quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sacrossantum Concilium

O SACROSSANTO CONCÍLIO propõe-se fomentar sempre mais a vida cristã entre os fiéis; acomodar melhor às necessidades de nossa época as instituições que são suscetíveis de mudanças; favorecer tudo o que possa contribuir para a União dos que crêem em Cristo; e promover tudo o que conduz ao chamamento de todos ao seio da Igreja. Por isso julga ser seu dever cuidar de modo especial da reforma e do incremento da Liturgia (SC 1).

Pois a Liturgia, pela qual, principalmente no divino Sacrifício da Eucaristia, “se exerce a obra de nossa Redenção”¹, contribui do modo mais excelente para que os fiéis exprimam em suas vidas e aos outros manifestem o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja. Caracteriza-se a Igreja de ser, a um tempo, humana e divina, visível, mas ornada de dons invisíveis, operosa na ação e devotada a contemplação, presente no mundo e no entanto peregrina. É isso de modo que nela o humano se ordene ao divino e a ele se subordine, o visível ao invisível, a ação a contemplação e o presente a cidade futura, que buscamos (SC 2).

Por esta razão, o Sacrossanto Concílio julga que, para a renovação e incremento da liturgia, devem ser relembrados os princípios e estatuídas as normas práticas que se seguem. Entes estes princípios e normas alguns há que podem e devem aplicar-se tanto ao rito romano quanto a todos os demais ritos, embora as seguintes normas práticas devem ser entendidas somente com referência ao rito romano, a não ser que se trate de assuntos que por sua própria natureza afetem também os outros ritos (SC 3).

Enfim, obedecendo fielmente a Tradição, o Sacrossanto Concílio declara que a Santa Mãe Igreja considera todos os ritos legitimamente reconhecidos com igual direito e honra e, para o futuro, os quer defender e de todos os modos favorecer e deseja que onde for necessário, sejam cuidadosa e integralmente revistos, conforme o espírito de sã tradição e se lhes de novo vigor em vista das atuais condições e necessidades (SC 4) .

A Obra da Salvação, Prenunciada por Deus, é Realizada em Cristo

Deus, que “quer salvar e fazer chegar ao conhecimento da verdade todos os homens” (1 Tim 2,4), “havendo outrora falado muitas vezes e de muitos modos aos pais pelos profetas” (Heb 1,1), quando veio a plenitude dos tempos, enviou Seu Filho, Verbo feito carne, ungido pelo Espírito Santo, para evangelizar os pobres, curar os contritos de coração 8, como “médico corporal e espiritual” 9, Mediador entre Deus e os homens. 10 Sua humanidade, na unidade da pessoa do Verbo, foi instrumento de nossa salvação. Pelo que, em Cristo “ocorreu” a perfeita satisfação de nossa reconciliação e nos foi comunicada a plenitude do culto divino”.¹¹

Esta obra da Redenção humana e da perfeita glorificação de Deus, da qual foram prelúdio as maravilhas divinas operadas no povo do Antigo Testamento, completou-a Cristo Senhor, principalmente pelo mistério pascal de Sua sagrada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão. Por este mistério, Cristo, “morrendo, destruiu a nossa morte e ressuscitando, recuperou a nossa vida”.¹² Pois do lado de Cristo dormindo na cruz nasceu o admirável sacramento de toda a Igreja.¹³ (SC 5).

A Obra de Cristo Continua na Igreja e se Coroa em sua Liturgia.

Portanto, assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem, o Evangelho a toda criatura 14, anunciarem que o Filho de Deus, pela Sua morte e ressurreição, nos libertou do poder de Satanás 15 e da morte e nos transferiu para o reino do Pai, mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação através do Sacrifício e dos Sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica. Assim, pelo Batismo os homens são inseridos no mistério pascal de Cristo: com Ele mortos, com Ele sepultados, com Ele ressuscitados 16; recebem o espírito de adoção de filhos, “pelo qual clamamos: o espírito de adoção de filhos, “pelo qual clamamos: Abba, Pai” (Rom 8,15), e assim se tornam os verdadeiros adoradores procurados pelo Pai. 17 Da mesma forma, toda vez que comem a ceia do Senhor, anunciam-Lhe a morte até que venha. 18 Por este motivo, no próprio dia de Pentecostes, no qual a Igreja apareceu ao mundo, “os que receberam a palavra” de Pedro “foram batizados”. E “perseveravam na doutrina dos Apóstolos, na comunhão da fração do pão e nas orações, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo” (At 2,41-42,47). Nunca, depois disto, a Igreja deixou de reunir-se para celebrar o mistério pascal: lendo “tudo quanto a Ele se referia em todas as Escrituras” (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia, na qual “se torna novamente presente a vitória e o triunfo de Sua morte” 19 e, ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo dom inefável” (2 Cor 9,15) em Jesus Cristo, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12), pela força do Espírito Santo (SC 6).

Presença de Cristo na Liturgia.

Para levar a efeito obra tão importante Cristo está sempre presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, “pois aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na Cruz” 20, quanto sobretudo sob as espécies eucarísticas. Presente esta pela Sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza é Cristo mesmo que batiza.²¹ Presente está pela Sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles” (Mt 18,20).

Realmente, em tão grandiosa obra, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a Si a Igreja, Sua Esposa diletíssima, que invoca seu Senhor e por Ele presta culto ao eterno Pai.

Com razão, pois, a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros.

Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de Seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja (SC 7).

Liturgia Terrena e Liturgia Celeste.

Na Liturgia terrena, antegozando, participamos da Liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, peregrinos, nos encaminhamos. Lá, Cristo está sentado a direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro ²²; com toda a milícia do exército celestial entoamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos Santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador. Nosso Senhor Jesus Cristo, até que Ele, nossa vida, Se manifeste, e nós apareçamos com Ele na glória. ²³ (SC8).

A Liturgia não Esgota toda a Ação da Igreja.

A Sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja. Pois, antes que os homens possam achegar-se da Liturgia, faz-se mister que sejam chamados a fé e à conversão: “Como invocarão Aquele em que não creram? E como crerão sem terem ouvido falar d’Ele? E como ouvirão se ninguém lhes pregar? E como se pregará se ninguém for enviado?” (Rom 10,14-15).

Por isso a Igreja anuncia aos não-crentes a mensagem da salvação, para que todos os homens conheçam o único verdadeiro Deus e Aquele que enviou, Jesus Cristo, e se convertam de seus caminhos, fazendo penitência. 24 Aos que crêem, porém, sempre deve pregar-lhes a fé e a penitência; deve, além disso, dispô-los aos Sacramentos, ensinar-lhes a observar tudo o que Cristo mandou 25 e estimulá-los para toda a obra de caridade, piedade e apostolado. Por estas obras os fiéis cristãos manifestem que não são deste mundo, mas sim a luz do mundo e os glorificadores do Pai diante dos homens (SC 9).

A Liturgia é Fonte de Vida da Igreja.

Todavia, a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força. Pois os trabalhos apostólicos se ordenam a isso: que todos, feitos pela fé e pelo Batismo filhos de Deus, juntos se reunam, louvem a Deus no meio da Igreja, participem do sacrifício e comam a ceia do Senhor.

A própria Liturgia, por seu turno, impele os fiéis que, saciados dos “sacramentos pascais”, sejam “concordes na piedade” 26, reza que “conservem em suas vidas o que receberam pela fé” 27; a renovação da Aliança do Senhor com os homens na Eucaristia solicita e estimula os fiéis para a caridade imperiosa de Cristo. Da Liturgia portanto, mas da Eucaristia principalmente, como de uma fonte, se deriva a graça para nós e com a maior eficácia é obtida aquela santificação dos homens em Cristo e a glorificação de Deus, para a qual, como a seu fim, tendem todas as demais obras da Igreja (SC 10).

Necessidade das Disposições Pessoais.

Para que se obtenha esta plena eficácia, é mister que os fiéis se acerquem da Sagrada Liturgia com disposições de reta intenção, sintonizem a sua alma com as palavras e cooperem com a graça do alto, a fim de que não a recebam em vão. 28 Por isto, é dever dos sagrados pastores vigiar que, na ação litúrgica, não só se observem as leis para a válida e lícita celebração, mas que os fiéis participem dela com conhecimento de causa, ativa e frutuosamente (SC 11).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A SAGRADA ESCRITURA NA VIDA DA IGREJA.


A Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, como sempre venerou ao próprio corpo do Senhor, já que sem cessar toma da mesa da palavra de Deus e do Corpo de Cristo o pão da vida e o serve aos filhos. Sempre as teve e tem, juntamente com a Tradição, como suprema regra de sua fé, porque, inspiradas por Deus e consignadas por escrito uma vez para sempre, comunicam imutavelmente a palavra do próprio Deus e fazem ressoar através das palavras dos Profetas e Apóstolos a voz do Espírito Santo. É necessário, portanto, que toda pregação eclesiástica, como a própria religião cristã, seja alimentada e orientada pela Sagrada Escritura. Nos Livros Santos, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. E é tão grande a força poderosa que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo vigoroso para a Igreja, firmeza na fé para seus filhos, alimento da alma, perene e pura fonte da vida espiritual. Por tudo isto, aplicam-se perfeitamente à Sagrada Escritura estas palavras: A palavra de Deus é viva e eficaz (Heb 4, 12), poderosa para edificar e repartir a herança entre os santificados (Ar 20, 32; cf. I Tes 2, 13). (DV 21).

Eis por que é necessário que todos os clérigos, sobretudo os sacerdotes de Cristo e os outros que, como diáconos ou catequistas, legitimamente se consagram ao ministério da palavra, se apeguem às Escrituras Sagradas, mediante assídua leitura e cuidadoso estudo das mesmas, para que não venha a ser vão pregador da palavra de Deus externamente, quem a ela não presta ouvido interiormente, quando, especialmente na Sagrada Liturgia, tem que comunicar aos fiéis a si confiados as vastíssimas riquezas da palavra divina. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, a que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Flp 3, 8). Porquanto ignorar as Escrituras é ignorar Cristo. De bom grado, pois, vão ao próprio texto sagrado, quer pela Sagrada Liturgia, repleta da divina palavra, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados e outros meios que, com a aprovação e empenho dos Pastores da Igreja, hoje em dia louvavelmente se difundem por toda parte. Lembremse, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, a fim de que se estabeleça um colóquio entre Deus e o homem. Pois “com ele falamos quando rezamos, a ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos . Cabe aos sagrados Pastores, depositários da doutrina apostólicas, educar oportunamente os fiéis que lhes foram confiados para o correto uso dos livros divinos, sobretudo do Novo Testamento e dos Evangelhos, por meio de versões dos textos sagrados acompanhadas das explicações necessárias e realmente suficientes, a fim de que os filhos da Igreja, segura e utilmente, se familiarizem com as Escrituras Sagradas e de seu espírito fiquem imbuídos.

Além disso, façam-se edições da Sagrada Escritura munidas de apropriadas anotações, para uso também dos não-cristãos e adaptadas à situação deles. E, tanto os Pastores de almas como os cristãos de qualquer condição, inteligentemente procurem difundi-las de todos os modos. (DV 25).


sábado, 26 de junho de 2010

ROTEIRO PARA PREGAÇÃO

O AMOR DE DEUS NO LIVRO DOS ATOS DOS APÓSTOLOS

I – INTRODUÇÃO

(Pedir oração)

1. Apresentação do Pregador

(nome, estado civil, paróquia, pastoral, atividade na RCC)

2. MOTIVAÇÃO

a) A história narrada no livro dos Atos dos Apóstolos adquire pleno sentido quando lida sob a luz do amor de Deus.

b) Cada fato narrado em Atos é pura manifestação do amor de Deus que é amigo do homem e se relaciona com ele face a face por meio do Espírito Santo.


3. APRESENTAÇÃO DA PREGAÇÃO


a) Tema: O AMOR DE DEUS NO LIVRO DOS ATOS DOS APÓSTOLOS

b) Itens:

b.1) Deus é amor

b.2) Deus manifesta seu amor entre os primeiros cristãos

b.2) Os primeiros cristãos correspondem ao amor de Deus

II – DESENVOLVIMENTO

1. DEUS É AMOR

- Jo 3,16

- 1ª 4,8.16

2. DEUS MANIFESTA SEU AMOR ENTRE OS PRIMEIROS CRISTÃOS

a) Provas do amor de Deus

- Morte e ressurreição de Jesus (1ª Cor 15,20-23)

- O Dom do Espírito Santo (2ª Cor 1,22; 5,5; Ef 1,13-14)

b) Curas e libertações (At 3,1-8; 5,12-16; 28,9)

3. OS PRIMEIROS CRISTÃOS CORRESPONDEM AO AMOR DE DEUS

- Crendo em Jesus pelo testemunho dos Apóstolos (cresciam em quantidade e em qualidade)

- Desejando se converter (At 2,37)

- Perseverando na graça (At 2,42)

- Construindo a unidade (At 15,4-35)

III – CONCLUSÃO

1. PERORAÇÃO


- Durante quase dois mil anos Deus preparou um povo para receber plenamente o seu amor, personificado no seu Filho Jesus Cristo. Uma parcela deste povo o acolheu e por isso recebeu o Espírito Santo. Assim, crendo em Jesus e cheio do Espírito Santo, esta parcela do Povo Eleito pôde experimentar o amor de Deus, historicamente, em suas vidas. Tudo isso está relatado no Livro dos Atos dos Apóstolos.

- Compensa separarmos um pouco do nosso tempo para estudar este belo livro que narra a aventura que foi o início da Igreja Católica. Nele encontramos, em cada página, a face amorosa de Deus, a Salvação de Jesus e a manifestação concreta do Espírito Santo.

2. CHAMAR À AÇÃO

- Vamos, então, abrir o coração para recebermos a graça de lermos a Sagrada Escritura.

3. ORAÇÃO FINAL

- Pedir o dom de ler e meditar a Sagrada Escritura.


OS DOIS TESTAMENTOS.

Antigo Testamento

A economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de Cristo, redentor de todos, e de seu Reino Messiânico, para anunciá-la profeticamente (cf. Lc 24, 44; Jo 5, 39; I Pe 1, 10) e dá-Ia a conhecer através de várias figuras (cf. I Cor 10, 11). Os livros do Antigo Testamento, em conformidade com a condição do gênero humano dos tempos anteriores à salvação realizada por Cristo, manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem e os modos pelos quais o justo e misterioso Deus trata com os homens. Estes livros, embora contenham também algumas coisas imperfeitas e transitórias manifestam, contudo, a verdadeira pedagogia divina. Por isto, devem ser devotamente recebidos pelos cristãos esses livros que exprimem um sentido vivo de Deus e contêm sublimes ensinamentos acerca de Deus e uma salutar sabedoria concernente à vida do homem e admiráveis tesouros de preces, nos quais enfim está latente o mistério de nossa salvação (DV 15).

Novo Testamento

A Palavra de Deus, que é a força de Deus para a salvação de todo o que crê (cf. Rom 1, 16), é apresentada e manifesta seu vigor de modo eminente nos escritos do Novo Testamento. Com efeito, quando chegou o tempo estabelecido (cf. Gal 4, 4), o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade (Jo 1, 14). Cristo instaurou na terra o Reino de Deus, por fatos e por palavras deu a conhecer o Pai e a si próprio, e completou sua obra com a morte, ressurreição e gloriosa ascensão e com o envio do Espírito Santo. Levantado da terra atrai todos a si (cf. Jo 12, 32). Ele é o único que tem palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68). Este mistério, porém, não foi manifestado a outras gerações como foi revelado agora aos seus santos Apóstolos e Profetas no Espírito Santo (cf Ef 3, 46) para que pregassem o Evangelho, suscitassem à fé em Jesus Cristo e Senhor e congregassem a Igreja. Os escritos do Novo Testamento são testemunho perene e divino destas coisas (DV 17).

Ninguém desconhece que entre todas as Escrituras, mesmo as do Novo Testamento, os Evangelhos gozam de merecida primazia, uma vez que constituem testemunho por excelência da vida e da doutrina do Verbo Encarnado, nosso Salvador.

Que os quatro Evangelhos têm origem apostólica, a Igreja sempre e em toda parte o ensinou e ensina. Pois, aquilo que os Apóstolos pregaram por ordem de Cristo, eles próprios e os varões apostólicos sob a inspiração do Espírito Santo no-lo transmitiram em escritos que são o fundamento da fé, a saber, o quadriforme Evangelho - segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. (DV 18).

A Santa Mãe Igreja firme e constantemente creu e crê que os quatro mencionados Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para salvação deles, até o dia em que foi elevado (cf. At 1, l-2).

Os autores sagrados escreveram os quatro Evangelhos, escolhendo certas coisas das muitas transmitidas ou oralmente ou já por escrito, fazendo síntese de outras ou explanando-as com vistas à situação das igrejas, conservando enfim a forma de proclamação, sempre de maneira a transmitir-nos verdades autênticas a respeito de Jesus. Pois foi esta a intenção com que escreveram, seja com fundamento na própria memória e recordações, seja baseado no testemunho daqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da Palavra, para que conheçamos a solidez daqueles ensinamentos que temos recebido (Lc 1, 2-4). (DV 19).


quinta-feira, 24 de junho de 2010

INSPIRAÇÃO DIVINA DA BÍBLIA E SUA INTERPRETAÇÃO.


As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito na Sagrada Escritura e nesta se nos oferecem, foram consignadas sob influxo do Espírito Santo. Pois a Santa Mãe lgreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspíração do Espírito Santo (cf. Jo 20, 31; II Tim 3, 16; II Pe 1, 19-21; 3, 15-16), eles têm em Deus o seu autor e nesta sua qualidade foram confiados a mesma Igreja. Na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, utilizou-se deles sem tirar-lhes o uso das próprias capacidades e faculdades, a fim de que, agindo ele próprio neles e por eles, consignassem por escrito, como verdadeiros autores, aquilo tudo e só aquilo que ele próprio quisesse.

Portanto, já que tudo o que os autores inspirados ou os hagiógrafos afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, segue-se que devemos confessar que os livros da Escritura ensinam inconcussamente, fielmente e sem erro a verdade que Deus para nossa salvação quis fosse consignada por escrito. Por isso, toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra (II Tim 3, 16-17) (DV 11).

Entretanto, já que Deus na Sagrada Escritura falou através de homens e de modo humano, deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que foi que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e por suas palavras aprouve a Deus manifestar. Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, deve-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras bem diferentes nos textos de um modo ou outro históricos, ou proféticos, ou poéticos, bem como em outras modalidades de expressão. Ora, é preciso que o intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura, quis exprimir e exprimiu por meio de gêneros literários então em uso. Pois, para corretamente entender aquilo que o autor sacro haja intencionado afirmar por escrito, é necessário levar devidamente em conta tanto as nossas maneiras comuns e espontâneas de pensar, falar e contar, as quais já eram correntes no tempo do hagiógrafo, como as que costumavam empregar-se no intercâmbio humano daquelas eras.

Mas como a Sagrada Escritura deve ser também lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita, para bem captar o sentido dos textos sagrados, deve-se atender com não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levada em conta a Tradição viva da Igreja toda e a analogia da fé. Cabe aos exegetas trabalhar esforçadamente dentro destas diretrizes para mais aprofundadamente entender e expor o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho de certo modo preparatório amadureça o julgamento da Igreja. Pois tudo o que concerne à maneira de interpretar a Escritura está sujeito em última instância ao juizo da Igreja, que exerce o mandato e ministério divino de guardar e interpretar a palavra de Deus. (DV 12).

terça-feira, 22 de junho de 2010

A SAGRADA TRADIÇÃO


Assim, a pregação apostólica, expressa de modo especial nos livros inspirados, devia conservar-se sem interrupção até a consumação dos tempos. Por isto os Apóstolos, transmitindo aquilo que eles próprios receberam (cf. I Cor 11, 23; 15, 3), exortam os fiéis a manter as tradições que aprenderam seja oralmente, seja por carta (cf. II Tes 2, 15) e a combater pela fé uma vez transmitida aos santos (cf. Jdr 3). 11 Quanto à Tradição recebida dos Apóstolos ela compreende todas aquelas coisas que contribuem para santamente conduzir a vida e fazer crescer a fé do Povo de Deus, e assim a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que crê.

Esta Tradição, oriunda dos Apóstolos, progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo. 12 Cresce, com efeito, a compreensão tanto das realidades como das palavras transmitidas, seja pela contemplação e estudo dos que crêem, os quais as meditam em seu coração (cf. Lc 2, 19.5 1), seja pela íntima compreensão que desfrutam das coisas espirituais, seja pela pregação daqueles que com a sucessão do episcopado receberam o carisma autêntico da verdade. É que a Igreja, no decorrer dos séculos, tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que se cumpram nelas as palavras de Deus.

O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante dessa Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida da Igreja que crê e ora. Pela mesma Tradição toma-se conhecido à Igreja o Cânon completo dos Livros Sagrados e as próprias Sagradas Escrituras são nela cada vez melhor compreendidas e se fazem sem cessar atuantes (DV 8).
A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão, portanto, estreitamente conexas e interpenetradas. Ambas promanam da mesma fonte divina, formam de certo modo um só todo e tendem para o mesmo fim. Com efeito, a Sagrada Escritura é a fala de Deus enquanto é redigida sob a moção do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos para que, sob a luz do Espírito de verdade, eles em sua pregação fielmente a conservem, exponham e difundam. Resulta, assim, que não é através da Escritura apenas que a Igreja consegue sua certeza a respeito de tudo que foi revelado. Por isso, ambas - Escritura e Tradição - devem ser recebidas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência 13. (DV 9).

O ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida 15 foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, 16 cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo. Tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo religiosamente ausculta aquelas palavras, santamente a guarda e fielmente a expõe. E deste único depósito da fé o Magistério tira tudo aquilo que nos propõe como verdade de fé divinamente revelada.
Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal maneira entrelaçados e unidos que um perde sua consistência sem os outros e que, juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas. (DV 10).

INSPIRAÇÃO DIVINA DA BÍBLIA E SUA INTERPRETAÇÃO.

As coisas divinamente reveladas, que se encerram por escrito na Sagrada Escritura e nesta se nos oferecem, foram consignadas sob influxo do Espírito Santo. Pois a Santa Mãe lgreja, segundo a fé apostólica, tem como sagrados e canônicos os livros completos tanto do Antigo como do Novo Testamento, com todas as suas partes, porque, escritos sob a inspíração do Espírito Santo (cf. Jo 20, 31; II Tim 3, 16; II Pe 1, 19-21; 3, 15-16), eles têm em Deus o seu autor e nesta sua qualidade foram confiados a mesma Igreja. 17 Na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, utilizou-se deles sem tirar-lhes o uso das próprias capacidades e faculdades, 18 a fim de que, agindo ele próprio neles e por eles, 19 consignassem por escrito, como verdadeiros autores, aquilo tudo e só aquilo que ele próprio quisesse. 20

Portanto, já que tudo o que os autores inspirados ou os hagiógrafos afirmam deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, segue-se que devemos confessar que os livros da Escritura ensinam inconcussamente, fielmente e sem erro a verdade que Deus para nossa salvação quis fosse consignada por escrito. 21 Por isso, toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra (II Tim 3, 16-17) (DV 11).

Entretanto, já que Deus na Sagrada Escritura falou através de homens e de modo humano, 22 deve o intérprete da Sagrada Escritura, para bem entender o que Deus nos quis transmitir, investigar atentamente o que foi que os hagiógrafos de fato quiseram dar a entender e por suas palavras aprouve a Deus manifestar. Para descobrir a intenção dos hagiógrafos, deve-se levar em conta, entre outras coisas, também os gêneros literários. Pois a verdade é apresentada e expressa de maneiras bem diferentes nos textos de um modo ou outro históricos, ou proféticos, ou poéticos, bem como em outras modalidades de expressão. Ora, é preciso que o intérprete pesquise o sentido que, em determinadas circunstâncias, o hagiógrafo, conforme a situação de seu tempo e de sua cultura, quis exprimir e exprimiu por meio de gêneros literários então em uso. 23 Pois, para corretamente entender aquilo que o autor sacro haja intencionado afirmar por escrito, é necessário levar devidamente em conta tanto as nossas maneiras comuns e espontâneas de pensar, falar e contar, as quais já eram correntes no tempo do hagiógrafo, como as que costumavam empregar-se no intercâmbio humano daquelas eras. 24.

Mas como a Sagrada Escritura deve ser também lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que foi escrita, 25 para bem captar o sentido dos textos sagrados, deve-se atender com não menor diligência ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura, levada em conta a Tradição viva da Igreja toda e a analogia da fé. Cabe aos exegetas trabalhar esforçadamente dentro destas diretrizes para mais aprofundadamente entender e expor o sentido da Sagrada Escritura, a fim de que, por seu trabalho de certo modo preparatório amadureça o julgamento da Igreja. Pois tudo o que concerne à maneira de interpretar a Escritura está sujeito em última instância ao juizo da Igreja, que exerce o mandato e ministério divino de guardar e interpretar a palavra de Deus. 26 (DV 12).

domingo, 20 de junho de 2010

Dei Verbum – Sobre a Revelação Divina


A Palavra de Deus é religiosamente auscultada e com coragem proclamada pelo Concílio, que faz suas as palavras de São João: Nós vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e se nos manifestou: nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos - para que vós também estejais em comunhão conosco e a nossa comunhão seja com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo ( I Jo 1, 2-3). Por isto, seguindo as pegadas dos Concílios Tridentino e Vaticano I, este Santo Concílio se propõe expor a genuína doutrina acerca da Revelação Divina e de sua transmissão a fim de que, pelo anúncio da salvação, o mundo inteiro ouvindo creia, crendo espere, esperando ame.1 (DV1).
Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se e tomar conhecido o mistério de sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo qual os homens têm, no Espírito Santo, acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina por Cristo, Verbo feito carne (cf. Ef 2, 18; II Pe 1, 4). Mediante esta revelação, portanto, o Deus invisível (cf. Col 1, 15; I Tim 1, 17), levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos ( cf. Êx 33, 11; Jo 15, 14-15), entretém-se com eles (cf. Bar 3, 38) para convidá-los à participação de sua intimidade. (DV2).

A seu tempo, Deus chamou a Abraão, a fim de fazer dele um grande povo (cf. Gên 12, 2-3), ao qual, após os Patriarcas, foi educando por meio de Moisés e dos Profetas a reconhecê-lo como único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo juiz, e a esperar o Salvador prometido. E assim foi Deus preparando, ao longo dos séculos, o caminho para o Evangelho (DV3).
Depois de ter falado em muitas ocasiões e de diversos modos pelos Profetas, ultimamente, nesta etapa final, Deus nos falou por seu Filho (Heb 1, 1-2). Com efeito, ele enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre eles e lhes expusesse os arcanos de Deus (cf. Jo 1, 1-18). Jesus Cristo, portanto, Verbo feito carne, enviado como homem aos homens,3 fala a linguagem de Deus (Jo 3, 34) e consuma a obra salvífica que o Pai lhe confiou (cf Jo 5, 36; 17, 4). Eis por que ele, ao qual quem vê vê também o Pai (cf Jo 14, 9), pela plena presença e manifestação de si mesmo por palavras e obras, sinais e milagres, e especialmente por sua morte e gloriosa ressurreição dentre os mortos e, enfim, pelo Espírito de verdade enviado, realiza e completa a revelação e a confirma, atestando de maneira divina que Deus está conosco para libertar-nos das trevas da morte e do pecado e para ressuscitar-nos para a vida eterna.

A economia cristã, pois, em sua qualidade de aliança nova e definitiva, jamais passará, e não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. I Tim 6, 14; Tt 2, 13) (DV 4).
Pela revelação divina quis Deus manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos de sua vontade acerca da salvação dos homens, a saber, para fazer participar os bens divinos, que superam inteiramente a capacidade da mente humana.6
Este sacrossanto Concílio professa que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas (cf Rom 1, 20); mas ensina que se deve atribuir à sua revelação o fato de mesmo na presente situação do gênero humano se poderem conhecer por todos e de modo acessível e com sólida certeza e sem mistura de nenhum erro aquelas coisas que em matéria divina não são de per si inacessíveis à razão humana.

Em sua extrema benignidade, Deus tomou providências a fim de que aquilo que ele revelara para a salvação de todos os povos se conservasse inalterado para sempre e fosse transmitido a todas as gerações. Por isto o Cristo Senhor, em quem se completa toda a revelação do Sumo Deus (cf. II Cor 1, 20; 3, 16-4, 6), ordenou aos Apóstolos que o Evangelho, prometido antes pelos Profetas, completado por ele e por sua própria boca promulgado, fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda verdade salvífica e de toda disciplina de costumes, comunicando-lhes dons divinos. 8 E isto foi fielmente executado tanto pelos Apóstolos, que na pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram aquelas coisas que receberam das palavras, da convivência e das obras de Cristo ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo, como também por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.

Mas para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo de Magistério. 10 Portanto, esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os Testamentos são como o espelho em que a Igreja peregrinante na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até que chegue a vê-lo face a face como é (I Jo 3, 2) (DV 7).

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Introdução às Constituições - CV II.


A Lumen Gentium, (Luz dos Povos), é um dos mais importantes textos do Concílio Vaticano II. O texto desta Constituição dogmática foi demoradamente discutido durante a segunda sessão do Concílio. O seu tema é a Igreja, enquanto instituição. Foi objecto de muitas modificações e emendas, como, aliás, todos os documentos aprovados. Inicialmente surgiram, para o texto base, cerca de 4.000 emendas.
Depois de devidamente consideradas as modificações propostas, o texto definitivo foi sujeito globalmente à votação no dia 19 de Novembro: 2145 votantes; 2134 placet; 10 non placet; 1 nulo. No dia 21 de Novembro de 1964, a última votação teve o seguinte resultado: 2151 placet e 5 non placet, após o que o papa Paulo VI promulgou solenemente a Constituição.

No dia 18 de novembro de 1965, o Papa Paulo VI, dentro do Concílio Vaticano II, promulgava a Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a revelação Divina. A Dei Verbum (Palavra de Deus) quer "expor a genuína doutrina acerca da Revelação Divina e de sua transmissão" (DV 1), a fim de que o "tesouro da Revelação" (DV 26) manifeste "o conteúdo profundo seja a respeito de Deus seja da salvação do homem" (DV 2). Nela, a Revelação Divina é apresentada como um processo contínuo de diálogo entre Deus e os seres humanos, que vai desde as origens da aventura humana na terra, até a consumação da História, no fim dos tempos. Mediante esse processo de comunicação de Deus, manifesto de maneira singular na Sagrada Escritura, a história humana torna-se lugar de encontro e de experiência da salvação oferecida sempre e continuamente, por Deus, a todo gênero humano, em Cristo. A Dei Verbum abordou a relação entre Escritura e Revelação e estimulou a leitura da Bíblia entre os católicos.

Até o Concílio Vaticano II, a Igreja distinguia entre Música Sacra, canto religioso popular e música profana. A Música Sacra era a música utilizada na Liturgia, sendo, portanto, em latim. Restringia-se ao canto gregoriano e à polifonia sacra (música a várias vozes). O canto religioso popular era o canto em vernáculo utilizado nas ações de piedade popular (procissões, terços, etc.) e, pelo menos a partir do documento Musicae Sacrae Disciplina , de Pio XII, datado de 1955, também nas missas não-solenes (cf. n.30). A música profana era todo o resto. A partir da reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, o canto religioso popular pôde ser usado com maior freqüência nas missas, até porque toda a missa foi traduzida para o vernáculo, e o canto gregoriano e a polifonia sacra foram caindo em desuso.

Gaudiun et Spes

Gaudiun et Spes, tratou do papel da igreja com a sociedade contemporânea e lançou olhar sobre problemas urgentes individuais, políticos, econômicos e sociais. Este documento foi promulgado no último ano do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) e modificaram estruturalmente as relações da igreja católica com seus fiéis nas últimas quatro décadas.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Dados do Concílio Vaticano II

O Concílio Vaticano II teve a duração de três anos, um mês e vinte e nove dias. Nesse tempo cerca de 2200 Bispos do mundo inteiro encontraram-se 4 vezes em Roma, vivendo, rezando e trabalhando juntos durante 281 dias. Desses 281 dias, 59 foram na I Sessão (11 de outubro de 1963), 67 na II Sessão (de 29 de setembro até 4 de dezembro de 1963), 69 na III Sessão (de 14 de setembro até 21 de novembro de 1964) e 86 na IV Sessão (de 14 de setembro até 08 de dezembro de 1965). Trabalharam em 168 Congregações Gerais (36 na I, 43 na II, 48 na III e 41 na IV sessão). E assistiram a 10 sessões solenes.

Nestes dias pronunciaram 2.217 discursos (600 na I, 618 na II, 666 na III e 333 na IV Sessão) e entregaram 4.361 intervenções escritas não pronunciadas. Ouviram 147 relatórios e fizeram 544 votações, nas quais foram utilizadas 1.360.000 fichas para sufrágios individuais. Morreram neste período 253 Bispos (6 do Brasil).
O Concílio, com seus teólogos e peritos, preparou, discutiu, emendou, votou e promulgou 16 documentos: duas Constituições dogmáticas, uma Constituição pastoral, uma Constituição litúrgica, nove Decretos e três Declarações.
E assim no dia 08 de dezembro de 1965 estava tudo preparado para encerrar formal e solenemente o XXI Concílio Ecumênico. A cerimônia foi realizada na Praça de São Pedro, em frente da Basílica Vaticana. Durante a Santa Missa, celebrada pelo Papa, Paulo VI pronunciou sua comovente homilia de despedida. Depois anunciou as Mensagens do Concílio aos Governantes, aos Intelectuais (com o abraço a Jacques Maritain e o aplauso dos Bispos), aos Trabalhadores, aos Artistas, às Mulheres, aos Jovens, aos Sofredores. Mons. Felici, Secretário Geral do Concílio, leu o Breve de Encerramento. Então todos juntos cantaram as aclamações finais e as orações por todos quantos trabalharam no Concílio. Tudo terminou com a Bênção Apostólica, à qual Sua Santidade aditou as seguintes palavras: “Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ide em paz!” Ao que a assembléia respondeu: “Demos graças a Deus!”. O relógio marcava 13h25.

À noite deste mesmo dia já estavam os Bispos do Brasil no avião, para retornar, cada um à sua Diocese. E tentar viver no espírito do Concílio Vaticano II.
O Concílio Vaticano II, XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, foi aberto sob o papado de João XXIII no dia 11 de outubro de 1962 e terminado sob o papado de Paulo VI em 8 de dezembro de 1965. Nestes três anos, com grande abertura intelectual se discutiu e regulamentou temas pertinentes à Igreja católica, sempre visando a um melhor entendimento de Cristo junto à realidade vigente do homem moderno.

Na homilia de abertura do CVII aos padres conciliares, o Papa da época expõe sua intenção:
“Procuremos apresentar aos homens de nosso tempo, íntegra e pura, a verdade de Deus de tal maneira que eles a possam compreender e a ela espontaneamente assentir. Pois somos Pastores...” (João XXIII, 1962)
O resultado desta procura pela verdade de Deus é sempre um melhor entendimento não só de Deus, mas também de todas as coisas do mundo. Um melhor entendimento, porem, não necessariamente implica em uma negação do que já se sabia. Assim, o CVII com seus resultados não marcou uma ruptura com o passado negando o que já se sabia, muito menos um afastamento das coisas presentes. Mas antes, João Paulo II, o grande, claramente ensina que “... graças ao sopro do Espírito Santo, o Concílio lançou as bases de uma nova primavera da Igreja. Ele não marcou a ruptura com o passado, mas soube valorizar o patrimônio da inteira tradição eclesial, para orientar os fiéis na resposta aos desafios da nossa época.” (JOÃO PAULO II, 1995) .

No conteúdo dos documentos conciliares encontramos realmente a verdade de Deus de uma maneira que todos podem compreender facilmente e desta forma assentir com mais docilidade e amor. Os documentos são os seguintes:

Desses 16 documentos, quero nesses próximos capítulos abordar assuntos relacionados às Constituições, no qual encontraremos várias riquezas de ensinamentos. Pedimos a Deus Pai, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela graça do Espirito Santo, um coração acolhedor, para que possamos acolher todas as verdades deste Santo Concílio e vivenciá-las no nosso dia-dia. Que a SS. Virgem Maria interceda por nós.
Fonte: O Livro: O Concílio Vaticano II - José Amilton Aragão (págs. 15,16 e 17).

sábado, 12 de junho de 2010

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA - LUMEN GENTIUM- MARIA

CAPÍTULO VIII

A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA MÃE DE DEUS NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA

I. PROÉMIO

A Virgem mãe de Cristo

52. Querendo Deus, na Sua infinita benignidade e sabedoria, levar a cabo a redenção do mundo, «ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Seu Filho, nascido de mulher,... a fim de recebermos a filiação adoptiva» (Gál. 4, 4-5). «Por amor de nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus e encarnou na Virgem Maria, por obra e graça do Espírito Santo» (171). Este divino mistério da salvação é-nos relevado e continua na Igreja, instituída pelo Senhor como Seu corpo; nela, os fiéis, aderindo à cabeça que é Cristo, e em comunhão com todos os santos, devem também venerar a memória «em primeiro lugar da gloriosa sempre Virgem Maria Mãe do nosso Deus e Senhor Jesus Cristo» (172).

A Virgem e a Igreja

53. Efectivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça, leva vantagem á todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça» (173). É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afecto de piedade.

Intenção do Concílio

54. Por isso, o sagrado Concílio, ao expor a doutrina acerca da Igreja, na qual o divino Redentor realiza a salvação, pretende esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis. Não tem, contudo, intenção de propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós (174).

II. A VIRGEM SANTÍSSIMA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

A mãe do Redentor no Antigo Testamento

55. A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gén. 3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Miq. 5, 2-3; Mt. 1, 22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena.

Maria na Anunciação

56. Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuisse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo a modelou e d'Ela fez uma nova criatura (175). Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça» (cfr. Luc. 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Luc. 1,38). Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção. por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. Como diz S. Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o género humano» (176). Eis porque não poucos, Padres afirmam com ele, nas suas pregações, que «o no da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé» (177); e, por comparação com Eva, chamam Maria a «mãe dos vivos»(178) e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio por Maria» (179).

Maria na infância de Jesus

57. Esta associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe (cfr. Luc. 1, 41-45); depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a consagrou (180). E quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos (cfr. Luc. 2, 34-35). Ao Menino Jesus, perdido e buscado com aflição, encontraram-n'O os pais no templo, ocupado nas coisas de Seu Pai; e não compreenderam o que lhes disse. Mas sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelas meditava (cfr. Luc. 2, 41-51).

Maria na vida pública e na paixão de Cristo

58. Na vida pública de Jesus, Sua mãe aparece duma maneira bem marcada logo no princípio, quando, nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres. Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática (cfr. Mc. 3,35 e paral.; Luc. 11, 27-28); coisa que ela fazia fielmente (cfr. Luc. 2, 19 e 51). Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a. união com seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. Jo.19,25), padecendo acerbamente com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr. Jo. 19, 26-27) (181).

Maria depois da Ascensão

59. Tendo sido do agrado de Deus não manifestar solenemente o mistério da salvação humana antes que viesse o Espírito prometido por Cristo, vemos que, antes do dia de Pentecostes, os Apóstolos «perseveravam unânimemente em oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e Seus irmãos» (Act. 1,14), implorando Maria, com as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação. Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original (198), terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma (183) e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (cfr. Apoc. 19,16) e vencedor do pecado e da morte (184).

III. A VIRGEM SANTÍSSIMA E A IGREJA

O influxo salutar de Maria e a mediação de Cristo

60. O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece.

A maternidade espiritual

61. A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultâneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça.

A natureza da sua mediação

62. Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação eterna de todos os eleitos. De facto, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna (185). Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira (186). Mas isto entende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo (187).
Efectivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde vàriamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte.
Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e salvador.

Maria tipo da Igreja como Virgem e Mãe

63. Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como já ensinava S. Ambrósio (188). Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de mãe (189). Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Rom. 8,29), isto é, dos fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe.

A fecundidade virginal da Igreja

64. Por sua vez, a Igreja que contempla a sua santidade misteriosa e imita a sua caridade, cumprindo fielmente a vontade do Pai, toma-se também, ela própria, mãe, pela fiel recepção da palavra de Deus: efectivamente, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para vida nova e imortal, os filhos concebidos por acção do Espírito Santo e nascidos de Deus. E também ela é virgem, pois guarda fidelidade total e pura ao seu Esposo e conserva virginalmente, à imitação da Mãe do seu Senhor e por virtude do Espírito Santo, uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma verdadeira caridade (190).

Virtudes de Maria

65. Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria (cfr. Ef. 5,27), os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu Esposo. Pois Maria, que entrou intimamente na história da salvação, e, por assim dizer, reune em si e reflecte os imperativos mais altos da nossa fé, ao ser exaltada e venerada, atrai os fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai. Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em tudo a vontade divina. Daqui vem igualmente que, na sua acção apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou a Cristo, o qual foi concebido por acção do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. E, na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afecto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens.

IV. O CULTO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM NA IGREJA

Natureza e fundamento do culto

66. Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus», e sob a sua protecção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades (191). Foi sobretudo a partir do Concílio do Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiràvelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso» (Luc.1,48). Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e recta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos.

Espírito da pregação e do culto

67. Muito de caso pensado ensina o sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todas os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem, sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo magistério, e que mantenham fielmente tudo aquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos santos (192). Aos teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os instantemente a evitarem com cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de Deus (193). Estudando, sob a orientação do magistério, a Sagrada Escritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias das Igrejas, expliquem como convém as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade, santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes.

V. MARIA, SINAL DE SEGURA ESPERANÇA E DE CONSOLAÇÃO PARA O POVO DE DEUS PEREGRINANTE

Sinal de Esperança e de consolação

68. Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10).

Medianeira para a unidade da Igreja

69. E é uma grande alegria e consolação para este sagrado Concílio o facto de não faltar entre os irmãos separados quem preste à Mãe do Senhor e Salvador o devido culto; sobretudo entre os Orientais, que acorrem com fervor e devoção a render culto à sempre Virgem Mãe de Deus (194). Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que assistiu com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reunam felizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA - LUMEN GENTIUM - PARTE VII

CAPÍTULO VII

A ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINA E A SUA UNIÃO COM A IGREJA CELESTE

Caráter escatológico da nossa vocação à Igreja

48. A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cfr. Act. 3,21) e, quando, juntamente com o género humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cfr. Ef, 1,10; Col. 1,20; 2 Ped. 3, 10-13).
Na verdade, Cristo, elevado sobre a terra, atraiu todos a Si (cfr. Jo. 12,32 gr.); ressuscitado de entre os mortos (cfr. Rom. 6,9), infundiu nos discípulos o Seu Espírito vivificador e por Ele constituiu a Igreja, Seu corpo, como universal sacramento da salvação; sentado à direita do Pai, actua continuamente na terra, a fim de levar os homens à Igreja e os unir mais estreitamente por meio dela, e, alimentando-os com o Seu próprio corpo e sangue, os tornar participantes da Sua vida gloriosa. A prometida restauração que esperamos, já começou, pois, em Cristo, progride com a missão do Espírito Santo e, por Ele, continua na Igreja; nesta, a fé ensina-nos o sentido da nossa vida temporal, enquanto, na esperança dos bens futuros, levamos a cabo a missão que o Pai nos confiou no mundo e trabalhamos na nossa salvação (cfr. Fil. 2,12).
Já chegou, pois, a nós, a plenitude dos tempos (cfr. 1 Cor. 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (cfr. 2 Ped. 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8, 19-22).
Unidos, pois, a Cristo na Igreja, e marcados com o sinal do Espírito Santo «que é o penhor da nossa herança» (Ef. 1,14), chamamo-nos filhos de Deus e em verdade o somos (cfr. 1 Jo. 3,1); mas não aparecemos ainda com Cristo na glória (cfr. Col. 3,4), na qual seremos semelhantes a Deus, porque O veremos como Ele é (cfr. 1 Jo. 3,2). E assim, «enquanto estamos no corpo, vivemos exilados, longe do Senhor» (2 Cor. 5,6) e, tendo recebido as primícias do Espírito, gememos no nosso íntimo (cfr. Rom. 8,23) e anelamos por estar com Cristo (cfr. Fil. 1,23). Por este mesmo amor somos incitados a viver mais para Ele, que por nós morreu e ressuscitou (cfr. 2 Cor. 5,15). Esforçamo-nos, por isso, por agradar a Deus em todas as coisas (cfr. 2 Cor. 5,9) e revestimo-nos da armadura de Deus, para podermos fazer frente às maquinações do diabo e resistir no dia perverso (cfr. Ef. 6, 11-13). Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma (cfr. Hebr. 9,27), mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os eleitos (cfr. Mt. 25, 51-46), e não sejamos lançados, como servos maus e preguiçosos (cfr. M t. 25,26), no fogo eterno (cfr. Mt. 25,41), nas trevas exteriores, onde «haverá choro e ranger de dentes» (Mt. 22,13; 25,30). Com efeito, antes de reinarmos com Cristo glorioso, cada um de nós será apresentado «perante o tribunal de Cristo, a fim de ser remunerado pelas obras que realizou enquanto vivia no corpo, boas ou más» (2 Cor. 5,10); e, no fim do mundo, «os que tiverem feito boas obras, irão para a ressurreição da vida, os que tiverem praticado más acções, para a ressurreição da condenação (Jo. 5,29; cfr. Mt. 25,46). Pensando, pois, que «os sofrimentos desta vida não têm proporção com a glória que se há-de revelar em nós» (Rom. 8,18; cfr. 2 Tim. 2, 11-12), fortalecidos pela fé, aguardamos «a bem-aventurada esperança e a vinda gloriosa do grande Deus e salvador nosso Jesus Cristo), (Tit. 2,13), «o qual transformará o nosso corpo miserável, tornando-o conforme ao Seu corpo glorioso), (Fil. 3,21) e virá «ser glorificado nos Seus santos e admirado em todos os que acreditaram), (2 Tess. 1,10).

União da Igreja celeste com a Igreja peregrina

49. Deste modo, enquanto o Senhor não vier na Sua majestade e todos os Seus anjos com Ele (cfr. Mt. 25,31) e, vencida a morte, tudo Lhe for submetido (cfr. 1 Cor. 15, 26-27), dos Seus discípulos uns peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados e contemplam «claramente Deus trino e uno, como Ele é»(146); todos, porém, comungamos, embora em modo e grau diversos, no mesmo amor de Deus e do próximo, e todos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de louvor. Com efeito, todos os que são de Cristo e têm o Seu Espírito, estão unidos numa só Igreja e ligados uns aos outros n'Ele (cfr. Ef. 4,16). E assim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo, mas antes, segundo a constante fé da Igreja, é reforçada pela comunicação dos bens espirituais (147). Porque os bem-aventurados, estando mais ìntimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade, enobrecem o culto que ela presta a Deus na terra, e contribuem de muitas maneiras para a sua mais ampla edificação em Cristo (cfr. 1 Cor. 12, 12-27) (148). Recebidos na pátria celeste e vivendo junto do Senhor (cfr. 2 Cor. 5,8), não cessam de interceder, por Ele, com Ele e n'Ele, a nosso favor diante do Pai (149), apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo (cfr. 1 Tim., 2,5), servindo ao Senhor em todas as coisas e completando o que falta aos sofrimentos de Cristo, em favor do Seu corpo que é a Igreja (cfr. Col. 1,24) (150). A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos.

Expressões dessa união: orações pelos defuntos, culto dos santos

50. Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade desde os primeiros tempos do Cristianismo a memória dos defuntos (151) e, «porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados» (2 Mac. 12,46), por eles ofereceu também sufrágios. Mas, os apóstolos e mártires de Cristo que, derramando o próprio sangue, deram o supremo testemunho de fé e de caridade, sempre a Igreja acreditou estarem mais ligados connosco em Cristo, os venerou com particular afecto, juntamente com a Bem-aventurada Virgem Maria e os santos Anjos (152) e implorou o auxílio da sua intercessão. Aos quais bem depressa foram associados outros, que mais de perto imitaram a virgindade e pobreza de Cristo (153) e, finalmente, outros, cuja perfeição nas virtudes cristãs (154) e os carismas divinos recomendavam à piedosa devoção dos fiéis (155).
Com efeito, a vida daqueles que fielmente seguiram a Cristo, é um novo motivo que nos entusiasma a buscar a cidade futura (cfr. Hebr. 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminho seguro, pelo qual, por entre as efémeras realidades deste mundo e segundo o estado e condição próprios de cada um, podemos chegar à união perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade (156). É sobretudo na vida daqueles que, participando connosco da natureza humana, se transformam, porém, mais perfeitamente à imagem de Cristo, (cfr. 2 Cor. 3,18) que Deus revela aos homens, de maneira mais viva, a Sua presença e a Sua face. Neles nos fala, e nos dá um sinal do Seu reino (157), para o qual, rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas (cfr. Hebr. 12,1) e tendo uma tal afirmação da verdade do Evangelho, somos fortemente atraídos.
Porém, não é só por causa de seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a Igreja aumente com o exercício da caridade fraterna (cfr. Ef. 4, 1-6). Pois, assim como a comunhão cristã entre os peregrinos nos aproxima mais de Cristo, assim a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e cabeça, toda a graça e ã própria vida do Povo de Deus(158).
É, portanto, muito justo que amemos estes amigos e co-herdeiros de Jesus Cristo, nossos irmãos e grandes benfeitores, que dêmos a Deus, por eles, as devidas graças (159), «lhes dirijamos as nossas súplicas e recorramos às suas orações, ajuda e patrocínio, para obter de Deus os benefícios, por Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e Redentor e Salvador único» (160) Porque todo o genuíno testemunho de veneração que prestamos aos santos, tende e leva, por sua mesma natureza, a Cristo, que é a «coroa de todos os santos» (161) e, por Ele, a Deus, que é admirável nos seus santos e neles é glorificado (162).
Mas a nossa união com a Igreja celeste realiza-se de modo mais sublime. quando, sobretudo na sagrada Liturgia, na qual a virtude do Espírito Santo actua sobre nós através dos sinais sacramentais, concelebramos em comum exultação os louvores da divina Majestade (163) e, todos de todas as tribos, línguas e povos, remidos no sangue de Cristo (cfr. Apoc. 5,9) e reunidos numa única Igreja, engrandecemos com um único canto de louvor o Deus uno e trino. Assim, ao celebrar o sacrifício eucarístico, unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja celeste, comungando e venerando a memória, primeiramente da gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e mártires e de todos os santos (164).

Unidade no amor e na Liturgia

51. Esta venerável fé dos nossos maiores acerca da nossa união vital com os irmãos que já estão na glória celeste ou que, após a morte, estão ainda em purificação, aceita-a este sagrado Concílio com muita piedade e de novo propõe os decretos dos sagrados Concílios Niceno II (167), Florentino (165) e Tridentino (166). Ao mesmo tempo, com solicitude pastoral, exorta todos aqueles a quem isto diz respeito a esforçarem-se por desterrar ou corrigir os abusos, excessos ou defeitos que porventura tenham surgido aqui ou além, e tudo restaurem para maior glória de Cristo e de Deus. Ensinem, portanto, aos fiéis que o verdadeiro culto dos santos não consiste tanto na multiplicação dos actos externos quanto na intensidade do nosso amor efectivo, pelo qual, para maior bem nosso e da Igreja, procuramos «na vida dos santos um exemplo, na comunhão com eles uma participação, e na sua intercessão uma ajuda» (168). Por outro lado, mostrem aos fiéis que as nossas relações com os bem-aventurados, quando concebidas à luz da fé, de modo algum diminuem o culto de adoração prestado a Deus pai por Cristo, no Espírito, mas pelo contrário o enriquecem ainda mais (169).
Pois, com efeito, todos os que somos filhos de Deus, e formamos em Cristo uma família (cfr. Hebr. 3,6), ao comunicarmos na caridade mútua e no comum louvor da Trindade Santíssima, correspondemos à íntima vocação da Igreja e participamos, prelibando-a, na liturgia da glória (170), Com efeito, quando Cristo aparecer e se der a gloriosa ressurreição dos mortos, a luz de Deus iluminará a cidade celeste e o seu candelabro será o Cordeiro (cfr. Apoc. 21,24). Então, toda a Igreja dos santos, na suprema felicidade da caridade, adorará a Deus e ao «Cordeiro que foi imolado» (Apoc. 5,12), proclamando numa só voz: «louvor, honra, glória e poderio, pelos séculos dos séculos, Aquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro» (Apoc. 5, 13-14).