terça-feira, 31 de agosto de 2010

EFUSÃO DO ESPÍRITO SANTO

Celebrações cristãs e efusão do Espírito Santo


A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os atualiza, toma-os presentes. O mistério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete são as celebrações; em cada uma delas sobrevêm a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério.


Efeitos da efusão do Espírito Santo

O Espírito Santo está em ação com o Pai e o Filho do início até a consumação do Projeto de nossa salvação. Mas é nos "últimos tempos", inaugurados pela Encarnação redentora do Filho que ele é revelado e dado, reconhecido e acolhido como Pessoa. Então este Projeto Divino, realizado em Cristo, "Primogênito" e Cabeça da nova criação, poderá tomar corpo na humanidade pelo Espírito difundido: a Igreja, a comunhão dos santos, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne, a Vida Eterna.

Contra toda esperança humana, Deus promete a Abraão a uma descendência, como fruto da fé e do poder do Espírito Santo Nela serão abençoadas todas as nações da terra. Esta descendência será Cristo, no qual a efusão do Espírito Santo fará "a unidade dos filhos de Deus dispersos". Ao comprometer-se por juramento, Deus já se compromete a dar seu Filho bem-amado e "o Espírito da promessa... que prepara a redenção do Povo que Deus adquiriu para si".

"O Pai eterno, por libérrimo e arcano desígnio de sua sabedoria e bondade, criou todo o universo; decidiu elevar os homens à comunhão da vida divina", à qual chama todos os homens em seu Filho: "Todos os que crêem em Cristo, o Pai quis chamá-los a formarem a santa Igreja". Esta "família de Deus" se constitui e se realiza gradualmente ao longo das etapas da história humana, segundo as disposições do Pai. Com efeito, "desde a origem do mundo a Igreja foi prefigurada. Foi admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga aliança. Foi fundada nos últimos tempos. Foi manifestada pela efusão do Espírito. E no fim dos tempos será gloriosamente consumada".

No dia de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, a Igreja é manifestada ao mundo. O dom do Espírito inaugura um tempo novo na "dispensação do mistério": o tempo da Igreja, durante o qual Cristo manifesta, toma presente e comunica sua obra de salvação pela liturgia de sua Igreja, "até que ele venha" (1 Cor 11,26). Durante este tempo da Igreja, Cristo vive e age em sua Igreja e com ela de forma nova, própria deste tempo novo. Age pelos sacramentos; é isto que a Tradição comum do Oriente e do Ocidente chama de "economia sacramental"; esta consiste na comunicação (ou "dispensação") dos frutos do Mistério Pascal de Cristo na celebração da liturgia "sacramental" da Igreja. Por isso, importa ilustrar primeiro esta "dispensação sacramental" (Capítulo I). Assim aparecerão com mais clareza a natureza e os aspectos essenciais da celebração litúrgica (Capítulo II.).

Tornar-se cristão, eis algo que se realiza desde os tempos dos apóstolos por um itinerário e uma iniciação que passa por várias etapas. Este itinerário pode ser percorrido com rapidez ou lentamente. Dever sempre comportar alguns elementos essenciais: o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho acarretando uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à Comunhão Eucarística.

Efusão do Espírito Santo como realização da Páscoa de Cristo

Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo

No dia de Pentecostes (no fim das sete semanas pascais), a Páscoa de Cristo se realiza na efusão do Espírito Santo, que é manifestado, dado e comunicado como Pessoa Divina: de sua plenitude, Cristo, Senhor, derrama em profusão o Espírito.

Efusão do Espírito Santo no sacramento da Confirmação

No rito romano, o Bispo estende as mãos sobre o conjunto dos confirmandos, gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é o sinal do dom do Espírito. Cabe ao Bispo invocar a efusão do Espírito:

Deus Todo-Poderoso, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que pela água e pelo Espírito Santo fizestes renascer estes vossos servos, libertando-os do pecado, enviai-lhes o Espírito Santo Paráclito; dai-lhes, Senhor, o espírito de sabedoria e inteligência, o espírito de conselho e fortaleza, o espírito da ciência e piedade - e enchei-os do espírito de vosso temor. Por Cristo Nosso Senhor.

Da celebração ressalta que o efeito do sacramento da Confirmação é a efusão especial do Espírito Santo, como foi outorgado outrora aos apóstolos no dia de Pentecostes.

Efusão do Espírito Santo no sacramento da Ordem

O rito essencial do sacramento da Ordem consta, para os três graus, da imposição das mãos pelo Bispo sobre a cabeça do ordenando e da oração consagratória específica, que pede a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o candidato é ordenado.

Efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos para a missão

Ora, esta plenitude do Espírito não devia ser apenas a do Messias; devia ser comunicada a todo o povo messiânico. Por várias vezes Cristo prometeu esta efusão do Espírito, promessa que realizou primeiramente no dia da Páscoa. e em seguida, de maneira mais marcante, no dia de Pentecostes. Repletos do Espírito Santo, os Apóstolos começam a proclamar "as maravilhas de Deus" (At 2,11), e Pedro começa a declarar que esta efusão do Espírito é o sinal dos tempos messiânicos. Os que então creram na pregação apostólica e que se fizeram batizar também receberam o dom do Espírito Santo

Para desempenhar sua missão, "os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com especial efusão do Espírito Santo, que desceu sobre eles. E eles mesmos transmitiram a seus colaboradores, mediante a imposição das mãos, este dom espiritual que chegou até nós pela sagração episcopal"

Efusão do Espírito Santo hoje

"O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17). Os últimos tempos, que estamos vivendo, são os tempos da efusão do Espírito Santo. Trava-se, por conseguinte, um combate decisivo entre "a carne" e o Espírito:

Só um coração puro pode dizer com segurança: "Venha a nós o vosso Reino". E preciso ter aprendido com Paulo para dizer: "Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal" (Rm 6,12). Quem se conserva puro em suas ações, em seus pensamentos e em suas palavras pode dizer a Deus: "Venha o vosso Reino"

Imposição das mãos para a efusão do Espírito Santo

A mão. E impondo as mãos que Jesus cura os doentes e abençoa as criancinhas. Em nome dele, os apóstolos farão o mesmo. Melhor ainda: é pela imposição das mãos dos apóstolos que o Espírito Santo é dado. A Epístola aos Hebreus inclui a imposição das mãos entre os "artigos fundamentais" de seu ensinamento. A Igreja conservou este sinal da efusão onipotente do Espírito Santo em suas epicleses sacramentais.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A CRUZ

Cruz altar da Nova Aliança


O altar da nova aliança é a cruz do Senhor, da qual brotam os sacramentos do mistério pascal. Sobre o altar, que é o centro da igreja, se faz presente o Sacrifício da Cruz sob os sinais sacramentais. Ele é também a mesa do Senhor, para a qual o povo de Deus é convidado. Em certas liturgias orientais, o altar é também o símbolo do sepulcro (Cristo morreu de verdade e ressuscitou de verdade).

Cruz caminho para a santidade

Este sacramento é também chamado "o banho da regeneração e da renovação no Espírito Santo" (Tt 3,5), pois ele significa e realiza este nascimento a partir da água e do Espírito, sem o qual "ninguém pode entrar no Reino de Deus" (Jo 3,5).

Cruz caminho para seguir a Cristo

Por um instante, Jesus mostra sua glória divina, confirmando, assim, a confissão de Pedro. Mostra também que, para "entrar em sua glória" (Lc 24,26), deve passar pela Cruz em Jerusalém. Moisés e Elias haviam visto a glória de Deus sobre a Montanha; a Lei e os profetas tinham anunciado os sofrimentos do Messias. A Paixão de Jesus é sem dúvida a vontade do Pai: o Filho age como servo de Deus. A nuvem indica a presença do Espírito Santo: "Tota Trinitas apparuit: Pater in voce; Filius in homine, Spiritus in nube clara - A Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem clara":

O dom da fé permanece naquele que não pecou contra ela. Mas "é morta a fé sem obras" (Tg 2,26): privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um membro vivo de seu Corpo.

Efeitos do Sacrifício da cruz

"Sua sanctissima passione in ligno crucis nobis iustificationem meruit - Por sua santíssima Paixão no madeiro da cruz mereceu-nos a justificação", ensina o Concílio de Trento, sublinhando o caráter único do sacrifício de Cristo como "princípio de salvação eterna". E a Igreja venera a Cruz, cantando: crux, ave, spes única - Salve, ó Cruz, única esperança".

A Igreja é una por sua fonte: "Deste mistério, o modelo supremo e o princípio é a unidade de um só Deus na Trindade de Pessoas, Pai e Filho no Espírito Santo". A Igreja é una por seu Fundador: "Pois o próprio Filho encarnado, príncipe da paz, por sua cruz reconciliou todos os homens com Deus, restabelecendo a união de todos em um só Povo, em um só Corpo". A Igreja é una por sua "alma": "O Espírito Santo que habita nos crentes, que plenifica e rege toda a Igreja, realiza esta admirável comunhão dos fiéis e os une tão intimamente em Cristo, que ele é o princípio de Unidade da Igreja". Portanto, é da própria essência da Igreja ser una:

Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos do universo e também um único Espírito Santo, idêntico em todo lugar; há também uma única virgem que se tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja.

Comovido com tantos sofrimentos, Cristo não apenas se deixa tocar pelos doentes, mas assume suas misérias: "Ele levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças". Não curou todos os enfermos. Suas curas eram sinais da vinda do Reino de Deus. Anunciavam uma cura mais radical: a vitória sobre o pecado e a morte por sua Páscoa. Na cruz, Cristo tomou sobre si todo o peso do mal e tirou o "pecado do mundo" (Jo 1,29). A enfermidade não é mais do que uma conseqüência do pecado. Por sua paixão e morte na cruz, Cristo deu um novo sentido ao sofrimento, que doravante pode configurar-nos com Ele e unir-nos à sua paixão redentora.

Liberdade e salvação. Por sua gloriosa cruz, Cristo obteve a salvação de todos os homens. Resgatou-os do pecado que os mantinha na escravidão. "É para a liberdade que Cristo nos libertou" (Gl 5,1). Nele comungamos da "verdade que nos torna livres". O Espírito Santo nos foi dado e, como ensina o apóstolo, "onde se acha o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2 Cor 3,17). Desde agora participamos da "liberdade da glória dos filhos de Deus".

A justificação nos foi merecida pela paixão de Cristo, que se ofereceu na cruz como hóstia viva, santa e agradável a Deus, e cujo sangue se tornou instrumento de propiciação pelos pecados de toda a humanidade. A justificação é concedida pelo Batismo, sacramento da fé. Toma-nos conformes à justiça de Deus, que nos faz interiormente justos pelo poder de sua misericórdia. Tem como alvo a glória de Deus e de Cristo, e o dom da vida eterna:

Agora, porém, independentemente da lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas, justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor de todos os que crêem pois não há diferença, sendo que todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. Deus o expôs como instrumento de propiciação, por seu próprio sangue, mediante a fé. Ele queria assim mani-festar sua justiça, pelo fato de ter deixado sem punição os pe-cados de outrora, no tempo da paciência de Deus; ele queria manifestar sua justiça no tempo presente, para mostrar-se justo e para justificar aquele que tem fé em Jesus (Rm 3,21-26).

A paz terrestre é imagem e fruto da paz de Cristo, o Príncipe da paz" messiânica (Is 9,5). Pelo sangue de sua cruz, Ele "matou a inimizade na própria carne", reconciliou os homens com Deus e fez de sua Igreja o sacramento da unidade do gênero humano de sua união com Deus. "Ele é a nossa paz" (Ef 2,14). Declara "bem-aventurados os que promovem a paz" (Mt 5,9).

Eucaristia Sacrifício da cruz sempre atual

"Na última ceia, na noite em que foi entregue, nosso Salvador instituiu o Sacrifício Eucarístico de seu Corpo e Sangue. Por ele, perpetua pelos séculos, até que volte, o sacrifício da cruz, confiando destarte à Igreja, sua dileta esposa, o memorial de sua morte e ressurreição: sacramento da piedade, sinal da unidade, vínculo da caridade, banquete pascal em que Cristo é recebido como alimento, o espírito é cumulado de graça e nos é dado o penhor da glória futura."

O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo, e esta se toma presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na cruz torna-se sempre atual: "Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pelo qual Cristo nessa páscoa foi imolado, efetua-se a obra de nossa redenção."

Por ser memorial da páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter sacrifical da Eucaristia é manifestado nas próprias palavras da instituição: "Isto é o meu Corpo que será entregue por vós", e "Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que vai ser derramado por vós" (Lc 22,19-20). Na Eucaristia, Cristo dá este mesmo corpo que, entregou por nós na cruz, o próprio sangue que "derramou por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26,28).

A Eucaristia é, portanto, um sacrifício porque representa (toma presente) o Sacrifício da Cruz, porque dele é memorial e porque aplica seus frutos:

[Cristo] nosso Deus e Senhor ofereceu-se a si mesmo a Deus Pai uma única vez, morrendo como intercessor sobre o altar da cruz, a fim de realizar por eles (os homens) uma redenção eterna. Todavia, como sua morte não devia pôr fim ao seu sacerdócio (Hb 7,24.27), na última ceia, "na noite em que foi entregue (1 Cor 11,13), quis deixar à Igreja, sua esposa muito amada, um sacrifício visível (como o reclama a natureza humana) em que seria representado (feito presente) o sacrifício cruento que ia realizar-se uma vez por todas uma única vez na cruz, sacrifício este cuja memória haveria de perpetuar-se até o fim dos séculos (l Cor 11,23) e cuja virtude salutar haveria de aplicar-se à remissão dos pecados que cometemos cada dia.

A missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrifical no qual se perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e no Sangue do Senhor. Mas a celebração do Sacrifício Eucarístico está toda orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo que se ofereceu por nós.

Realeza de Cristo e cruz

Jesus acolheu a profissão de fé de Pedro, que o reconhecia como o Messias anunciando a Paixão iminente do Filho do Homem. Desvendou o conteúdo autêntico de sua realeza messiânica, seja na identidade transcendente do Filho do Homem "que desceu do Céu" (Jo 3,13) seja em sua missão redentora como Servo sofredor: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate pela multidão" (Mt 20,28). Por isso o verdadeiro sentido de sua realeza só se manifestou do alto da Cruz. É somente após sua Ressurreição que sua realeza messiânica poderá ser proclamada por Pedro diante do povo de Deus: "Que toda casa de Israel saiba com certeza: Deus o constituiu Senhor e Cristo, este Jesus que vós crucificastes" (At 2,36).

Reino de Deus estabelecido pela cruz de Cristo

O advento do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás: "Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28). Os exorcismos de Jesus libertam homens do domínio dos demônios. Antecipam a grande vitória de Jesus sobre "o príncipe deste mundo". E pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus ser definitivamente estabelecido: "Regnavit a ligno Deus - Deus reinou do alto do madeiro".

Reino dilatado pelo caminho da cruz

Mas em sua peregrinação "não ignora a Igreja o quanto se distanciam entre si a mensagem que ela profere e a fraqueza humana daqueles aos quais o Evangelho foi confiado". Somente avançando pelo caminho "da penitência e da renovação" e "pela porta estreita da Cruz" o Povo de Deus pode estender o Reino de Cristo. Com efeito, "assim como Cristo consumou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir o mesmo caminho, a fim de comunicar aos homens os frutos da salvação"

Responsabilidade da pena da cruz

No magistério de sua fé e no testemunho de seus santos a Igreja nunca esqueceu que "foram os pecadores como tais os autores e como que os instrumentos de todos os sofrimentos por que passou o Divino Redentor". Levando em conta que nossos pecados atingem o próprio Cristo, a Igreja não hesita em imputar aos cristãos a responsabilidade mais grave no suplício de Jesus, responsabilidade que com excessiva freqüência estes debitaram quase exclusivamente aos judeus.

Devemos considerar como culpados desta falta horrível os que continuam a reincidir em pecados. Já que são os nossos crimes que arrastaram Nosso Senhor Jesus Cristo ao suplício da cruz, com certeza os que mergulham nas desordens e no mal "de sua parte crucificam de novo o Filho de Deus e o expõem as injúrias" (Hb 6,6). E é imperioso reconhecer que nosso próprio crime, neste caso é maior do que o dos judeus. Pois estes, como testemunha o Apóstolo, "se tivessem conhecido o Rei da glória, nunca o teriam crucificado" (1Cor 2,8). Nós, porém, fazemos profissão de conhecê-lo. E, quando o negamos por nossos atos, de certo modo levantamos contra Ele nossas mãos homicidas. Os demônios, então, não foram eles que o crucificaram; és tu que com eles o crucificaste e continuas a crucificá-lo, deleitando-te nos vícios e. nos pecados.

Sacrifício da cruz e sua aceitação

"Toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: seus silêncios, seus milagres, seus gestos, sua oração, seu amor ao homem, sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, a aceitação do sacrifício total na Cruz pela redenção do mundo, Sua Ressurreição constituem a atuação de sua palavra e o cumprimento da Revelação.

Sacrifício da cruz modelo de solidariedade e de caridade

O princípio da solidariedade, enunciado ainda sob o nome de ou "caridade social'', é uma exigência direta da fraternidade humana e cristã:

Um erro, "hoje amplamente difundido, é o esquecimento desta lei da solidariedade humana e da caridade, ditada e imposta tanto pela comunidade de origem e pela igualdade da natureza racional em todos os homens, seja qual for o povo a que pertençam, como também pelo sacrifício redentor oferecido por Jesus Cristo no altar da cruz a seu Pai celeste, em prol da humanidade pecadora"

Tomar e levar a própria cruz

A conversão se realiza na vida cotidiana por meio de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da Justiça e do direito, pela confissão das faltas aos irmãos, pela correção fraterna, pela revisão de vida, pelo exame de consciência pela direção espiritual, pela aceitação dos sofrimentos, pela firmeza na perseguição por causa da justiça. Tomar sua cruz, cada dia, seguir a Jesus é o caminho mais seguro da penitencia.

A penitência imposta pelo confessor deve levar em conta a situação pessoal do penitente e procurar seu bem espiritual. Deve corresponder, na medida do possível, à gravidade e à natureza dos pecados cometidos. Pode consistir na oração, numa oferta, em obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, em sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que devemos carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo, que, sozinho, expiou nossos pecados uma vez por todas. Permitem-nos também tomar-nos co-herdeiros de Cristo ressuscitado, "pois sofremos com ele":

Mas nossa satisfação, aquela que pagamos por nossos pecados, só vale por intermédio de Jesus Cristo, pois, não podendo coisa alguma por nós mesmos, "tudo podemos com a cooperação daquele que nos dá força"(Cf Fl 4,13). E, assim, não tem o homem de que se gloriar, mas toda a nossa "glória" está em Cristo... em quem oferecemos satisfação, "produzindo dignos frutos de penitência (Cf Lc 3,8.), que dele recebem seu valor, por Ele são oferecidos ao Pai e graças a Ele são aceitos pelo Pai.

É provável que esta insistência sem equívoco na indissolubilidade do vínculo matrimonial deixasse as pessoas perplexas e aparecesse como uma exigência irrealizável. Todavia, isso não quer dizer que Jesus tenha imposto um fardo impossível de carregar e pesado demais para os ombros dos esposos, mais pesado que a Lei de Moisés. Como Jesus veio para restabelecer ordem inicial da criação perturbada pelo pecado, ele mesmo dá a força e a graça para viver o casamento na nova dimensão do Reino de Deus. E seguindo a Cristo, renunciando a si mesmos e tomando cada um sua cruz que os esposos poderão "compreender" o sentido original do casamento e vivê-lo com a ajuda de Cristo. Esta graça do Matrimônio cristão é um fruto da Cruz de Cristo, fonte de toda vida cristã.

Cristo é a fonte desta graça. "Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador dos homens, Esposo da Igreja, vem ao encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do Matrimônio." Permanece com eles, concede-lhes a força de segui-lo levando sua cruz e de levantar-se depois da queda, perdoar-se mutuamente, carregar o fardo uns dos outros, "submeter-se uns aos outros no temor de Cristo" (Ef 5,21) e amar-se com um amor sobrenatural, delicado e fecundo. Nas alegrias de seu amor e de sua vida familiar, Ele lhes dá, aqui na terra, um antegozo do festim de núpcias do Cordeiro.

Onde poderei haurir a força para descrever satisfatoriamente a felicidade do Matrimônio administrado pela Igreja, confirmado pela doação mútua, selado pela bênção? Os anjos o proclamam, o Pai celeste o ratifica... O casal ideal não é o de dois cristãos unidos por uma única esperança, um único desejo, uma única disciplina, o mesmo serviço? Ambos filhos de um mesmo Pai, servos de um mesmo Senhor. Nada pode separá-los, nem no espírito nem na carne; ao contrário, eles são verdadeiramente dois numa só carne. Onde a carne é uma só, um também é o espírito.

"Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Mt 16,24).

O trabalho humano procede imediatamente das pessoas criadas à imagem de Deus e chamadas a prolongar, ajudando-se mutuamente, a obra da criação, dominando a terra. O trabalho é, pois, um dever: "Quem não quer trabalhar também não há de comer" (2Ts 3,10). O trabalho honra os dons do Criador e os talentos recebidos. Também pode ser redentor. Suportando a pena do trabalho unido a Jesus, o artesão de Nazaré e o cru-cificado do Calvário, o homem colabora de certa maneira com o Filho de Deus em sua obra redentora. Mostra-se discípulo de Cristo carregando a cruz, cada dia, na atividade que é chamado a realizar. O trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo.

SINAL DA CRUZ

Iniciar o dia e as atividade com o sinal da cruz

O segundo mandamento proíbe o juramento falso. Fazer juramento ou jurar é invocar a Deus como testemunha do que se afirma. E invocar a veracidade divina como garantia de nossa própria veracidade. O juramento empenha o nome do Senhor. "E ao Senhor teu Deus que temerás, a Ele servirás e pelo seu nome jurarás" (Dt 6,13).

O cristão começa suas orações e suas ações pelo sinal-da-cruz, "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém"

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Santo Sudário

–Os evangelhos mencionam o Santo Sudário?

–Sim, os quatro evangelhos consideram o detalhe do manto que envolveu Jesus em sua morte:

“José, tomando o corpo, envolveu-o num lençol limpo e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar na rocha. Em seguida, rolou uma grande pedra na entrada do túmulo e retirou-se.” (Mateus 27, 59).

"José comprou um lençol de linho, desceu Jesus da cruz, envolveu-o no lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha; depois, rolou uma pedra na entrada do túmulo" (Marcos 15, 46).

"Desceu o corpo da cruz, enrolou-o num lençol e colocou-o num túmulo escavado na rocha, onde ninguém ainda tinha sido sepultado." (Lucas 23, 53).

"Os dois corriam juntos, e o outro discípulo correu mais depressa, chegando primeiro ao túmulo. Inclinando-se, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. Simão Pedro, que vinha seguindo, chegou também e entrou no túmulo. Ele observou as faixas de linho no chão, e o pano que tinha coberto a cabeça de Jesus: este pano não estava com as faixas, mas enrolado num lugar à parte." (João 20, 4 - 7).

–Quais características tem o lençol?

–É um sudário de linho manchado com 4,41 metros de comprimento e 1,13 de largura, tecido com um desenho de espinha de peixe de alta qualidade e pouco comum para a época. Apresenta diversas cicatrizes que foram deixadas pelo tempo como manchas, queimaduras e remendos.

–Por que apresenta sinais geométricos?

–Pela ocorrência de um incêndio na capela de Chambéry, em 1532. Uma gota de prata caiu em um dos cantos, causando graves danos. Logo foi reparado. Algumas religiosas clarissas o remendaram. Também apresenta manchas de água na parte central, ao que parece causadas pela água com que se apagou o incêndio.

–Esse Sudário apresenta a imagem impressa de um homem. Quais são sua características?

–É um homem com barba, que jaz morto. Pode ser visto graças a uma impressão e manchas de sangue por meio das feridas sobre o rosto, cabeça, mãos e corpo. Também se vê a parte dorsal do corpo coberta de feridas muito peculiares que atravessam as costas, pernas e descem até a planta do pé. A imagem que aparece é dupla: frontal e dorsal.

Ainda que apresente a imagem deste cadáver, não se registra nenhum resto de decomposição. Portanto, se comprova que foi envolto de um corpo humano durante um breve período, ainda que suficiente para que se imprimisse uma imagem.

–Apresenta sinais de coroa de espinhos?

–Não de uma coroa, mas de um capacete de espinhos. As fotos do Santo Sudário permitem realizar uma “autópsia” teórica, que demonstra que as gotas de sangue dispersas na cabeça derivam claramente de feridas de pontas cravadas em vários pontos. Também são vistas diversas gotas de sangue venoso e arterial que correspondem à complexa rede de veias e artérias da cabeça.

A parte cervical aparece fortemente castigada, como se a coroa de espinhos fosse continuamente apertada contra a cabeça. Se o homem do Santo Sudário for Jesus Cristo, pode-se ver que usou a coroa durante o caminho do Calvário e também na cruz, adicionando maior suplício. É importante explicar que nenhuma documentação histórica fala que os homens crucificados foram coroados com espinhos.

–Apresenta sinais de flagelação?

–Sim. O flagelo usado contra o homem do Santo Sudário era dilacerante e contundante, entrava na pele; Mel Gibson se baseou em estudos do Santo Sudário para a cena da flagelação de Cristo no filme “A Paixão”. Os estudos demonstram que, como mostra o filme, cada golpe desgarrava a pele, provocando sangramento. Os chicotes apresentam três pontas terminadas em duas bolas metálicas. Este tipo de flagelo foi encontrado em escavações arqueológicas, sobretudo nas catacumbas romanas.

O número de golpes recebidos, segundo os estudos do Santo Sudário, foram cerca de 120, sem contar os que não foram possíveis de ser estudados por conta do incêndio de 1532. Cada golpe gera um impacto de 8 centímetros quadrados e o volume contundido de 12 centímetros cúbicos.

–Por que se considera que o homem do Santo Sudário esteve crucificado?

–Porque há sinais de pregos nas munhecas, não nas mãos, como diz a tradição, que Jesus foi crucificado, com pregos nos tornozelos, não nos pés.

Antigamente os crucificados eram atados à cruz por meio de cordas e com pregos. Também há sinais de uma lança que atravessou sua costela, a que se refere o evangelho de João.

O homem do Santo Sudário carregou uma madeira horizontal da cruz atada nos braços, como também mostra o filme “A Paixão de Cristo”. Com o toque da corda em seu corpo se abriram novamente as feridas da flagelação. No homem do Santo Sudário estas feridas podem ser vistas na escápula, antebraço e ombro direito.

–Por que são tão famosos os negativos dessa imagem?

–O fotógrafo Secondo Pia foi o primeiro a fotografá-lo em 1898. Ao revelar o negativo se deu conta que a imagem mostrava o rosto e o corpo do homem do Santo Sudário no positivo, o que indica que o rosto do homem foi gravado naquele Sudário em imagem negativa. Posteriormente foram feitas mais fotos e a impressão da imagem saiu com melhor qualidade e o negativo oferecia um contraste natural e uma nitidez impressionante. Poder-se-ia dizer que a impressão do Santo Sudário é como um negativo que se converte em positivo.

–É certo que o Santo Sudário tem características tridimensionais?

–Sim. Em 1976 os físicos John Jackson e Eric Jumper, com Kenneth Stevenson, Giles Charter e Peter Schmacher, estudaram a fotografia do Sudário com um programa especial chamado “Interpretation Systems VP-8 Image Analyzer”, nos laboratórios de Sandia Scientific Laboratories, em Albuquerque, Novo México. O resultado mostrava que a fotografia tinha uma dimensão “codificada”, com profundidade, diferente de qualquer outro desenho ou pintura que pudesse ser submetido ao analisador de imagens.

Por isso, medindo a intensidade deste colorido, pode-se perfeitamente calcular e reproduzir, como numa estátua, o relevo do corpo envolto por esta “tela”.

Este resultado do VP8 não foi obtido nunca com nenhuma outra imagem artística.

–Como o Sudário chegou a Turim?

–Segundo fontes mais tardias, um sudário com o retrato de Jesus foi levado para Jerusalém e Edesa (atual Urfa, ao leste da Turquia), onde foi utilizado segundo uma tradição para apresentá-lo a Abgaro V, rei de Edesa (reinou de 13-50), convertendo-se ao cristianismo. Mas depois que seu filho voltou ao paganismo foram perdidas as pistas deste lençol.

No ano de 525 Edesa sofreu uma inundação. Durante sua reconstrução apareceu um sudário com a imagem de Jesus. Imediatamente foi reconhecido como o Sudário que cinco séculos antes foi trazido de Jerusalém ao rei Abgaro. A imagem de Jesus é descrita como “não feita por mãos humanas”.

No ano de 943, o Sudário foi levado a Constantinopla, onde foi recebido festivamente pelos fiéis. Durante o saque de Constantinopla, em 1294, segundo o testemunho de Robert de Clary, o Sudário desaparece: “Nem grego nem francês sabe para onde foi o Sudário quando a cidade foi tomada”, diz.

A documentação histórica voltou a falar do Santo Sudário em 1355, sob a propriedade do cavaleiro Godofredo I de Charny. Ao morrer, o Santo Sudário foi herdado por sua irmã Margarita, que não teve descendência. Em 1418, foi levado a Lirey, um pequeno povoado ao norte da França, para protegê-lo das guerras com a Inglaterra.

Margarita, em 1453, entrega o Santo Sudário aos Duques de Savóia. Em 1502, é inagurada a Sainte Chapelle, em Chambéry, para custodiar o Santo Sudário. Em 1532 houve um incêndio nessa capela. Em 1535, o Santo Sudário viajou por Turim, Milão, Vercelli e Niza, devido à invasão das tropas francesas em Chambery. Em 1578, chegou a Turim para ficar. Mas só em 1706 foi transportado por um tempo a Genova. Também entre 1938 e 1953 foi transportada à abadia Beneditina de Montevergine, para protegê-lo dos possíveis ataques durante a Segunda Guerra Mundial. Logo regressou à catedral São João Batista de Turim, onde está atualmente.

–De quem é o Santo Sudário?

–Desde 1983 é propriedade da Igreja Católica, pois após a morte do rei Humberto II de Savóia foi entregue ao Papa João Paulo II.

–De quanto em quanto tempo são realizadas exposições do Santo Sudário?

–Não existe uma periodicidade. O manto se expõe em tempos especiais por vontade do Papa. Desde que chegou a Turim, foi exposto em 1737 com motivo do casamento do duque Carlos Manuel III de Savóia. Logo foi exposto novamente em 1868, e em 1898 para celebrar os cinquenta anos da família Savóia como reis da Itália. Em 1931, foi exposto novamente com o casamento do príncipe Humberto de Savóia (logo rei Humberto II). Em 1978 e em 1998, para comemorar o primeiro centenário das fotografias do Santo Sudário. Foi exposto mais uma vez no ano 2000, com motivo do grande Jubileu e agora em 2010 por vontade do Papa Bento XVI.

-Um estudo em 1988 disse que se tratava de um falso medieval...

–É certo. Em 1988 foi extraído um fragmento do Santo Sudário para determinar cientificamente sua origem. Três laboratórios de Carbono 14 da Grã-Bretanha, Suíça e Estados Unidos calcularam que não podia ter mais de oito séculos. Imediatamente os meios de comunicação disseram que se tratava de um falso medieval. O então arcebispo de Turim, cardeal Anastasio Alberto Ballestero, reconheceu diante dos meios de comunicação que a peça não era autêntica.

Contudo, muitos cientistas e arqueólogos começaram a suspeitar sobre como alguém, sem que existisse a fotografia, pudesse falsificar no tempo medieval uma imagem com tantos detalhes e que é possível ver tão claramente somente nos negativos das fotos, com tal exatidão anatômica patológica e cultural. Por isso as investigações continuam.

O fragmento do Santo Sudário que foi utilizado para este estudo é muito pequeno. Foi recortado do canto superior que foi remendado e tocado por milhares de pessoas quando as exposições eram feitas sem nenhum tipo de proteção entre os séculos XIV e XIX. Por isso alguns pensam que os resultados desses estudos foram dados porque estavam muito contaminados.

–Outros dizem que se trata de uma obra de arte.

–Impossível. Em 1978, foi realizado um rigoroso exame do corpo, os braços e o tórax onde se comprova que não foi usado nenhum tipo de pigmento para pintar o Santo Sudário. Ao contrário, as fibras simplesmente parecem descoloradas, como ocorre com um jornal quando se expõe à luz do sol. As aparentes manchas de sangue não apresentam nenhum pigmento diferente. Durante a análise se chegou à conclusão de que se trata de sangue real.

–O que demonstra que este sudário estava em Jerusalém?

–Nos estudos realizados, foram encontradas partículas de poeira que incluem grãos de pólen de dois mil anos de idade de uma planta local de Jerusalém. Restos de pólen deste tipo também aparecem em alguns fósseis que foram encontrados no Mar Morto. Graças a outros tipos de grãos de pólen foi demonstrado o percurso que o Santo Sudário fez chegar até Turim.

–Se sempre foi tão importante o Santo Sudário, existem documentos históricos que se referem a ele?

–Sim, muitos. Foquemos em um: há um manuscrito que se chamaCodex Prey. Está datado entre 1192-1195. Tem cinco ilustrações, que representam a crucificação, o declínio da cruz, a unção do corpo de Cristo na sepultura e Cristo ressuscitado.

As ilustrações mostram um lençol em escala real, e com proporções idênticas ao Santo Sudário. O corpo de Jesus aparece completamente desnudo, como no Santo Sudário, algo insólito em um desenho do século XII e na mesma posição em que aparece o Santo Sudário.

Algo muito curioso é que o tecido do manto que envolveu Jesus se apresenta no formato de espinha de peixe, muito pouco frequente nessa época. Apesar de que o desenho seja rudimentar, não deixa escapar esse detalhe. O desenho apresenta também os mesmos buracos que se formaram neste Sudário antes do incêndio de 1532.

domingo, 22 de agosto de 2010

Teologia Paulina

INTRODUÇÃO: Quem é Paulo?

Perfil:

Nome: Saul (cf. At 9,4), ou Saulo (que é a forma grega do nome semítico Saul, que significa: “aquele que foi pedido”). Quando traduzido para o Latim, o nome ficou: Paulus, que significa: pouco, pequeno.

Nascimento: em Tarso, na Cilícia (atualmente, território da Turquia, cf. At 9,11; 21, 39). Era judeu, sua família era da Tribo de Benjamin (cf. Rm 11, 1; Fl 3, 5). Possuía cidadania romana, o que, muitaz vezes lhe ajudou a sair de sérios apuros! (cf At16, 37-40; 22, 25-29; 23, 27).

Tarso era uma cidade de 300.000 habitantes, centro de grande comércio do mundo antigo onde se cruzavam duas culturas, a greco-romana do ocidente e a semita do leste.

A cidade estendia-se aos pés da majestosa montanha do Taurus coberta de neve. Pelo norte estava ligada ao mundo cultural da Ásia Menor, a magnífica região da Capadócia, através de um desfiladeiro tão apertado que os romanos o fecharam com uma porta de bronze. Por ali passaram os exércitos dos grandes conquistadores - Alexandre Magno, Xerxes e os exércitos romanos. Pelo sul a cidade comunicava com o mar o que representava uma ligação com todos os grandes portos do Mediterrâneo. A leste estendia-se a grande planície da Cilícia, rica em água e campos agrícolas.

Tarso era uma cidade de comércio livre, exportava madeiras preciosas do Taurus e peles de ovelha para tendas e tecidos, duros e resistentes às chuvas e que, mais tarde os eremitas hão-de vestir para mortificar o corpo e, como provinham da Cilícia, deram o nome aos cilícios usados pelos monges nas penitências. A cidade era atravessada pelo rio Cidno que a ligava ao mar e era navegável. Nas suas margens erguiam-se armazéns para o comércio. Barcos e comerciantes vindos de Éfeso, Alexandria, Corinto, Ostia e Espanha invadiam a cidade que se tornara cosmopolita. Nas cidades de cultura helênica, não havia diferença entre os cidadãos gregos, judeus ou romanos.

O jovem Paulo conheceu bem a sua cidade e costumes, nas suas cartas encontramos imagens tiradas do comércio marítimo e aos Colossenses escreve: para Deus «não há grego ou judeu, bárbaro ou cita, servo ou livre, mas Cristo que é tudo em todos» (Col. 3, 11).

Grau de Instrução: Estudou em Jerusalém, seu Mestre chamava-se Gamaliel, e gozava de grande reputação. Paulo era um fariseu, e formado, “diplomado”. (cf. At 22, 3; 26, 4; Fl 3, 5).

Profissão: Fabricante de tendas (cf. At 18, 1-3).

Dois momentos decisivos para uma verdadeira guinada na vida de Paulo:

O Testemunho de Estêvão. (cf. At 7, 55-8,1-3)

O Encontro com Cristo no caminho de Damasco.

Observação: é de grande valia assinalar e analisar este Encontro de Paulo com Cristo relatado por Lucas, em Atos dos Apóstolos, e depois analisar o relato do próprio Paulo sobre esta experiência mística! Então, vejamos:

a. At 9,1-19: Perceber a pergunta de Jesus: “Saulo, por que me persegues?”. Reparar que Paulo, teoricamente, não perseguia a Cristo, que para ele já estava morto, e era um problema resolvido, Paulo perseguia a Igreja! Isso sugere que para Jesus há uma íntima relação entre Ele e sua Igreja, de tal forma que persegui-la é perseguir a Ele mesmo!

b. At 9, 19b- 25: A não compreensão da conversão de Paulo. As pessoas ao verem-no pregar, imediatamente evocam o seu passado. Isso acontece muito conosco. Quando nos deixamos converter por Jesus e mudamos nossos hábitos, muitos dos que ainda não O aceitaram, não crêem em nossa conversão e evocam, tantas vezes nosso passado.

A experiência de Paulo relatada por ele mesmo: ( Gl 1, 11-24; II Cor 12, 1-10). O Espinho, ou aguilhão na carne serve, sobretudo, para treinar a humildade, confiança no Senhor, tomar consciência da fraqueza humana.

O Papa Bento ressalta que Paulo se sente amado por Cristo de uma forma particular e especial. R ecorda o Papa o que Paulo diz na sua Carta aos Gálatas: “Vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim”. (cf. Gl 2, 20). É como se afirmasse convictamente:

“Ele morreu por mim, Paulo!”

Paulo se torna um Evangelizador: Quem conhece a Cristo, só fala n’Ele e d’Ele!

1. As viagens missionárias de Paulo (pode-se conferir: 1ª. Viagem: At 13,1 _14,28; 2ª. At 15, 36_18, 22; 3ª. At 18, 23_21, 27).

Companheiros de viagem de Paulo:

Primeira viagem: Barnabé e João Marcos (At 13, 2.5)

Segunda viagem: Paulo se desentende com Barnabé e toma Silas como companheiro. (At 15, 36-40). Discussão ocasionada, talvez, não só por causa de João Marcos, mas por uma discussão precedente sobre se os cristãos convertidos que eram judeus deviam ser circuncidados ou não, como mandava a Lei de Moisés. Juntam-se também a Paulo, Silas, Timóteo, Lucas.

Vale a pena estudar esta discussão para apurarmos um pouco mais da personalidade de Paulo e também compreender como a Igreja nascente administrava as questões polêmicas que iam surgindo. Também será bom para compreendermos a nova compreensão da Lei cunhada por Paulo.

Controvérsia relatada por Lucas: cf. At 15,1ss.

Analisemos agora a polêmica contada pelo próprio Paulo: (Gl 2, 1-14).

Como Paulo compreende a Lei? (Ver Gl 2, 15-21).

Terceira viagem: Paulo, Timóteo, Aristarco e outros. (At 20, 4-5)

Como o próprio Paulo define seu trabalho evangelizador?

a. Um trabalho humilde, sem muito prestígio. ( ICor 2, 1-5)

b. Trabalho gratuito! ( ICor 9, 16-18)

c. Trabalho de muitos riscos (II Cor 11, 23-29)

O que faz Paulo suportar tudo?

Resposta: Ler Fl 3. 7-14

Cronologia da Vida de Paulo

Ano 10: Nascimento em Tarso, Cilícia, juventude em Jerusalém.

Ano 36: Martírio de Estêvão, conversão a caminho de Damasco, estadia na Arábia, regresso a Damasco.

Ano 39: Viagem à Jerusalém, retorno à Síria e Cilícia, é trazido à Antioquia por Barnabé.

Anos 45-49: Primeira viagem missionária.

Ano 49: Vai novamente à Jerusalém, onde participa do Concílio Apostólico.

Anos 50-52: Segunda Viagem Apostólica.

Ano 53-58: Terceira Viagem Apostólica

Ano 58: Nova vinda à Jerusalém, onde é preso.

Ano 58-60: Cativeiro em Cesaréia

Ano 60-62: Cativeiro em Roma

? : Viagem à Espanha?

Ano 67: Segundo uma antiga tradição, data de seu martírio, em Roma, pela Espada.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Veneração de Imagens

Já os primeiros cristãos usavam imagens nos lugares de culto, nos cemitérios e nas catacumbas. Sabiam que a proibição de fazer imagens em Ex 20,4 era contingente ou devida ao perigo de idolatria que ameaçava o povo de Israel cercado de nações pagãs. Ademais o fato de que Deus apareceu sob forma visível no mistério da Encarnação parece um convite a reproduzir a face humana do Senhor e dos seus amigos. As primeiras imagens eram inspiradas pelo texto bíblico (cordeiro, Bom Pastor, pomba, peixe, âncora, Daniel, Moisés); mas podiam também representar o Senhor, a Virgem Maria, os santos Apóstolos e mártires. Desde os inícios da arquitetura sacra, as igrejas foram enriquecidas com imagens tanto a título de ornamentação quanto a título de instrução dos iletrados.

Desde os primeiros séculos os cristãos pintaram e esculpiram imagens de Jesus, de Nossa Senhora, dos Santos e dos Anjos, não para adorá´las, mas para venerá´las. As catacumbas e as igrejas de Roma, dos primeiros séculos, são testemunhas disso. Só para citar um exemplo, podemos mencionar aqui o fragmento de um afresco da catacumba de Priscila, em Roma, do início do século III. É a mais antiga imagem da Santissima Virgem, uma das mais antigas da arte cristã, sobre o mistério da Encarnação do Verbo. Mostra a imagem de um homem que aponta para uma estrela situada acima da Virgem Maria com o Menino nos braços. O Catecismo da Igreja traz uma cópia dessa imagem (Ed. de bolso, Ed. Loyola, pag.19). Este exemplo mostra que desde os primeiros séculos os cristãos já tinham o salutar costume de representar os mistérios da fé por imagens, em forma de ícones ou estátuas. É o caso de se perguntar, então: Será que foram eles ´idólatras´ por cultuarem essas imagens? É claro que não? Eles foram santos, mártires, derramaram, muitos deles, o sangue em testemunho da fé. Seria blasfêmia acusar os primeiros mártires da fé de idólatras. No século VIII, sob influência do judaísmo e do islamismo, surgiu um movimento herético que se pôs a combater o uso das imagens. Eram os iconoclastas. O grande e principal defensor do uso das imagens na época, foi o santo e doutor da Igreja S. João Damasceno (de Damasco), falecido em 749, o qual foi muito perseguido por se manter fiel e defensor dessa santa Tradição cristã. A fim de dirimir as dúvidas sobre a questão, o Papa Adriano I (772´795) convocou o II Concílio Ecumênico de Nicéia, que se realizou de 24/09 a 23/10/787. Assim se expressou o Concílio, resolvendo para sempre a questão: “Na trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres, e da Tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1161). Essas palavras, por serem de um Concílio da Igreja, são ensinamentos oficiais e infalíveis, e não podemos colocá´los em dúvida. O grande S. João Damasceno dizia : “A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus “ (nº 1162). O nosso Catecismo explica que: “A imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia” das imagens”( 1159). S. Tomás de Aquino (1225´1274) também defendia o uso das imagens, afirmando: “O culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem“( 2131). Muitos querem incriminar a Igreja Católica, afirmando que ela desrespeita a ordem que Deus deu a Moisés : “não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo...” (Dt 4,15´16). Os cristãos, desde os primeiros séculos, entenderam, sob a luz do Espírito Santo, que Deus nunca proibiu fazer imagens, e sim “ídolos”, deuses, para adorar. O povo de Deus vivia na terra de Canaã, cercado de povos pagãos que adoravam ídolos em forma de imagens (Baals, Moloc, etc). Era isso que Deus proibia terminantemente. A prova de que Deus nunca proíbiu imagens, é que Ele próprio ordenou a Moisés que fabricasse imagens de dois Querubins e que também pintasse as suas imagens nas cortinas do Tabernáculo. Os querubins foram colocados sobre a Arca da Aliança. “Farás dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro... Terão esses querubins suas asas estendidas para o alto e protegerão com elas a tampa ... “ (Ex. 25,18s, Ex 37,7; 1 Rs. 6,23; 2 Cr. 3,10). “Farás o tabernáculo com dez cortinas de linho fino retorcido, de púrpura violeta sobre as quais alguns querubins serão artísticamente bordados” (Ex. 26,1.31). Que fique claro, de uma vez por todas, Deus nunca proibiu imagens, e sim, “fabricar imagens de deuses falsos” . O mesmo Deus mandou que, no deserto, Moisés fizesse uma imagem de uma serpente de bronze (Nm 21, 8´9), que prefigurava Jesus pregado na cruz (Jo 3,14). Também o rei Salomão, quando construiu o templo, mandou fazer querubins e outras imagens (I Rs 7,29). O culto que a Igreja Católica presta a Deus, e só a Deus, é um culto chamado “latria”, isto é, de adoração. Aos anjos e santos é um culto chamado “dulia”, de veneração. Maria, como Mãe de Deus recebe o culto de “hiper´dulia”, super´veneração digamos, mas que está muito longe da adoração devida só a Deus. São Pedro, ao terminar a segunda Carta falava do perigo daqueles que interpretavam erroneamente as Escrituras: “Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2 Pe 3,16). Infelizmente isto continua a acontecer com aqueles que querem dar uma interpretação individual à Palavra de Deus, sem autorização oficial da Igreja, levando multidões ao erro. Só a Igreja é a autêntica intérprete da Bíblia (cf.Dei Verbum,10), pois foi ela que, inspirada pelo Espírito do Senhor (Jo 16,12), a compôs. As imagens, sempre foram, em todos os tempos, um testemunho da fé. Para muitos que não sabiam ler, as belas imagens e esculturas foram como que o Evangelho pintado nas paredes ou reproduzido nas esculturas. E assim há de continuar a ser. É claro que o culto por excelência é prestado a Deus, mas isto não justifica que as imagens sejam retiradas das nossas igrejas. Ao contrário, elas nos lembram que aqueles que elas representam, chegaram à santidade por graça e obra do próprio Deus. Assim, as imagens, dão, antes de tudo, glória a Deus.

S. Gregório de Nissa (†394) escreveu:

“O desenho mudo sabe falar sobre as paredes das igrejas e ajuda grandemente” (Panegírico de S. Teodoro, PG 94, 1248c).

S.João Damasceno, doutor da Igreja, grande defensor das imagens no Concilio de Nicéia II, disse:

“O que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados” (De imaginibus I 17 PG, 1248c).

“Antigamente Deus, que não tem corpo nem face, não poderia ser absolutamente representado através duma imagem. Mas agora que Ele se fez ver na carne e que Ele viveu com os homens, eu posso fazer uma imagem do que vi de Deus.”

“A beleza e a cor das imagens estimula minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo dos campos estimula o meu coração para dar glória a Deus” (CIC, 1162).

“Como fazer a imagem do invisível? … Na medida em que Deus é invisível, não o represento por imagens; mas, desde que viste o incorpóreo feito homem, fazes a imagem da forma humana: já que o inviável se tornou visível na carne, pinta a semelhança do invisível” (I 8 PG 94, 1237-1240).

“Outrora Deus, o Incorpóreo e invisível, nunca era representado. Mas agora que Deus se manifestou na carne e habitou entre os homens, eu represento o “visível” de Deus. Não adoro a matéria, mas o Criador da matéria” (Ibid. I 16 PG 94, 1245s).

O Papa São Gregório Magno († 604), doutor da Igreja, escreveu a Sereno, bispo de Marselha, que ordenou quebrar as imagens:

“Tu não devias quebrar o que foi colocado nas Igrejas não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler” (epist. XI 13 PL 77, 1128c).

Diferença entre Imagem e Ídolo

Imagem não é o mesmo que ídolo. Chama-se ídolo: uma imagem falsa, um simulacro a que se atribui vida própria, conforme explica o profeta Habacuc (2, 18). Eis o que claramente indica Habacuc, dizendo: "Ai daquele que diz ao pau: Acorda, e a pedra muda: Desperta" (Hc 2, 19)

A Bíblia reza no livro de Josué: "Josué prostrou-se com o rosto em terra diante da arca do Senhor, e assim permaneceu até à tarde, imitando-o todos anciãos de Israel" (Jos 7, 6).

Terão sido idólatras Josué e os anciãos de Israel?

Foi Deus ainda que ordenou a Moisés levantar uma "serpente" de metal (Nm 21, 8) e todos os que olhassem para ela seriam curados. Ora, que "olhar" é esse que confere uma cura milagrosa diante de uma estátua de metal?

Temos as provas de como esse culto era já uma pré-figura do culto à Deus nas palavras de S. João, que diz que tal "serpente" era o símbolo do Cristo crucificado: "Bem como ergueu Moisés a serpente no deserto, assim cumpre que seja levantado o Filho do Homem" (Jo 3, 14).

Por acaso caíram também Moisés e S. João, e até o Espírito Santo (autor da Sagrada Escritura) em crime de idolatria? É claro que não.

A idolatria consistiria em achar que a divindade está em uma estátua, por exemplo. Ou seja, teríamos que colocar alimentos para as imagens, como faziam os romanos, os egípcios e os demais povos idólatras. Teríamos que achar que Deus e o santo são a mesma pessoa. No fundo, seria dizer que S. Benedito não é e nem foi S. Benedito, mas foi Deus, etc.

Nunca se ouviu algum católico defendendo que o Santo era Deus! Mesmo porque isso seria cair em um panteísmo (defendido por Calvino e Lutero em algumas de suas obras). Para se dizer que os católicos adoram os santos, eles teriam que dizer que S. Benedito, por exemplo, não é S. Benedito, mas Deus.

E, ainda mais difícil, os católicos teriam que afirmar que S. Benedito é a estátua, uma espécie de amuleto mágico...

Nenhum católico acredita que o santo seja Deus ou que ele seja a madeira da estátua (como uma divindade). Logo, não há idolatria possível, visto que esta consiste em adorar um falso deus. Alguns protestantes argumentam que só é possível fazer imagens quando Deus expressamente permite. Pergunta-se: onde está essa norma na Bíblia? É uma contradição dos protestantes, pois tudo para eles está na Bíblia, todavia, para condenar os católicos, não é necessária a Bíblia...

Deus proíbe a idolatria e não o uso de imagens

O mesmo Deus, no mesmo livro do Êxodo em que proíbe que sejam feitas imagens, manda Moisés fazer dois querubins de ouro e colocá-los por cima da Arca da Aliança (Ex 25, 18-20). Manda-lhe, também, fazer uma serpente de bronze e colocá-la por cima duma haste, para curar os mordidos pelas serpentes venenosas (Num 21, 8-9). Manda, ainda, a Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com imanges de querubins, palmas, flores, bois e leões (I Reis 6, 23-35 e 7, 29).

Ora, se Deus manda fazer imagens em várias passagens das Sagradas Escrituras (Ex 25, 17-22; 1Rs 6, 23-28; 1 Rs 6, 29s; Nm 21, 4-9; 1Rs 7, 23-26; 1 Rs 7, 28s; etc) e proíbe que se façam imagens em outra, de duas uma, ou Deus é contraditório ou fazer imagens não é idolatria!

Portanto, fica claro que o erro não está nas imagens, mas no tipo de culto que se presta à elas.

Os Judeus, saindo da dominação egípcia, um povo idólatra, tinham muita tendência à idolatria. Basta ver o que aconteceu quando Moisés desceu do Monte Sinai com as Tábuas da Lei e encontrou o povo adorando o "Bezerro de Ouro" como se ele fosse uma divindade, um amuleto. É claro, como permitir que um povo tendente à idolatria fosse fazer imagens.

Nas imagens católicas se representam os santos, que são pessoas que possuem virtudes que os tornam "semelhantes" a Deus, como afirmou S. Paulo: "já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim".

Nas catacumbas encontram-se, em toda parte, imagens e estátuas da Virgem Maria; prova de que tal culto existia no tempo dos apóstolos e foi por eles praticado, ensinado e transmitido à posteridade. Uma das imagens de Nossa Senhora, segundo a tradição, foi pintada pelo próprio S. Lucas e está na catedral de Loreto, exposto à veneração dos fiéis.

As imagens católicas representam pessoas virtuosas. Virtude essa que provém da graça de Deus. O mesmo não se dava na idolatria, pois os povos idólatras representavam as virtudes e os vícios em seus ídolos.

O Concílio de Trento formalmente legitimou o uso das imagens: As imagens de Jesus Cristo, da Mãe de Deus, e dos outros santos, podem ser adquiridas e conservadas, sobretudo nas Igrejas, e se lhes pode prestar honra e veneração; não porque há nelas qualquer virtude ou qualquer coisa de divino, ou para delas alcançar qualquer auxílio, ou porque se tenha nelas confiança, como os pagãos de outrora, que colocavam a sua esperança nos ídolos, mas, sim, porque o culto que lhes é prestado dirige-se ao original que representam, de modo que nas imanges que possuímos, diante das quais nos descobrimos ou inclinamos a cabeça, nós adoramos Cristo, e veneramos os santos que elas representam (Sess XXV).

O Concílio de Nicéia, o primeiro celebrado na Igreja, no ano de 325, sob o Papa S. Silvestre I e o imperador Constantino, defende o culto das imagens contra os iconoclastas, com um vigor admirável.

Lê-se nos atos deste concílio: Nós recebemos o culto das imagens, e ferimos de anátema os que procedem de modo contrário. Anátema a todo aquele que aplica às santas imagens os textos da escritura contra os ídolos. Anátema a todo aquele que as chama ídolos. Anátema àqueles que ousam dizer que a Igreja presta culto a ídolos.