 nações. Além do Santo Sudário, foram analisadas a imagem da Virgem do Guadalupe o manto de Juan Diego e o Véu do Manoppello, que segundo a tradição, seria a imagem que teria deixado gravada Jesus no lenço com o que Santa Verônica secou o seu rosto durante a Paixão.

sábado, 15 de maio de 2010

A Infalibilidade da Igreja

Paulo VI lamentou as ambigüidades que surgiram na Igreja, após o Concílio, perturbando a consciência de muitos fiéis e extenuando o vigor da Fé.
Podemos ver nessa constatação um efeito da "fumaça de Satanás", que poluiu os ambientes eclesiásticos, e um dos meios de autodemolição da Igreja, ou seja, de uma destruição por elementos que nEla se encontram instalados.
Uma das maneiras de alimentar as ambigüidades nefastas entre os fiéis é a imprecisão com que se exprimem hoje, certos dogmas da Fé. Ora diminuindo-os o vigor, ora exagerando-os, ora conceituando-os em termos elásticos, a conseqüência é sempre o desassossego causado pela insegurança doutrinária.
Entre os dogmas, cuja imprecisão na terminologia maior confusão e intranqüilidade causa, está o da Infalibilidade Pontifícia. Alguns o ampliam, atribuindo inerrância a qualquer pronunciamento do Papa, chegando alguns a confundir infalibilidade com impecabilidade, como se o Romano Pontífice, pelo fato de ser Papa, fosse incapaz de falhar na prática da virtude cristã. Outros há que restringem em demasia o âmbito da infalibilidade, questionando até verdades já definidas por todo o sempre, como acontece com vários pontos do ensinamento católico fixado pelo Concílio de Trento.

A Infalibilidade:

Na locução de 18 de setembro de 1968, por ocasião da audiência geral de Castelgandolfo, Paulo VI insistia sobre o cuidado em procurar a informação exata e completa. Tal recomendação aplica-se também às definições da Santa Igreja. É indispensável conhecer todo o alcance do ensinamento do Magistério, dentro, porém, sempre do âmbito delimitado pelo mesmo Magistério.
Semelhante cuidado se impõe também quando se trata da infalibilidade pontifícia. - É exato que o Papa é sempre infalível?
O texto do dogma da infalibilidade impõe certas condições. Ei-lo na sua clareza e precisão: "O Romano Pontífice, quando fala ex cathedra, isto é, quando, no desempenho de sua função de Pastor e Doutor de todos os cristãos, define, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, que uma doutrina concernente à Fé ou aos Costumes, deve ser aceita por toda a Igreja, goza, graças à assistência divina, a ele prometida na pessoa de São Pedro, daquela infalibilidade da qual quis o Divino Redentor fosse dotada a sua Igreja ao definir uma doutrina sobre a Fé ou os Costumes; assim, tais definições são por si mesmas irreformáveis, e não pelo consentimento da Igreja".

Magistério extraordinário:

Semelhantes atos pontifícios constituem a expressão do seu "Magistério extraordinário" (ou solene), isto é, de sua Autoridade docente de Príncipe dos Apóstolos, excepcionalmente afirmada sobre toda a Igreja, dentro das condições de sua estrita competência, com termos de uma precisão canônica, impondo-se à consciência católica e excluindo toda possibilidade de ulterior mudança.

O modo de definir:

A garantia de autenticidade destes atos solenes não reside no luxo do aparato exterior. Para uma definição, o Papa poderia utilizar igualmente uma Encíclica, uma Rádio-mensagem, como um Breve ou uma Constituição Apostólica. Ele permanece livre de escolher o modo de expressão que julgar mais oportuno.
Porquanto, basta - mas é absolutamente necessário - que o Papa proceda conforme as condições requeridas, dogmaticamente definidas, para que um ato "ex cathedra" tenha sua existência objetivamente comprovada como infalível, sem lugar a dúvidas.
"Como o uso constante da Igreja e dos Soberanos Pontífices consagra certas fórmulas, para assinalar sem possibilidade de dúvida, a toda a Cristandade, o julgamento supremo definitivo [...], segue-se que, se o Papa negligencia tais fórmulas e não exprime claramente que, apesar desta omissão, entende ele e deseja definir como juiz supremo da Fé, deve-se pensar que não exprimiu seu julgamento como infalível" (Gregório XVI - Il trionfo della Santa Sede, Veneza, 1838).
"De si e não pelo consentimento da Igreja" - É preciso evitar o pensamento de que o carisma da infalibilidade é totalmente independente da Igreja. Pessoal embora, e possuindo um valor independente do consentimento da Igreja, não está ele desvinculado da Igreja, uma vez que o Romano Pontífice o possui precisamente enquanto chefe da Igreja e na sua função de doutor e pastor dessa Igreja. Recusando-se a ver no consentimento da Igreja, a fonte da infalibilidade pontifícia, o Concílio do Vaticano, absolutamente não quis dizer que o papa - aliás, órgão da Tradição - deveria no exercício do seu Magistério infalível prescindir do contato estreito com o sensus Ecclesiae (R. Augert, Va. I, col. Histg. Des Concilles, Docum. n.º 12, Paris, 1964, pp. 292-298).

Magistério Ordinário:

Além do Magistério extraordinário, solene, exerce o Papa um Magistério ordinário. Sem dúvida, distintos, seria erro grave opor Magistério solene e ordinário, segundo as categorias muito simplistas de infalível e falível, uma vez que, seja qual for a via pela qual nos chega a Doutrina, esta é sempre infalivelmente verdadeira, quando certamente ensinada pela Igreja inteira, ou somente pelo seu Chefe. Contudo, enquanto no Magistério solene a garantia pode nos ser dada pelo julgamento de um só, tomado à parte, no ensinamento ordinário ela só pode provir de uma continuidade e de um conjunto. Fora dos julgamentos solenes, a autoridade das diversas expressões do ensinamento pontifício comporta degraus e matizes. Todos, não obstante, se integram autenticamente nessa Tradição contínua e sempre viva, cujo conteúdo não poderia estar sujeito a erro sem que periclitassem as promessas de Jesus Cristo, e a própria economia da instituição da Igreja.

O Magistério e a Tradição:

Assim, o critério para se avaliar um ensinamento isolado, é relacioná-lo com o ensinamento, continuado através dos séculos, verificado em toda a Igreja.
Continuidade. - Ensina Pio XII: "Desde os tempos mais remotos, encontram-se diversos testemunhos, índices ou vestígios que manifestam a Fé comum da Igreja no decurso dos séculos" (Const. Apost. Magnificentissimus, A.A.S. 42, 1950, p. 757). A mesma conclusão emerge do costume habitual dos Papas, pois, percorrendo as Atas dos Pontífices Romanos, pode-se perceber o cuidado que tiveram eles em citar, a propósito de cada problema, as decisões de seus predecessores e de se situar, através de suas múltiplas referências, no conjunto da Tradição.
Vale dizer que eles quiseram, assim sublinhar uma fidelidade pastoral e doutrinária, da qual depende o valor da inerrância do julgamento presente, proceda ele do Magistério solene ou do ordinário.
Com efeito, o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de São Pedro para lhes permitir publicar uma doutrina nova, sob sua inspiração; mas, para guardar de modo estrito, e expor fielmente com sua assistência, a revelação transmitida pelos Apóstolos, isto é, o Depósito da Fé. São Vicente de Lerins resumiu muito bem o critério na matéria: "Na Igreja Católica deve-se ter o máximo empenho em professar aquilo que, em todo o lugar, sempre e por todos foi crido" ("Commonitorium, 2,5", in Kirch, "Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Antiquae", 742).
Fora deste conjunto e desta continuidade, que são os dois aspectos da Tradição, e fora da assistência divina prometida ao Magistério, agindo em sua ordem e de acordo com o costume, não há espécie alguma de garantia formal, para o exercício correto do cargo supremo na Igreja, e, portanto, nenhum dever de obediência incondicional. Assim, é necessário, portanto, para nossa salvação, que a virtude da obediência comporte esforços de discernimento, que sejam a contrapartida meritória do Dom do Conselho.

Alguns exemplos históricos:

Bem examinada a definição da infalibilidade, proclamada no I Concílio do Vaticano, vê-se que o exercício do magistério pessoal infalível, considerando-se seu campo e suas condições, não atinge todos os atos pontifícios, como também se evidencia que não será preciso crer que a infalibilidade abarca todos os domínios da atividade pontifícia. É isso de tal modo verdadeiro, que os teólogos estudam o caso de um Papa escandaloso, de um Papa herético, de um Papa cismático... Resulta, aliás, que os casos nos quais a infalibilidade pessoal do papa está engajada são marcadamente raros. Por exemplo: quanto ao Concílio Vaticano II, Paulo VI, formalmente, excluiu-o do magistério infalível. Eis suas palavras: "Dado seu caráter pastoral, o concílio evitou pronunciar, de maneira extraordinária, dogmas dotados de nota da infalibilidade".