quarta-feira, 24 de março de 2010

Quem é o papa?

A palavra Papa vem do grego pai; ele é o representante (Vigário) de Cristo na Terra, sucessor de São Pedro no governo da Igreja católica. Tem autoridade sobre todos os fiéis católicos e sobre toda a hierarquia eclesiástica, incluindo o Concilio Ecumênico. Ele é infalível quando define alguma verdade “ex-cathedra” (do trono), em assuntos de fé e de moral. Esta infalibilidade foi declarada no Concilio Vaticano I, em 1870 (Constituição “Pastor Aeternus”).

A eleição do Papa é reservada aos Cardeais que se reúnem no Conclave; o novo Papa é eleito com 2/3 dos votos e só participam os Cardeais com menos de 80 anos. Não há em todo o mundo outro Estado que eleja assim o seu Chefe. Até 1059 a eleição do Papa era feito pelo clero de Roma, com a aprovação popular. Quando eleito o Papa muda de nome; o primeiro a mudar de nome foi o papa Osporco, que tomou o nome de Sérgio II (844-847).

Os livros da vida dos santos de Roma afirmam que foram mártires todos os Papas anteriores a Silvestre I (315-335) por causa da perseguição romana que só terminou em 313 com o Edito de Constantino. Com relação á cronologia e ao número de Papas há ainda algumas dúvidas por causa de fontes históricas contraditórias, e também por causa de algumas questões históricas não bem resolvidas, como o caso de papas eleitos mas não empossados; papas que reinaram várias vezes, etc. Por isso há algumas divergências entre os autores das vidas dos papas. O Anuário Pontifício indica 265 papas até João Paulo II; outras fontes falam em 264 por não contar Estevão (752) que não chegou a ser sagrado Bispo de Roma, por ter morrido três dias depois de sua eleição.

A vida dos papas é muito importante não só para os cristãos mas também para a História Geral pois, a partir da queda do Império Romano do Ocidente, eles foram figuras determinantes em muitos acontecimentos da História. Não podemos julgar a figura e a vida de um papa sem considerar as condições políticas, sociais , as lutas entre facções que a partir do século IX influenciaram as decisões de alguns papas.

Ao instituir a Igreja, a partir do Colégio dos Doze Apóstolos, Jesus o quis como um grupo estável e escolheu Pedro para chefiá-lo. (cf. Mt 16,16; Jo 21,15-17). Todo grupo humano precisa ter uma Cabeça visível para manter a sua ordem e unidade. A missão de Pedro e dos Papas, seus sucessores, sempre foi a de manter a Igreja unida e guardar a doutrina da fé. O Código de Direito Canônico da Igreja, diz que:

“O Bispo da Igreja de Roma, no qual perdura o múnus concedido pelo Senhor singularmente a Pedro, primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido a seus sucessores, é a Cabeça do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e aqui na terra Pastor da Igreja universal; ele, pois, em virtude de seu múnus, tem na terra o poder ordinário supremo, pleno, imediato e universal, que pode sempre exercer livremente”(CDC,Cân.331).

A Igreja tem a sua Cabeça divina, invisível, o próprio Cristo; e tem a sua Cabeça humana, o seu chefe visível, o Papa. Cristo assim o quis. Diz o Catecismo que:

“Somente a Simão, a quem deu o nome de Pedro, o Senhor constituiu como a pedra da sua Igreja. Entregou-lhe as suas chaves, instituiu-o pastor de todo o rebanho” (§º 881).

“E eu te declaro: Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18-19).

Pedro é a pedra sobre a qual Ele quis edificar a Sua Igreja. É preciso notar que o Senhor diz “a Minha Igreja”. Usou um pronome possessivo “Minha”; ela é propriedade Sua, é o Seu próprio Corpo, e Ele a quis construída sobre o Papa. Não existe outra.

Para não deixar dúvidas a respeito disto, no primeiro encontro que Jesus teve com Simão, trocou-lhe o nome para “Kefas”, que quer dizer Pedro, o mesmo que pedra em aramaico. Pedro não se deu conta da grandiosidade daquele acontecimento, no momento, mas, certamente, se lembrou dele mais tarde. Ouçamos o evangelista contar logo no início do seu Evangelho: “André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João [Batista] e que o tinham seguido. Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: “Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). Levou-o a Jesus e Jesus, fixando nele o olhar, disse “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Kefas (que quer dizer pedra)”(Jo 1,40ss)”.

É importante observar que “no primeiro encontro” com Simão, Jesus “fixa nele o olhar” e muda o seu nome para Pedro. Isto não foi sem razão. Na Bíblia, quando Deus muda o nome de alguém, é porque está dando a essa pessoa uma missão. Para o judeu o nome da pessoa tinha algo a ver com a sua identidade e missão. Assim, por exemplo o Anjo disse a José:

“Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus [= Deus salva], porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,21).

Um exemplo marcante de mudança de nome foi o que ocorreu com Abraão. Ele se chamava Abrão, que quer dizer “pai elevado” e Deus mudou seu nome para Abraão, que significa “pai de uma multidão”, porque Deus o escolhera para a grandiosa tarefa de pai do seu Povo. Diz o Gênesis:

“Abrão [note o nome antigo!] tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse: “Eu sou o Deus todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro, quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao infinito a tua descendência”. Abrão prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti uma multidão de povos...”(Gen17,18).

É interessante notar que Deus mudou também o nome de Sara, de Sarai (estéril) para Sara (fértil). “Disse Deus a Abraão: “Não chamarás mais a tua mulher Sarai e sim Sara. Eu a abençoarei, e dela te darei um filho. Eu a abençoarei, e ela será mãe de nações e dela sairão reis” (Gen 17, 15-16). A mesma mudança de nome ocorreu com Jacó, o Patriarca do povo Judeu, que Deus passa a chamar de Israel:

“Deus apareceu ainda a Jacó ... e o abençoou. Deus lhe disse: “Tens o nome de Jacó, mas não te chamarás mais Jacó: teu nome será Israel”. (Gen 35,10-13) Essa “mudança de nome” Jesus fez também com Simão, "no primeiro encontro", em vista da missão solene que lhe haveria de dar mais tarde: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt 16,18).

Após a Ressurreição Jesus confirma Pedro como o pastor de todo o rebanho. “Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes ? “Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus. “Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15-17)”.

Por três vezes o Senhor repetiu esta pergunta a Pedro, e por três vezes lhe disse: “Apascenta as minha ovelhas”. A nenhum outro Apóstolo isto foi dito. Alguns Padres da Igreja viram nesta tríplice confirmação de Pedro como “Pastor do rebanho”, como que uma maneira de apagar aquelas três vezes que Pedro negou tristemente o Senhor dizendo: “Não conheço este homem” (Jo 18,17.25-27, Mt 26,70-75). Na verdade essa repetição tríplice era a forma solene que o hebreu usava na confirmação de uma missão.

É importantíssimo notar que, mesmo após Pedro ter negado Jesus tristemente, por três vezes, ainda assim o Senhor não tirou dele a chefia do rebanho. Como então - podemos perguntar - os homens querem tirar de Pedro e do Papa o Primado da Igreja, se nem mesmo Jesus, após ter sido negado e renegado por Pedro, tirou-lhe o mandato? Se Cristo manteve Pedro como o Chefe da Sua Igreja, mesmo após a negação triste, seremos nós homens, que teremos a ousadia de negar-lhe o primado? Não sejamos insensatos, “de Deus não se zomba” (Gl 7,1). Atentam gravemente contra a vontade expressa do Senhor aqueles que não querem aceitar a jurisdição do Papa sobre toda a Igreja universal. Desde os primeiros séculos da Igreja, o Bispo de Roma, o Papa, exerceu o primado na Igreja. Vejamos, por exemplo, o que diz São Cipriano (†258), bispo de Cartago, o grande defensor da unidade da Igreja, já no terceiro século:

“O Senhor diz a Pedro: “Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus...O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos depois de sua ressurreição, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio. Recebei o Espírito Santo, se perdoardes os pecados de alguém, ser-lhes-ão perdoados, se os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram, como Pedro, dotados de igual participação na honra e no poder; mas o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo... Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?” ( Sobre a Unidade da Igreja ).

Vemos, portanto, que desde os primeiros séculos, os cristãos já tinham a noção exata de que sobre a cátedra de Pedro foi fundada a Igreja. São João Crisóstomo (†407), bispo de Constantinopla, doutor da Igreja, um dos santos mais importantes do Oriente, dizia que:

“No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma.”

“Pedro, na verdade, ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apóia a fé e sobre a qual está edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo o Filho de Deus vivo, foi-lhe dado ouvir:

“Sobre esta pedra - a da sólida fé - edificarei a minha Igreja”(Mt 16,18).

“Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus, quando, após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e por ele honrado com as palavras: “apascenta as minhas ovelhas”(Jo 21,15s). Dizendo isto, o Senhor nos estimulou à conversão, e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitência sincera e se corrige de seus pecados” (Haer. 59,c,8).

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