domingo, 20 de junho de 2010

Dei Verbum – Sobre a Revelação Divina


A Palavra de Deus é religiosamente auscultada e com coragem proclamada pelo Concílio, que faz suas as palavras de São João: Nós vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e se nos manifestou: nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos - para que vós também estejais em comunhão conosco e a nossa comunhão seja com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo ( I Jo 1, 2-3). Por isto, seguindo as pegadas dos Concílios Tridentino e Vaticano I, este Santo Concílio se propõe expor a genuína doutrina acerca da Revelação Divina e de sua transmissão a fim de que, pelo anúncio da salvação, o mundo inteiro ouvindo creia, crendo espere, esperando ame.1 (DV1).
Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se e tomar conhecido o mistério de sua vontade (cf. Ef 1, 9), pelo qual os homens têm, no Espírito Santo, acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina por Cristo, Verbo feito carne (cf. Ef 2, 18; II Pe 1, 4). Mediante esta revelação, portanto, o Deus invisível (cf. Col 1, 15; I Tim 1, 17), levado por seu grande amor, fala aos homens como a amigos ( cf. Êx 33, 11; Jo 15, 14-15), entretém-se com eles (cf. Bar 3, 38) para convidá-los à participação de sua intimidade. (DV2).

A seu tempo, Deus chamou a Abraão, a fim de fazer dele um grande povo (cf. Gên 12, 2-3), ao qual, após os Patriarcas, foi educando por meio de Moisés e dos Profetas a reconhecê-lo como único Deus vivo e verdadeiro, Pai providente e justo juiz, e a esperar o Salvador prometido. E assim foi Deus preparando, ao longo dos séculos, o caminho para o Evangelho (DV3).
Depois de ter falado em muitas ocasiões e de diversos modos pelos Profetas, ultimamente, nesta etapa final, Deus nos falou por seu Filho (Heb 1, 1-2). Com efeito, ele enviou seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para que habitasse entre eles e lhes expusesse os arcanos de Deus (cf. Jo 1, 1-18). Jesus Cristo, portanto, Verbo feito carne, enviado como homem aos homens,3 fala a linguagem de Deus (Jo 3, 34) e consuma a obra salvífica que o Pai lhe confiou (cf Jo 5, 36; 17, 4). Eis por que ele, ao qual quem vê vê também o Pai (cf Jo 14, 9), pela plena presença e manifestação de si mesmo por palavras e obras, sinais e milagres, e especialmente por sua morte e gloriosa ressurreição dentre os mortos e, enfim, pelo Espírito de verdade enviado, realiza e completa a revelação e a confirma, atestando de maneira divina que Deus está conosco para libertar-nos das trevas da morte e do pecado e para ressuscitar-nos para a vida eterna.

A economia cristã, pois, em sua qualidade de aliança nova e definitiva, jamais passará, e não há que esperar nenhuma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. I Tim 6, 14; Tt 2, 13) (DV 4).
Pela revelação divina quis Deus manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos de sua vontade acerca da salvação dos homens, a saber, para fazer participar os bens divinos, que superam inteiramente a capacidade da mente humana.6
Este sacrossanto Concílio professa que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas (cf Rom 1, 20); mas ensina que se deve atribuir à sua revelação o fato de mesmo na presente situação do gênero humano se poderem conhecer por todos e de modo acessível e com sólida certeza e sem mistura de nenhum erro aquelas coisas que em matéria divina não são de per si inacessíveis à razão humana.

Em sua extrema benignidade, Deus tomou providências a fim de que aquilo que ele revelara para a salvação de todos os povos se conservasse inalterado para sempre e fosse transmitido a todas as gerações. Por isto o Cristo Senhor, em quem se completa toda a revelação do Sumo Deus (cf. II Cor 1, 20; 3, 16-4, 6), ordenou aos Apóstolos que o Evangelho, prometido antes pelos Profetas, completado por ele e por sua própria boca promulgado, fosse por eles pregado a todos os homens como fonte de toda verdade salvífica e de toda disciplina de costumes, comunicando-lhes dons divinos. 8 E isto foi fielmente executado tanto pelos Apóstolos, que na pregação oral, por exemplos e instituições, transmitiram aquelas coisas que receberam das palavras, da convivência e das obras de Cristo ou que aprenderam das sugestões do Espírito Santo, como também por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob inspiração do mesmo Espírito Santo, puseram por escrito a mensagem da salvação.

Mas para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os Apóstolos deixaram como sucessores os Bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo de Magistério. 10 Portanto, esta Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura de ambos os Testamentos são como o espelho em que a Igreja peregrinante na terra contempla a Deus, de quem tudo recebe, até que chegue a vê-lo face a face como é (I Jo 3, 2) (DV 7).

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